Plano de imunização contra covid trava no Brasil por escassez de doses e incerteza sobre cronograma

País, que espera receber 200 milhões de doses até julho, tem capacidade de vacinar 2 milhões de pessoas por dia, mas aplicou pouco mais de 350 mil doses diárias na última semana

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Por Giovana Girardi
Atualização:

O atraso do Brasil em contratar vacinas, a oferta a conta-gotas – com poucas doses chegando para os Estados a cada semana – e a incerteza sobre o cronograma de novas entregas, cuja previsão é alterada com frequência pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, têm impedido que o País acelere seu programa de vacinação contra a covid-19. Isso nos deixa cada vez mais dependentes de um isolamento social rigoroso para frear a circulação do coronavírus no País.

Com capacidade de vacinar 2 milhões de pessoas por dia e um programa nacional de imunização (PNI) cantado em verso e prosa como um dos mais competentes do mundo, o Brasil aplicou na última semana, em média, pouco mais de 350 mil doses por dia (entre a primeira e a segunda dose). Até domingo, 14, foram aplicadas 5,37 doses para cada 100 pessoas, ou 4,5% da população, de acordo com levantamento feito pelo site Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford.

Drive thru para vacinação contra covid-19de idosos em Osasco. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Israel, que lidera entre os países, já vacinou 108,3 pessoas para cada cem habitantes. Reino Unido vacinou 38/100. Mas não são somente os países ricos que estão à nossa frente. No domingo, o Chile já tinha vacinado 34,48 vacinados a cada 100 habitantes, à frente até mesmo de Estados Unidos e União Europeia.

O problema é tão óbvio quanto dramático: ainda não temos vacina para acelerar esse processo. Enquanto os americanos correram para comprar vacinas e hoje contam com contratos de doses suficientes para imunizar o dobro da população, e o Chile assegurou doses para mais de 240% de seus cidadãos – segundo dados levantados pelo projeto Launch & Scale Speedometer, da Universidade Duke, da Carolina do Norte (EUA) até o dia 8 –, o Brasil tem, neste momento, a expectativa de receber, até julho, se tudo der certo, pouco mais de 200 milhões de doses. 

Esse é o número que se pode estimar do cronograma mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde, considerando as previsões de compra e produção nacional da vacina de Oxford, da Coronavac e da Sputnik V (cujo contrato de 10 milhões de doses foi fechado na última sexta-feira e tem as primeiras 400 mil doses esperadas até o fim de abril). Entra na previsão também a entrega de uma parte do filão brasileiro do consórcio Covax, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em um cálculo matemático simples, seria o suficiente para vacinar cerca de metade da população – o que ainda é pouco, tendo em vista o avanço da dispersão da vírus –, mas o cenário é bem mais complexo, visto que essas previsões mudam o tempo todo e não há segurança de que essas doses realmente estarão disponíveis até lá. Seja por causa de atraso no fornecimento das doses ou do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA).

Lançamento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid no Palácio do Planalto (16/02/2020). Foto: Gabriela Biló/Estadão

Não é um problema exclusivo do Brasil. A União Europeia tem se queixado frequentemente da demora na entrega de vacinas já compradas. Mas o fato de termos poucas alternativas de fornecimento piora a nossa situação. Especialistas em imunização no Brasil se queixam especialmente da falta de previsibilidade da chegada de doses, em parte por causa de diversos anúncios por parte do governo federal que não se confirmam depois.

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No último dia 6, por exemplo, Pazuello reduziu a previsão de entrega para março para 30 milhões de doses. Até dois dias antes ele falava em 38 milhões, contando com a entrega da indiana Covaxin, que teve acordo de compra fechado antes mesmo de se saber a eficácia do produto. No dia 8, ele anunciou que chegariam entre 25 a 28 milhões de doses no mês e, no dia 10, reduziu novamente a expectativa, afirmando que, garantidas mesmo, estão entre 22 e 25 milhões de doses.

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