Remédios brasileiros terão rastreador para evitar falsificação

O Brasil é o oitavo mercado de remédios piratas, consumindo entre 5% e 10% da produção mundial

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Por Vannildo Mendes
Atualização:

Os medicamentos vendidos no Brasil sairão de fábrica com um rastreador que permitirá acompanhar toda sua circulação até o consumidor. A medida faz parte de um plano estratégico, acertado nesta quinta-feira, 6, entre a indústria farmacêutica e o governo federal, para combater a pirataria de remédios. A medida estará totalmente implementada em 2010, mas já no próximo ano rastreadores pilotos começam a funcionar experimentalmente. Veja também:  Programa da OMS contra falsificação de remédios (em inglês) Exposição alerta sobre perigos de produtos falsificados A idéia é desmontar, em megaoperações conjuntas da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) com as Polícias Federal e Rodoviária, quadrilhas que atuam no setor. Só no ano passado, a pirataria deu um prejuízo de mais de R$ 30 bilhões ao país em sonegação e fraudes, além de ter fechado milhares de postos de trabalho e causado danos a pacientes, sobretudo mulheres e idosos. Este ano, só a Polícia Rodoviária apreendeu 444,8 mil medicamentos falsos, quase 40% mais do que as 322 mil unidades apreendidas em todo o ano passado. O Brasil é o oitavo mercado de remédios piratas, consumindo entre 5% e 10% da produção mundial, segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). A estimativa do Ministério da Justiça é que 30% dos medicamentos comercializados no País tenham origem na informalidade. Parte é pirateada e outra parte, mesmo sendo remédio verdadeiro, é importado clandestinamente para fins de sonegação. Falsifica-se de tudo no setor, desde estimulantes sexuais a abortivos, vacinas e até remédios de tarja preta que, em vez de curar, causam danos à saúde e podem levar até à morte. "De todas formas de pirataria, essa é a mais perversa porque as pessoas não sabem que o produto é falso e pessoas estão morrendo", alertou o presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP), do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto. Ele presidiu a reunião para definição da estratégia, que contou com a presença do presidente da Anvisa, Dirceu Raposo e de representantes das Polícias Federal e Rodoviária, além do empresário Marcelo Liebhardt, diretor da Iterfarma, entidade que congrega as empresas de pesquisa farmacêutica. Será montada uma base de dados de inteligência, a ser compartilhada entre os setores público e privado, para tornar mais eficaz o combate às máfias, quase todas sediadas no exterior, mas com ramificações no Brasil. Segundo a Anvisa, os remédios mais pirateados no Brasil são os de maior valor agregado, começando pelos de combate à disfunção erétil, sobretudo Viagra, Cialis e Pramil. As fórmulas copiadas pelos piratas são de eficácia duvidosa, quando não nula e às vezes perigosas, podendo gerar danos graves, como impotência definitiva. O principal pólo distribuidor é o Uruguai, onde o produto falsificado é vendido escancaradamente nas ruas. A lista inclui ainda medicamentos proibidos no Brasil e no mundo, como o Citotec, capaz de provocar deformações permanentes e até levar à morte. Estão nela também as vacinas antigripais e os de uso continuado (linha OTC), ministrados em pacientes com doenças crônicas. Pirataria de remédio é crime hediondo, inafiançável, com pena de até 12 anos de prisão, com agravantes em caso de morte ou seqüelas para os pacientes. A lei prevê também o fechamento do estabelecimento comercial e a prisão em flagrante do proprietário do negócio e do farmacêutico. As principais máfias internacionais que abastecem o Brasil com remédios falsos têm origem em países asiáticos, como Taiwan. Pelo menos 80% do produto entra pela fronteira seca do Brasil, sobretudo com o Uruguai e o Paraguai, onde quadrilhas locais se associam a brasileiros para abastecer o País. O restante entra pelos portos e aeroportos. A Anvisa realizou 40 operações em 2007. Numa das buscas, em Campo Grande (MS), localizou até um kit falsificação. Ao chegar à fonte da fraude, os fiscais encontraram um galpão pirata com toda linha de montagem de remédios de larga circulação. O kit incluía, além do usina processadora do remédio, uma gráfica impressora de selos e caixas e o setor de empacotamento e distribuição. Tudo produzido nas dimensões do remédio original, com logotipos e bitolas perfeitos. Só que o remédio não passava de placebo, não possuía princípio ativo.

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