Preocupados com queda de estoques, hemocentros brasileiros convocam doadores de sangue

Desde o início da pandemia, número de voluntários apresenta queda; saiba como participar e quais são os protocolos adotados

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Por Renata Okumura
4 min de leitura

SÃO PAULO - Diante do avanço da pandemia do novo coronavírus, hemocentros brasileiros demonstram preocupação com o baixo número de doadores de sangue. Embora cirurgias eletivas tenham sido novamente suspensas, pacientes com quadro grave de covid-19 e internados para outros tipos de atendimento de emergência e urgência dependem de transfusão.

Com estoque de O- crítico suficiente para uso em apenas dois dias, Carlei Heckert Godinho, médica responsável pelo Hemocentro da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, alerta que o cenário atual é preocupante. "Estamos com situação bem crítica de estoques e poucos doadores. A doação continua sendo necessária. Na Santa Casa, por exemplo, recebemos muitos pacientes que sofreram algum tipo de trauma, precisam de internação e dependem de transfusão de sangue, além dos pacientes com covid-19 que ficam mais de 15 dias internados UTI e também necessitam de doação", afirma.

Segundo a médica da Santa Casa, todos os tipos de sangue apresentam baixos estoques, mas o mais preocupante é o tipo O-. "A quantidade de bolsas está muito abaixo da que deveríamos ter para atender pacientes que precisam de transfusão. O O- é o mais crítico, temos para no máximo 48 horas. O que estamos recebendo de doação está sendo suficiente para uso em poucos dias. Não estamos conseguindo armazenar e aumentar o estoque. Ou seja, se não tivermos mais voluntários, poderá faltar. Os demais tipos de sangue temos para uma semana no máximo, a depender da demanda", alerta.

Preocupados com queda de estoques, hemocentros brasileiros convocam doadores de sangue Foto: Felipe Rau/Estadão

"Todos os tipos de sangue são necessários, até os mais comuns O+ e A+ , mas o O- principalmente, por ser o tipo de sangue que usamos quando não dá tempo de fazer a tipagem sanguínea dependendo do estado em que o paciente chega ao hospital", acrescenta Carlei.

Para ela, a queda de 50% no número de doadores em diversas regiões do País é resultado da pandemia do novo coronavírus. "Desde o ano passado, tivemos uma queda expressiva em todo o Brasil. Mas precisamos reforçar que a doação é importante para a sobrevivência dos hemocentros, ainda mais neste momento crítico. Embora possa parecer repetitivo, precisamos lembrar as pessoas que já doaram e recrutar quem quer ajudar", diz a médica responsável pelo Hemocentro da Santa Casa que antes da pandemia recebia em média 2,8 mil candidatos à doação. Atualmente, 1,5 mil, o que representa queda de quase 50%.

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Com apenas 50% do estoque, a Fundação Pró-Sangue de São Paulo também afirma que os casos mais críticos são de O+, O-, A+, A- e B-. Apenas estão estáveis os estoques dos tipos AB+, AB- e B-. Ainda segundo a entidade, a doação de sangue foi bem baixa nos postos de coleta na última semana. "Com o endurecimento das medidas restritivas, tudo indica que a doação deva cair ainda mais", afirma a Pró-Sangue.

Para estimular e proteger a saúde de doadores, protocolos de segurança foram adotados. A Fundação Pró-Sangue adotou medidas cautelares, seguindo orientações técnicas do Governo do Estado de São Paulo. O agendamento pode ser feito pelo link: prosangue.hubglobe.com/

Na Santa Casa, a pessoa deve fazer o agendamento pelo telefone 11 2176-7155. No momento da triagem, é mantido o distanciamento social e nas dependências do hemocentro a higienização é feita a cada saída de doador.

Outros Estados com situação crítica

Assim como instituições de São Paulo, a Fundação de Hemoterapia e Hematologia de Pernambuco (Hemope) afirma que os estoques de todos os tipos sanguíneos estão em situação crítica. "Precisamos repor os estoques sanguíneos com urgência. Este é um serviço essencial para a população, pois trata-se de uma instituição que salva vidas", alerta.

Durante a pandemia, a Hemope está respeitando todas as medidas recomendadas pelo governo para evitar a transmissão da covid-19. "Para evitar aglomerações no principal hemocentro, localizado no Recife, foi montada uma estrutura externa, com toldo, para que os usuários aguardem sua vez. À medida que o espaço interno é desocupado, as pessoas são inseridas no fluxo para o processo de doação", acrescenta.

No Recife, os candidatos podem comparecer ao Hemope Recife de segunda a sábado, das 7h15 às 18h30, inclusive aos feriados. Se o doador preferir, pode agendar a sua doação pelo 0800-081-1535. A sede fica localizada na Rua Joaquim Nabuco, 171, no bairro das Graças.

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Com a diminuição de doadores nos hemocentros de Santa Catarina, principalmente nas últimas semanas, o Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (Hemosc) reforça a necessidade de doações. Os estoques reduziram em torno de 50%. Na última semana, o tipo sanguíneo O- apresentou nível reduzido. No início do mês, estavam em nível de alerta para os tipos O- e A+.

"Acreditamos que a diminuição se deve ao agravamento da pandemia em todo o Estado. A gente se preocupa com a situação do número de doações, pois a demanda de sangue para os hospitais do Estado continua grande, inclusive para alguns pacientes com covid-19", afirma o chefe do Setor de Captação de Doadores, Silvio Antônio Battistella. "Doar sangue é seguro e seguimos todas as medidas de segurança”, acrescenta.

Conforme dados do Hemosc, antes do novo coronavírus, a entidade recebia uma média de 12,5 mil doadores mensalmente. Atualmente, o número caiu para cerca de 11,1 mil, o que representa queda de 11%, mas impacta bastante quando pacientes precisam de transfusão.

Para realizar o agendamento basta acessar o site: www.hemosc.org.br

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