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Principais cidades do RN não têm leitos de UTI vagos para pacientes com covid-19

Estado tem 1.930 casos positivos do novo coronavírus e 90 mortes

Por Luiz Henrique Gomes
Atualização:

NATAL - Com 1.930 casos confirmados e 90 mortes, o Rio Grande do Norte está com ocupação máxima dos leitos públicos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes graves com covid-19 nas duas principais cidades do Estado, Natal e Mossoró- esta a 288 quilômetros distante da capital. A informação foi confirmada nesta segunda-feira, 11, pelo secretário-adjunto da Secretaria Estadual de Saúde Pública do RN (Sesap), Petrônio Spinelli.

Coronavírus no Brasil Foto: Arte sobre foto de Alissa Eckert, MS; Dan Higgins, MAM/CDC/via REUTERS

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Segundo Spinelli, 10 pacientes estão em estado grave da doença, mas não conseguem vagas em leito de UTI ou semi-intensivo. Destes, dois foram considerados com quadro de saúde “muito grave”. “Esses dez casos precisavam estar em hospitais, em UTIs ou leito semi-críticos”, afirmou o número 2 da Sesap em coletiva de imprensa nesta segunda-feira.

Atualmente, esses pacientes estão em leitos de estabilização (com respiradores mecânicos) em unidades municipais. Por isso, o secretário-adjunto justificou que o Rio Grande do Norte não está em colapso, mas num estado de “superlotação”. “A diferença é que o colapso representa o momento a partir do qual os pacientes vão chegar em pronto-socorro e hospitais e não vai haver respiradores para atendê-los”, afirmou Spinelli.

Em Natal, todos os leitos com respiradores mecânicos de hospitais estaduais estão ocupados. As unidades hospitalares são referência para a assistência aos casos mais graves de cinco municípios da Região Metropolitana de Natal, com uma população de 1,3 milhão de habitantes, e possuem 35 leitos de UTI adultos. Com exceção da rede de saúde municipal da capital potiguar, as outras quatro cidades da região não possuem leitos de tratamento intensivo. Em Natal, a gestão municipal informou que há 5 leitos de UTI desocupados.

A situação de Mossoró, na região Oeste do Rio Grande do Norte, é mais crítica. A cidade atende a população de 28 municípios menores da mesma região, com 633 mil habitantes ao todo, e tem 37 leitos de UTI adultos reservados para casos de covid-19. Nesta segunda-feira, 35 leitos estão ocupados. Este número está perto da capacidade máxima desde o dia 23 de abril, quando os leitos da região ficaram totalmente ocupados pela primeira vez.

No dia 2 de maio, uma idosa de 72 anos, Maria de Lourdes Oliveira, faleceu após esperar mais de 24 horas por um leito de UTI na região de Mossoró. Ela foi internada com dificuldades de respirar às 8h da sexta-feira, 1, em uma unidade de saúde de Ipanguaçu, município de 15 mil habitantes distante 92 km de Mossoró e 224 km de Natal. A unidade não possuía respirador mecânico e a idosa faleceu após a Central de Regulação colocá-la em uma fila de espera de pacientes.

Maria de Lourdes morava há 1 ano em Fortaleza, no Ceará, para tratamento de anemia profunda e mielodisplasia. Ela morava com a filha e com a neta. No dia 17 de abril, voltou ao Rio Grande do Norte, onde mora o marido, por recomendação do médico que a atendia e por decisão da própria família. “A situação de Fortaleza está muito pior do em Ipanguaçu, onde o meu avô mora na zona rural, e por isso decidimos que era melhor ela voltar, mas cerca de 10 dias depois ela apresentou sintomas”, rememorou a neta de Maria, Anne Caroline Oliveira.

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Com febre e tosse, Maria procurou uma unidade de saúde pela primeira vez no dia 28 de abril e realizou o teste PCR para identificar o novo coronavírus. Três dias depois, na madrugada do dia primeiro de maio, ela retornou ao hospital com dificuldade de respirar e ficou internada em uma sala de isolamento. O teste deu positivo para o vírus no dia 4 de maio.

O médico que a atendeu solicitou à Secretaria de Estado de Saúde Pública do RN a transferência da paciente para um leito crítico por volta das 8h da sexta-feira, mas recebeu a informação de que não havia vaga. Com a piora da saúde de Maria, um novo pedido foi feito, mas a resposta foi a mesma.

A direção do Hospital Regional Tarcísio Maia, localizado em Mossoró e responsável por atender casos graves de Ipanguaçu, informou que 15 dos 17 leitos da unidade estavam ocupados no dia, mas os dois vagos não podiam ser utilizados por falta de insumo. Maria de Lourdes faleceu às 11h do sábado. “Nós esperávamos que fosse dado uma melhor assistência para ela, mas infelizmente não foi isso que aconteceu. Agora nos preocupamos com o meu avô, que teve em contato com ela e também é idoso, porque a situação pode se repetir com ele”, lamentou Anne. 

O Ministério Público do Estado abriu na última quarta-feira, 7, uma investigação criminal para apurar as circunstâncias da morte de Maria de Lourdes. Segundo o protocolo da Secretaria de Saúde, casos graves podem ser transferidos para hospitais de outras regiões que tenham leitos vagos - caso de outras duas regiões do Rio Grande do Norte. Questionada, a Secretaria de Saúde não respondeu por que isso não foi realizado.

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Para evitar o colapso nos próximos dias, a Secretaria de Estado de Saúde Pública tenta contratar leitos privados para ampliar a rede de assistência pública com maior velocidade e ampliar a rede pública. Na capital, o plano é abrir 27 leitos com respiradores mecânicos nesta semana, mas eles dependem da chegada dos equipamentos, atrasada há duas semanas. Em Mossoró, estão previstos para serem abertos esta semana 10 leitos de UTI no Hospital Regional Tarcísio Maia, cinco no Hospital Rafael Fernandes (sem leitos atualmente) e a contratação de “entre 15 a 20 leitos” no Hospital São Luiz, da rede privada.

Natal e Mossoró possuem, respectivamente, 46,5% e 45,1% da população em distanciamento social, segundo os dados compilados pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Lais/UFRN) em parceria com a Secretaria de Saúde do RN. O percentual é abaixo do mínimo de 50% esperado pelo comitê técnico formado por infectologistas e epidemiologistas na Sesap/RN.

As duas cidades estão com medidas de restrição impostas pelo decreto do Governo do Rio Grande do Norte para evitar o contágio do novo coronavírus, que cancelou aulas, fechou shoppings e obrigou o uso de máscara. Apenas os serviços considerados essenciais estão autorizados a funcionar.

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