Problemas ósseos atingem 17% dos pacientes com HIV em tratamento

Vírus nos ossos, uso de coquetel, sedentarismo e até fatores genéticos podem causar alterações

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Por Redação
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SÃO PAULO - Um levantamento do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), ligado à Secretaria de Estado da Saúde, aponta que 17% dos pacientes em tratamento contra o HIV desenvolvem algum tipo de complicação óssea. Os soropositivos chegam ao hospital encaminhados pela Casa da Aids do HC ou pelo Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo. Para atender ao crescente número de portadores do HIV, o Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) conta com um ambulatório pioneiro na América Latina, que já realizou 2.200 atendimentos e, atualmente, tem 400 pacientes fixos. Segundo a infectologista Ana Lúcia Lima, que coordena o ambulatório ao lado do ortopedista Gilberto Camanho, diversos fatores podem ser responsáveis pelas alterações osteoarticulares em pacientes infectados pelo HIV, como: presença do vírus nos ossos, uso do coquetel de tratamento, sedentarismo e até questões genéticas. "É preciso prestar atenção, pois pequenas queixas ortopédicas, se não tratadas precocemente, podem gerar graves complicações aos soropositivos", afirma a infectologista do IOT. Entre os principais problemas ósseos apresentados por aqueles que usam antirretrovirais há mais de dez anos, estão a osteopenia (diminuição da densidade mineral dos ossos), osteoporose (redução da massa óssea) e osteonecrose (gangrena dos ossos) - principalmente no quadril. Segundo a especialista, o número de casos de osteonecrose entre portadores do HIV é maior que na população em geral e, por causa do diagnóstico tardio, a única opção de tratamento acaba sendo a colocação de próteses articulares. O grupo do HC também cuida de pacientes com próteses de quadril, providas pelo Programa Estadual de DST/Aids. As cirurgias são realizadas no Centro Cirúrgico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. "As dores iniciais não devem ser relevadas, mas investigadas", ressalta Ana Lúcia, acrescentando que, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores e mais simples são as chances de tratamento. Treinamento em todo Brasil O Brasil tem cerca de 700 mil pessoas contaminadas pelo vírus da aids, sendo que menos da metade sabe que é portadora. "Antes, a doença matava muito rápido. Hoje, com a expectativa de vida prolongada, estamos conhecendo outros problemas que ela acarreta, como os ortopédicos", diz a infectologista. Para conscientizar os soropositivos sobre a necessidade de cuidar dos ossos e das articulações, médicos do IOT têm levado conhecimento a outros Estados. "Além da conscientização dos pacientes, já treinamos médicos no Rio de Janeiro, em Brasília e em outros hospitais de São Paulo, por meio do Programa Nacional DST/Aids", afirma a médica.

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