Por que os desodorantes naturais estão cada vez mais populares

Embora a adaptação nem sempre seja fácil, os antitranspirantes convencionais vêm sendo trocados por opções sem ingredientes polêmicos, como alumínio ou triclosan

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Por Marina Mori
Atualização:

Quando se trata de desodorantes, o brasileiro é exigente. Não à toa. É que viver em um país tropical, como cantou Jorge Ben Jor, às vezes implica questões não tão poéticas do dia a dia. Suportar o calor e controlar o suor excessivo (além do mau cheiro que às vezes o acompanha) são algumas delas. Mas, em matéria de desodorante, não é todo mundo que pode ou quer usar os convencionais antitranspirantes, que colocam o Brasil em segundo lugar no ranking mundial dos países que mais gastam com esse tipo de produto.

É por isso que cada vez mais marcas têm apostado em versões naturais, sem alumínio ou triclosan, acompanhando uma tendência que parece ter vindo para ficar.

Desodorantes naturais demandam paciência com seu próprio corpo para se adaptar, pois não evitam a transpiração Foto: Danielle Nagase/Estadão

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A polêmica do alumínio

“Nos últimos três anos, o uso de desodorantes naturais aumentou muito”, diz a dermatologista Giovana Alcântara, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Boa parte da mudança de hábito tem a ver com a polêmica envolvendo os sais de alumínio utilizados nas fórmulas dos antitranspirantes e câncer de mama. Alguns estudos científicos encontraram resquícios do metal, assim como parabenos e outras substâncias químicas, em células tumorais. “Em outro estudo, o alumínio foi apontado como disruptor endócrino em ratos, onde agiu como hormônio estrogênio, fator preocupante para o desenvolvimento de câncer de mama”, explica a médica. 

Apesar dos indícios, a ciência se divide em classificar o alumínio como vilão ou tratá-lo como substância inofensiva. “Os resultados da literatura ainda são controversos. De qualquer forma, a Sociedade Americana de Endocrinologia defende o princípio da precaução, ou seja: enquanto não há estudos suficientes, a gente tem de minimizar a exposição”, diz Tânia Bachega, médica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem-SP) e professora da Faculdade de Medicina da USP. 

À parte da possível relação com câncer, a dermatologista levanta outros pontos de alerta, como predisposição a intoxicações e alergias. Por ser difícil dimensionar o acúmulo da substância química a longo prazo no organismo, ela também sugere precaução – seja com as versões em aerossol ou roll-on. “Vale a pena retirar do uso diário.”

Levou anos até que a estudante Vitória Carvalho Hebmüller, de 26 anos, percebesse que seu corpo não reagia bem aos antitranspirantes convencionais. Desde que começou a aplicar os produtos no início da puberdade, aos 12, sentia as axilas inflamadas de tempos em tempos, mas nunca relacionou o problema ao desodorante. 

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Vitória passou então a testar outras marcas e tipos diferentes de desodorantes naturais. O produto certeiro para ela foi uma loção de limpeza enzimática lançada no Brasil em 2019 chamada Myde. “Aplicando uma vez por dia depois do banho, durava até o dia seguinte mesmo depois de fazer atividades físicas intensas.” 

A responsável pelo desenvolvimento do produto, que recebeu em 2019 o Prêmio Atualidade Cosmética na categoria Banho e Higiene, é Erika de Figueiredo, arquiteta que não mediu esforços para achar uma solução para seu incômodo constante com o odor corporal. “Mesmo com o uso de desodorantes (mais de uma vez ao dia, muitas vezes), eu continuava transpirando com odor, o que era muito desagradável e limitante. Eu não me sentia confortável em diversas situações”, conta. 

A loção de limpeza que Erika desenvolveu com a ajuda de uma farmacêutica inibe a atividade enzimática das bactérias que produzem o mau odor. O produto não elimina a transpiração, como os antitranspirantes à base de alumínio, e tampouco age como bactericida ou fungicida, função da substância triclosan, dos produtos tradicionais. 

