Primeiro dia de vacinação de crianças em SP tem movimento intenso e pais aliviados

Pela manhã, espera pelas doses era de 30 minutos em média; até às 12h, foram aplicadas mais de 33 mil doses

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Por Leon Ferrari
Atualização:

O primeiro dia de vacinação contra a covid-19 de crianças de 5 a 11 anos sem comorbidade na cidade de São Paulo foi de movimento intenso, mas sem longas filas. Em média, os pequenos esperaram cerca de 30 minutos para receberem o imunizante Pfizer ou Coronavac. Algumas crianças usaram roupas de heróis e os pais mostraram alívio com a imunização dos filhos. 

No sábado, 22, a vacinação contra covid-19 na capital foi exclusivamente para as crianças.  Ficaram abertas as 469 UBSs, das 8h às 17h, e as 80 Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs)/UBSs Integradas, das 8h às 19h, para receber e imunizar os pequenos. Entre as 7h e 9h, o movimento nos postos de vacinação foi mais intenso. Por volta das 9h, as filas ficaram menores. 

Maria Julia, 7 anos, exibe o comprovante da primeira dose da Coronavac aplicada na UBS Vila Anglo, em Perdizes, ao lado mãe, Amanda Silva, e do pai, Jhonathan Silva 32 Foto: Werther Santana / Estadão

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“Tivemos movimento intenso em todas as unidades, mas sem grandes filas, um movimento constante”, informa a secretária-executiva de Atenção Básica, Especialidades e Vigilância em Saúde da cidade de São Paulo, Sandra Sabino. “Abrimos todas as unidades para garantir que as pessoas pudessem vacinar suas crianças sem encontrar grandes filas. Para garantir mais agilidade, mais conforto.”

Até às 12h do sábado, foram aplicadas 33.514 doses de vacina contra a covid em crianças. Foram 29.500 doses da Coronavac e 4.014 da Pfizer. Com isso, já há mais de 69 mil pequenos com ao menos uma dose na capital. Isso representa 6,4% do público infantil estimado.  

Os pais não esconderam a ansiedade. “A gente não via a hora disso acontecer, muita gente não teve essa oportunidade. Foi super tranquilo, as enfermeiras foram super atenciosas, esperamos uns 30 minutos”, conta a estudante Amanda Aparecida da Silva, de 30 anos. “Se fosse esperar duas horas, três horas, a gente esperaria também”, reforça. 

Movimentação na UBS Vila Anglo, em Perdizes, zona oeste da cidade, no primeiro dia de vacinação de crianças em São Paulo Foto: Werther Santana / Estadão

Ela e o marido, chegaram com a filha Maria Julia, de 7 anos, às 7h40 na Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Anglo Doutor José Serra Ribeiro, na Zona Oeste. Há três anos sem visitar a família em Minas Gerais, Amanda fala que a vacinação da pequena vai permitir matar as saudades. “Vamos nos sentir mais seguros para recebê-los ou ir até eles”, afirma.

Preocupação com a volta às aulas

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou, na quinta-feira, 20, o uso da Coronavac em crianças de 6 a 11 anos de idade sem imunossupressão. Isso permitiu que São Paulo ampliasse o público-alvo da campanha.

“Ontem quando li a notícia que iam liberar a partir de hoje, a gente já se programou para acordar cedo e vir. Estávamos muito ansiosos”, diz Leopoldina Solano, mãe de Maria Luiza, de 7 anos, e Bianca, 6 anos. Junto ao marido, Luciano Aparecido Solano, conta que é um “alívio” ver as meninas vacinadas.

Eles moram junto à mãe, de 70 anos, e à avó, 94 anos, de Leopoldina. Por isso, o período de pandemia foi de bastante restrição. As duas filhas só retornaram à escola depois que as duas integrantes mais velhas da família foram vacinadas em maio de 2021. “As aulas online foram desgastantes. Tivemos de nos desdobrar”, conta a mãe. 

Leopoldina, porém, conta que o retorno das meninas às aulas neste ano poderia ser mais seguro se a vacinação tivesse começado ainda em dezembro, quando a Anvisa deu aval para uso do imunizante da Pfizer. “Não tem justificativa pra essa demora, fazer consulta popular… A escola delas volta segunda-feira, as crianças já poderiam estar totalmente imunizadas. Isso traria mais confiança”, avalia. 

