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Policial militar faz rondas para alertar sobre o HPV

Base de projeto-piloto do Hospital de Câncer de Barretos, Tania de Oliveira entrega kits e até convence mulheres a fazer o papanicolau

Por Paula Felix
Atualização:

Na zona rural de Barretos, a policial militar Tania Aparecida de Oliveira, de 47 anos, tem feito rondas de casa em casa com o objetivo de alertar sobre um perigoso inimigo: o HPV, vírus relacionado com o desenvolvimento do câncer de colo de útero.  Conhecida pelas mulheres da região, a cabo Tania foi convocada para integrar um projeto-piloto do Hospital de Câncer de Barretos em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, que deu apoio financeiro por meio da organização Amigos Einstein da Oncologia e Hematologia (AMIGOH). Desde fevereiro do ano passado, a policial entrega kits de autocoleta para realização de papanicolau. O objetivo é rastrear lesões no órgão causadas pelo vírus antes de elas evoluírem para um tumor.

Policial militar Tania Aparecida de Oliveira, de 47 anos, atua em um projeto-piloto do Hospital de Câncer de Barretos que realizou o rastreamento de HPV em mulheres da zona rural da cidade Foto:

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Psicóloga, Tania está há 20 anos na corporação e trabalhou com conscientização sobre exames preventivos de câncer entre 1999 e 2001. Após uma pausa, retomou as atividades em 2013. Das 7 às 18 horas, ela visita as famílias e dá orientações que nem sempre são recebidas com abertura pelas mulheres. “O maior desafio é conscientizar essas pessoas, tendo em vista seu perfil. Em geral, são de baixa escolaridade e, muitas vezes, é preciso persistência”, afirmou.

A policial militar conta que já se deparou com o caso de uma mulher que nunca tinha realizado exames preventivos. E não queria fazê-los. Com as visitas constantes, acabou aceitando. “Seu sorriso de gratidão tocou meu coração, pois sei que, por meio desses exames preventivos, muitas vidas já foram salvas. E me emociono ao pensar em cada uma delas.”

Uma das vidas salvas foi a da dona de casa Eliana Cristina da Silva Cassiano, de 44 anos, que ficou dois anos sem fazer o papanicolau. “Eu fazia todos os anos e nunca deu nada. Nem desconfiava, porque não sentia nada.” Foram diagnosticadas lesões e, na segunda-feira, ela fez cirurgia para remoção do colo do útero.

Eliana diz que ficou surpresa ao se deparar com uma policial militar atuando no projeto. “Depois que ela falou o que era, eu gostei. A gente se sente mais à vontade com uma mulher. Ela conversa bastante e é bem boazinha, explica tudo para a gente.”

Mas, às vezes, a policial também tem de enfrentar a resistência dos parceiros para a realização dos exames. O fato de ser policial ajuda. “Houve casos em que foi necessária uma abordagem específica, voltada à orientação e à conscientização do cônjuge. Acredito que a condição de policial militar acabou por dar mais credibilidade às minhas palavras.” 

Resultados.

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No projeto-piloto, que será finalizado neste mês, quase 400 mulheres foram avaliadas e 12% apresentaram a presença do vírus. A taxa de aceitação para realização do teste foi de 95,6%.

Coordenador do programa de rastreamento de câncer ginecológico do Hospital de Câncer de Barretos, Júlio César Possati Resende diz que o sucesso do projeto tem relação com a participação da policial. “As mulheres já a conhecem de longa data, porque ela faz um trabalho nas comunidades. Elas enxergam nela seriedade e responsabilidade no trabalho, é uma profissional que inspira uma confiança muito grande. Também sabemos que, se fosse um policial, um homem, não teríamos esse resultado.”

O fato de ser um teste de autocoleta também ajudou, tendo em vista que as mulheres podiam realizar a coleta do material em casa e receber a convocação para ser acompanhada por um especialista apenas se o resultado fosse positivo. Entre as participantes, duas tinham lesões consideradas precursoras para o câncer e uma tinha a doença em fase inicial.

Resende destaca que o papanicolau é de extrema importância para prevenir o câncer de colo de útero. “Esse é um tipo de câncer 100% evitável. Entre entrar em contato com o vírus e ter um câncer instalado, pode demorar dez anos."

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