Pronto-socorro de grandes hospitais se especializa em AVC

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Por Agencia Estado
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Prontos-socorros de grandes hospitais do País começam a especializar-se no atendimento do acidente vascular cerebral (AVC) para tentar reduzir o número de mortes e seqüelas da doença. Conhecido popularmente como derrame, o problema é a primeira causa de morte no Brasil. Em 2004, de acordo com o Ministério da Saúde, 90.930 pessoas morreram vítimas da doença. Os Hospitais Mãe de Deus, em Porto Alegre, e Albert Einstein, em São Paulo, já têm serviços do gênero funcionando. O da Unicamp, em Campinas, e o Sírio-Libanês, também em São Paulo, estão dando início a atendimentos similares. Segundo médicos que lidam com o problema, uma unidade especializada em AVC pode reduzir a mortalidade e os custos para o sistema de saúde em até 40%. Além disso, o atendimento pode liberar o paciente mais cedo para casa - e em melhores condições. Os especialistas afirmam que os hospitais deveriam estar tão preparados para esses casos como estão para os problemas cardíacos. Os AVCs afetam repentinamente as artérias que irrigam o cérebro. Em 15% dos casos, a artéria se rompe, ?derramando? sangue. É o chamado AVC hemorrágico. Em 85% dos casos, um coágulo ou placa de gordura entope uma artéria do cérebro, impedindo a chegada de sangue e provocando a morte da região - é o AVC isquêmico. Nos casos isquêmicos, medicamentos trombolíticos podem reduzir as seqüelas ou mesmo eliminá-las. A droga dissolve os coágulos de sangue na artéria. Mas isso deve ser feito em até três horas, período chamado de janela terapêutica. Depois, a droga perde a eficácia. Outro problema no atendimento ocorre quando pacientes são tratados com remédios para baixar a pressão - um erro que pode deixar seqüelas. Nas primeiras 72 horas após um acidente vascular, o organismo faz a pressão arterial subir para bombear mais sangue até a região em torno da área obstruída e, assim, proteger o cérebro. Pioneiro - A primeira unidade de emergência para doenças vasculares foi implantada pelo Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, em 2002. O serviço de emergência, com neurologistas e cardiologistas trabalhando junto com cirurgiões cardíacos, vasculares e radiologistas, conseguiu baixar em 30% o número de pacientes com seqüelas. ?Cada minuto é importante no tratamento?, diz Maurício Friederich, coordenador da unidade. Há dois anos, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, inaugurou um sistema de pronto atendimento parecido. Conseguiu reverter 48% dos casos isquêmicos em que foi aplicado o medicamento trombolítico, que pode reduzir os danos do AVC. A implantação do sistema, no entanto, não foi tarefa fácil. ?Normalmente o médico é um profissional com hábitos difíceis de serem mudados?, diz Miguel Cendoroglo, coordenador do serviço. O hospital da Unicamp já dá os primeiros passos no atendimento especializado. E o Hospital Sírio-Libanês há seis meses terminou o treinamento do corpo clínico para montar um esquema também inspirado no Hospital Mãe de Deus. Diferenças - Se expandidas, essas mudanças podem reverter o quadro dramático que o AVC tem no País. Segundo uma pesquisa de doutorado feita em 1998 na Unifesp pelo geriatra Karlo Moreira, 98,8% dos plantonistas não atendiam de forma adequada um AVC nas primeiras horas. Nesses casos, a diferença no atendimento está mais na forma integrada como é feito do que na composição da equipe médica. O modelo aproxima os especialistas em AVC e enfartes na mesma unidade, utilizando os mesmos equipamentos de diagnóstico e tratamento. Flávio de Souza, de 77 anos, foi surpreendido há um mês por um AVC isquêmico que paralisou todo o lado esquerdo de seu corpo. ?Caí na sala de minha casa e não conseguia levantar, nem chamar ninguém? , diz. Socorrido por seu filho, foi levado ao Albert Einstein. No hospital, foi examinado por uma equipe multidisciplinar. Constatado o AVC, recebeu a droga necessária em menos de 40 minutos. Poucos dias antes, no último check-up que fez, foi identificada uma arritmia cardíaca. Possível causa da formação do coágulo que se desprendeu da artéria do coração e foi para o cérebro. ?Eu nunca tinha ouvido falar em AVC?, afirma ele.

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