A Eurofarma, que acabou de fechar uma parceria com a Pfizer e a BioNTech para produzir vacinas contra a covid-19 para o Brasil e a América Latina, se tornou uma das maiores empresas de medicamentos da região nos últimos anos. A empresa, fundada em 1972, teve um bom ano mesmo durante a pandemia: alcançou faturamento de R$ 6,2 bilhões no ano passado, aumento de 16% em relação ao apresentado em 2019.
Hoje, a Eurofarma é uma das gigantes dos medicamentos genéricos no Brasil, que tiveram a comercialização liberada em 2001. Inclusive, é uma das principais vendedoras do medicamento citrato de sildenafila, o genérico do Viagra, da agora parceira Pfizer (a patente do remédio foi perdida em 2013). A abertura desse mercado foi fundamental para que diversos laboratórios brasileiros conseguissem ganhar escala e importância dentro do mercado nacional.
Antes disso, a companhia foi fazendo uma série de aquisições para se tornar uma das maiores do País. Em 1982, por exemplo, comprou o ISA, o primeiro laboratório brasileiro a produzir penicilina. Em toda a sua história, foram mais de dez aquisições. Com isso, a empresa atua na maioria dos segmentos farmacêuticos, como medicamentos com e sem prescrição médica, oncologia, veterinária e hospitalar.
O acordo assinado com a americana Pfizer faz parte dos planos internacionais da empresa, que se tornou a primeira multinacional do setor nascida no Brasil. A previsão é de que sejam fabricadas mais de 100 milhões de doses anuais, destinadas a países da América Latina. Na última década, a ordem dentro da companhia era expandir os negócios para fora do País. O primeiro passo foi dado em 2009, quando a empresa comprou a argentina Quesada Farmacêutica.
Porém, a aceleração ocorreu mesmo nos últimos anos. Em março de 2020, a farmacêutica assinou um acordo com a Hypera para comprar a antiga operação da América Latina da Takeda, por US$ 161 milhões. O negócio foi concluído em janeiro deste ano e representou a maior aquisição da empresa em valor, o que agregou ao portfólio da companhia 12 medicamentos, entre próprios e licenças, que geram US$ 38 milhões anuais em vendas.
Com a aquisição, os negócios fora do Brasil passaram a representar 20% das receitas da Eurofarma, que pretende elevar essa fatia para 30% no próximo ano. A Eurofarma atua em 20 países da América Latina e tem sete fábricas espalhadas pela região – somente três operam no Brasil. Mas o negócio com a Pfizer pode representar um início de expansão para outras regiões, na visão de consultores do setor.
“A Pfizer deve ter visto a penetração da Eurofarma na América Latina como diferencial, assim como a operação da companhia, que está na prateleira de cima do setor. Para a Eurofarma também vai ser positiva a entrada em um segmento como o de vacinas”, diz Lourival Stange, especialista na indústria farmacêutica e sócio da consultoria Solution.
O próprio consultor não enxerga como um problema a questão de a empresa não ter experiência na área. “A produção da vacina é bem similar à de remédios convencionais, com algumas poucas adaptações, e a Eurofarma vinha investindo bastante em pesquisa e desenvolvimento”, diz.
Ajuda também o fato de a Eurofarma receber diretamente o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da Pfizer. A fabricação começará no ano que vem e a produção anual poderá chegar a 100 milhões de doses quando as fábricas estiverem em plena capacidade operacional.
“Estamos disponibilizando nossos melhores recursos em capacidade industrial, tecnologia e qualidade para este projeto, para que possamos cumprir o contrato com excelência e contribuir com o abastecimento do mercado latino-americano”, disse Maurizio Billi, presidente da Eurofarma, por meio de nota.
O presidente da empresa é o filho do imigrante Galliano Billi, que fundou a empresa há quase 40 anos e faleceu em março do ano passado. Maurizio, que assumiu o negócio no início dos anos 2000, continua à frente da empresa até hoje e se tornou um dos homens mais ricos do País. Segundo a revista Forbes, é a 56.ª pessoa mais rica do Brasil, com uma fortuna estimada em US$ 1,4 bilhão. Procurada, a Eurofarma não quis se pronunciar.