Treze universidades de Portugal suspendem aulas por causa do coronavírus

Brasileiros que estudam em locais afetados relatam como está sendo o dia-a-dia com o avanço da epidemia

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Por Mariana Hallal
Atualização:

A epidemia de coronavírus já atinge mais de 110 países e está levando governantes a tomarem uma série de medidas como quarentena de cidades inteiras, fechamento de escolas e proibição de eventos públicos. Em Portugal, país com pouco mais de dez milhões de habitantes, foram registrados 59 casos da doença, o que levou à suspensão de aulas em 13 dos 37 institutos de educação superior do país, além do cancelamento de eventos.

Em Portugal, país com pouco mais de dez milhões de habitantes, foram registrados 41 casos da doença Foto: REUTERS/Rafael Marchante

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Na Universidade do Porto, a Faculdade de Farmácia (FFUP) e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) estão com as aulas suspensas. Isso aconteceu depois de uma aluna da FFUP ser diagnosticada com a doença.

Natural de Nova Iguaçu (RJ), Juliana Lopes está fazendo intercâmbio em Medicina Veterinária no ICBAS. Ela conta que o clima da cidade do Porto está “estranho”. “Os moradores daqui aparentam estar mais contidos e as ruas estão um pouco mais vazias do que o normal”, observa. “Algumas pessoas que não tiveram as aulas suspensas têm deixado de ir à faculdade por medo”, relata.

A mudança também é perceptível no transporte público. Juliana fala que as pessoas estão evitando segurar nas barras e encostar nos assentos. As portas do metrô da cidade só abrem se o usuário apertar um botão e até este gesto está diferente. “As pessoas estão usando os cotovelos e telefones celulares ao invés das mãos para apertar o botão”, fala.

Com o avanço da doença, os mercados estão ficando cada vez mais cheios e as prateleiras, vazias. “Vi muita gente fazendo compras grandes e de produtos enlatados como feijão e atum”, conta a estudante. “As garrafas de água estão diminuindo mais rapidamente das prateleiras, mas não há produtos esgotados”, diz. Nas farmácias, já não há máscaras e álcool em gel à venda.

Além da suspensão das aulas em alguns cursos da Universidade do Porto, eventos estão sendo cancelados para evitar a aglomeração de pessoas. As festas voltadas a intercambistas foram canceladas até, pelo menos, 22 de março. Teatros e museus suspenderam eventos públicos.

A universitária compara a epidemia de coronavírus em Portugal à pandemia de gripe A H1N1 registrada em 2009. “A reação que a população está tendo é bem parecida com a que os brasileiros tiveram em 2009”, compara.

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O medo do novo coronavírus fez a intercambista pensar em voltar ao Brasil. “Conversei com os meus familiares sobre isso, mas por enquanto eu não chegaria a esse ponto. Estar aqui hoje foi um esforço muito grande de todas as partes”, fala. “Se a situação do país e do continente se tornar insustentável, é um caso a se pensar novamente”, complementa.

A Universidade de Lisboa decidiu cancelar as aulas presenciais de todos os cursos. Na capital portuguesa, o uso de máscaras pela população já se tornou comum. Quem conta é a brasileira Adriana Antonino, de 25 anos, que estuda na capital. “Eu espirrei no transporte público e já me olharam feio por isso”, relata. Ela conta também que nos mercados as prateleiras já começam a ficar vazias.

Adriana se divide entre Lisboa, onde tem aulas nos finais de semana, e a cidade de Coimbra, onde mora, no centro de Portugal. Na segunda-feira, 9, a Universidade de Coimbra anunciou um plano de contingência suspendendo todas as atividades letivas presenciais e os eventos científicos, culturais e esportivos. Foram fechados os prédios turísticos, o Estádio Universitário e o Teatro Acadêmico, o principal da cidade. “Hoje saí à rua e vi muitas pessoas usando máscaras e menos gente circulando”, fala.

A mineira Milena Anício, de 21 anos, também estuda na Universidade de Coimbra e se diz “chateada” com a suspensão das aulas. Ela observa que a atitude da universidade de cancelar todas as atividades letivas presenciais acendeu um alerta na população do município. “Já disponibilizaram álcool em gel em locais como academias, escolas e na universidade”, conta.

Para não haver prejuízo ao calendário acadêmico, Milena conta que as atividades estão sendo feitas a distância. “Alguns professores darão trabalhos para enviar pela internet. Outros farão aulas por Skype ou grupos do Facebook”, explica.

As atitudes tomadas pela Universidade assustaram a estudante. “No começo eu acreditava que ia passar rápido, mas, pelo jeito que andam as coisas, imagino que a situação vá continuar assim por pelo menos mais um ano”, projeta.

Impacto

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Quase todas as instituições de ensino superior de Portugal criaram planos para conter o coronavírus e cancelaram eventos. Algumas implementaram salas de isolamento para tratar os casos suspeitos. Além das universidades de Coimbra, de Lisboa e do Porto, as aulas foram suspensas nas Universidades do Minho, na Universidade Nova de Lisboa, na Universidade Lusíada - Norte, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, na Universidade Lusófona do Porto, no Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, na Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, na Escola Universitária Vasco da Gama, no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz e no Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes.

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