Produção de slime conquista crianças. Mas há riscos?

Exposição prolongada ao bórax, substância usada para confeccionar massinha, pode provocar lesões na pele; saiba o que fazer para evitar

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Por Isabela Palhares
Atualização:

Brincar com uma massinha feita em casa parece algo bastante inofensivo para os pais, mas até mesmo o slime – uma espécie de massa de modelar que antes era chamada de amoeba ou geleca – pode trazer riscos à saúde das crianças. Conforme a brincadeira se popularizou e novas receitas surgiram, mais relatos de pais apareceram sobre os riscos de infecção, contaminação e até mesmo queimaduras na pele.

Segundo especialistas, exatamente pelo fato de o slime ser feito em casa é que demanda vigilância. As receitas mais populares levam ácido bórico (bórax), apontado pelos médicos como responsável por queimaduras, alergias e infecções.

Laura, de 11 anos, faz sua massinha quase todos os dias Foto: Mia Bruscato

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No entanto, os médicos explicam que, apesar dos cuidados e da necessidade de supervisão, algumas crianças podem não apresentar nenhum sintoma. É o caso de Laura Bruscato, de 11 anos, que desde os 9 brinca e produz slimes quase que diariamente. Ela nunca teve nenhuma reação negativa.

“Como ela mesma faz, a única recomendação é para que use pouco bórax. Mas ela brinca o tempo todo e nunca apresentou nenhuma reação”, conta a mãe, Mia Bruscato, de 43 anos. O filho mais novo, de 3, também brinca com as massinhas feitas pela irmã e nunca teve problemas.

Segundo os médicos, a reação pode depender de predisposição alérgica, sensibilidade, tempo de exposição e da composição do slime.

Em caso de dúvida sobre o uso do brinquedo pelas crianças, a recomendação é que se opte pelos slimes industrializados. “Se é algo feito pela indústria, há uma padronização e um controle do uso de substâncias que podem fazer mal”, diz Nelson Cordeiro, alergista e imunologista do Departamento Científico de Dermatite Atópica e de Contato da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). 

Confira abaixo perguntas e respostas sobre o tema.

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1. Qual é a composição do slime?

Existem várias receitas disponíveis na internet e elas levam diversos ingredientes, como água boricada, amaciante, espuma de barbear, tinta, bórax (ou borato de sódio) e cola branca. Entre os produtos usados na fabricação caseira do slime, o bórax é o mais perigoso. Apesar de altamente tóxico, o borato de sódio pode ser comprado facilmente no comércio. A substância serve de matéria-prima para alguns produtos de limpeza, como sabão em pó e até inseticidas. Quanto mais alta a concentração do bórax, maiores as chances de reações indesejáveis. 

2. Quanto de bórax pode ser considerado perigoso?

Se o contato for esporádico, uma quantidade inofensiva para uma criança de 2 anos é cerca de uma colher de chá da substância. Na verdade, há mais risco de adoecer quando a exposição ao bórax ocorre dia após dia, seja por ingestão ou pela pele danificada. Segundo especialistas do Hospital Albert Einstein, o risco de intoxicação existe, mas é baixo. Os relatos de quem sentiu-se mal indicam que é provável que tenha havido exposição excessiva ao bórax – e não apenas uma brincadeira regular e supervisionada.

3. Quais reações o bórax pode provocar?

Segundo o médico Werther de Carvalho, coordenador de pediatria do Hospital Santa Catarina, a substância é responsável por queimar a pele das crianças. Também pode provocar irritações no sistema respiratório e nos olhos.  Existe ainda o potencial de uma dermatite alérgica ser ocasionada.

4. O que os pais devem fazer se perceberem algum desses sintomas?

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O alergista Nelson Cordeiro, da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), ressalta que o ideal é não usar o slime de fabricação caseira, dando preferência para as formas industrializadas com concentrações já testadas. Caso haja alguma reação, recomenda lavar abundantemente a região com água ou soro fisiológico gelados e procurar atendimento médico. 

5. O slime é perigoso?

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Os especialistas afirmam que a massinha mais segura é a industrializada, por ter sido submetida a testes e ter dosagem controlada. A produção caseira também pode ser segura se houver supervisão dos pais ou responsáveis e pouco uso do bórax.

6. Há alguma forma mais segura de produzir slime?

Luvas podem ajudar a evitar reações durante a manipulação, mas não são totalmente eficazes. Segundo Cordeiro, a maioria das reações adversas em crianças ocorre pelas características da brincadeira com a massinha. “Eles veem graça no slime porque são eles mesmos que fazem. Por isso, passam horas manipulando a massa. Essa combinação é perigosa: a frequência alta de exposição e a pele sensível da criança. É possível que não apresentem nada, mas as chances são altas.” 

7. Há receitas sem bórax?

Sim, ele pode ser substituído pela combinação de outros ingredientes. 

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