Transição

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Justamente por não evitar a transpiração, desodorantes naturais demandam paciência com o próprio corpo durante a transição. “Pode haver aumento da sudorese nos três a quatro meses seguintes. Depois, isso costuma se regularizar”, explica a dermatologista Giovana Alcântara.

Outro fator importante é o tipo do produto. “Nem todo desodorante natural é igual. Testamos fórmulas há mais de dez anos e a proporção, além da combinação de ingredientes, faz uma enorme diferença na performance”, diz Marcella Zambardino, co-CEO da Positiv.a, empresa de produtos ecológicos. Em 2020, a marca lançou um desodorante em bastão feito com óleo de coco, bicarbonato de sódio e óleos essenciais de lavanda e melaleuca, entre outras matérias-primas. 

No caso da marca Bioterra Cosméticos, uma fórmula mais cremosa conta com probióticos (microrganismos vivos) para ajudar no equilíbrio da microbiota e controle do odor. Além disso, substitui o bicarbonato de sódio, que pode causar reação alérgica em peles sensíveis, por hidróxido de magnésio. “O desodorante precisa ter um pH um pouco mais alcalino para combater a proliferação de bactérias e essa substância ajuda nisso”, explica Pamela Mota, idealizadora da marca.

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É normal não se adaptar a um desodorante sem alumínio?

Com certeza. O radialista Felipe Fernandes, de 30 anos, teve uma ótima experiência com um desodorante natural durante o último inverno, mas assim que a primeira onda de calor chegou a São Paulo ele percebeu que o produto não daria conta. “Infelizmente tive que abandonar o meu natureba e voltar para os desodorantes tradicionais”, conta.

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Parte da sua falta de adaptação tem a ver com a hiperidrose, que o acompanha desde a puberdade. “Tentei até botox para diminuir a sudorese, mas como é um procedimento muito caro e que não ajuda no controle (do cheiro corporal), acabei não fazendo mais”, diz Felipe. Em geral, quem costuma transpirar em excesso ou sofre com bromidrose, condição em que o suor vem acompanhado de odor intenso, pode ter dificuldades de adaptação. 

Antes de testar um desodorante natural, é preciso tomar algumas precauções. Alcântara recomenda evitar receitas caseiras pela possibilidade de alergias e queimaduras, especialmente se as misturas envolverem óleos essenciais. “Produtos naturais também podem causar problemas”, alerta a dermatologista. Na dúvida, procure recomendação médica.

PARA ENTENDER

Disruptor endócrino

“O termo se refere a uma substância química que mimetiza ou bloqueia a atividade de um hormônio”, explica a endocrinologista Tânia Bachega. Essas substâncias têm sido consideradas fatores de risco para várias condições e doenças, como infertilidade, câncer de mama e obesidade. Alumínio e parabenos, presentes na grande maioria dos cosméticos, teriam a atividade de disruptor endócrino.

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Suor

É a secreção das glândulas sudoríparas para ajudar na regulação da temperatura corporal e eliminação de toxinas. Essas glândulas são divididas em écrinas e apócrinas; enquanto aquelas estão presentes em quase todo o corpo e produzem suor aquoso, essas se concentram em regiões como virilhas, peito e axilas e secretam um suor mais oleoso, que produz mau odor ao reagir com as bactérias presentes na pele. Curiosamente, as glândulas apócrinas são ativadas também por estímulos emocionais.

Quer começar a usar um desodorante natural no lugar dos produtos tradicionais? Siga essas dicas:

  • Priorize roupas de tecidos naturais, que não abafam a transpiração.
  • Lave as axilas com mais frequência; se preciso, use lenços umedecidos ao longo do dia e depois seque bem.
  • Faça esfoliação nas axilas semanalmente.
  • Separe uma toalha para secar as axilas. Dessa forma, você evita a proliferação de bactérias.
  • Reaplique o desodorante ao longo do dia, quantas vezes for necessário.

Nas prateleiras

  • Desodorante 100% natural de lavandim e melaleuca (50g). Positiv.a. R$ 39,99.
  • Loção de limpeza para axilas (60ml). Myde. R$ 35,00.
  • Desodorante natural cremoso sem bicarbonato (60g). BioTerra Cosméticos. R$ 26,90.

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