João, de 6 anos, ao lado da homenagem ao Zé Gotinha que estava na camiseta da mãe, Larissa, no primeiro dia de imunização de crianças sem comorbidade em São Paulo Foto: Werther Santana / Estadão

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Larissa Seguin Gurjão, técnica administrativa e financeira, de 45 anos, hesitou em mandar o filho João, hoje com 6 anos, à escola em 2021. “Ele não foi nas primeiras semanas”, fala. Quando o governo estadual abriu o pré-cadastro de vacinação para crianças, no dia 10 de janeiro, ela não pensou duas vezes em cadastrar o filho. “Já cadastrei e comprei a camiseta”, conta. Na AMA Especialidades Santa Cecília, eles chegaram com um “look” especial para o dia da vacinação. A camiseta dela trazia os dizeres “Zé Gotinha, esperança nacional” e a do filho, “Defenda o SUS”. 

Na zona oeste, Rejane Cristina Petrokas também trouxe o filho Pedro, de 6 anos, com um traje especial. Ele estava com uma camiseta do Super-Homem e uma capa vermelha nas costas. “Hoje estamos comemorando os superpoderes do SUS e da ciência”, explica a terapeuta ocupacional. Assim como os outros pais, Rejane se sentiu aliviada após ter o filho vacinado. A agulhada também trouxe esperança de que as coisas voltem ao normal. “Eu tenho dois filhos, o Pedro, de 6 anos, e a Marina, de quase 3 anos. A gente nunca comemorou o aniversário dela com pessoas”, fala. 

Por mais que alguns pequenos deixassem os postos com os olhinhos cheios de lágrimas, coragem não faltou. Victor Hugo Aparecido, de 11 anos, aproveitou o tempo na fila da UBS Dona Adelaide Lopes, na Zona Norte, para tranquilizar um amigo que estava ao seu lado. “Acabei de dizer para ele que não vai doer. Mesmo que dói, vai passar do mesmo jeito. É só não olhar para a agulha e contar até três”, explica. 

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Victor diz que os dois anos de pandemia foram “horríveis” para ele. “Eu não conseguia me dar bem nas aulas online”, fala. Ele também perdeu a bisavó, de 83 anos, para covid em 2020. “Eu era muito apegado a ela. Foi muito triste”, diz. A “bisa”, como ele chama, não chegou a ser vacinada. “Estou tomando a vacina por ela também.” O estudante conta que esperou muito pelo dia em que pudesse ser vacinado. “Para conseguir sair logo disso, para me sentir mais livre”, explica o menino. 

Assim como ele, Maria Clara Rosa, de 10 anos, também diz ter esperado “desde muito tempo” pela vacina. O medo da dor da agulhada nem passa pela cabeça dela. “Tem que ter fé, tem que acreditar na vacina”, fala a pequena. Ela foi à AMA de Santa Cecília acompanhada dos pais. A mãe dela, Fernanda Donaria Rodrigues, diz que a preocupação após a agulhada é menor, mas continua com ela. “Perdemos um pouco do medo, mas sempre tomando muito cuidado”, fala ajeitando a máscara no rosto da filha.

Movimentação na UBS Vila Anglo, na zona oeste, foi grande na manhã do primeiro dia de vacinação das crianças Foto: Werther Santana / Estadão

As crianças que chegaram à UBS Vila Anglo Doutor José Serra Ribeiro, na Zona Oeste, foram surpreendidas por um personagem bastante conhecido por elas: a Branca de Neve. Além de posar para fotos com os pequenos, a princesa trazia palavras de conforto para eles que logo receberiam a agulhada. 

Moradora da região, a atriz Lígia Bonilho, de 18 anos, quis tornar mais mágico o dia de vacinação dos pequenos. Para isso, vestiu a fantasia e por volta das 10h chegou na porta da UBS. “Vim aqui para as crianças se sentirem incentivadas e representadas”, explica. ‘Se vierem mais rápido, em uma semana conseguimos vacinar todo mundo’. 

Planos de vacinar todas as crianças

Sandra Sabino fala que a cidade tem doses suficientes para vacinar “todas as crianças”. “Agora vai depender da população. Quanto mais rápido vierem, mais rápido a gente vacina. “Se continuarem chegando em torno de 100 mil por dia, em duas semanas a gente vacina”, continua. 

Ela assegura que as unidades estão prontas e as equipes treinadas para receber os pequenos. “Fizemos a revisão de todos os fluxos de trabalho em todas as nossas UBSs. Estamos preparados para que não ocorra nenhum problema durante essa grande campanha de vacinação”, declara. 

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