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Resquícios da covid-19: Entenda por que a tosse ainda não parou e quando você deve se preocupar

Especialistas alertam que qualquer quadro com duração superior a 8 semanas deve motivar uma investigação

Por Gabriela Meireles
Atualização:

Seja como um indício para um diagnóstico clínico, ou simplesmente um rastro incômodo da covid-19, a tosse continua a despertar dúvidas na população. Afinal, quando saber a hora de se preocupar com esse sintoma? E como melhorar logo? Para responder a essas perguntas, especialistas explicam a origem da tosse no corpo e até seu papel em evidenciar possíveis doenças respiratórias graves.

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Segundo Arnaldo Lichtenstein, clínico geral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), a tosse é um mecanismo de proteção do corpo. “Quando você engasga com alguma coisa, tem secreção (por exemplo o catarro provocado por uma infecção), está com água no pulmão por uma insuficiência cardíaca, tudo isso é interpretado como um fator estranho ao corpo, e que precisa ser eliminado”, explica. 

Por mais comum que o sintoma pareça, o clínico destaca que a procura por atendimento especializado não pode ser descartada. De acordo com ele, qualquer tosse com duração superior a 8 semanas deve motivar uma investigação, inclusive nos casos de pacientes que se recuperaram recentemente da covid-19. “Se a tosse for prolongada, se começar a ter uma secreção que não tinha, ou se essa secreção começou a ficar de cor mais escura (se era branca e começou a ficar mais amarelada ou verde), também é motivo para se procurar um médico”.

No que diz respeito às formas de tratamento adequadas para controlar a tosse, médica aconselha prudência:“Não dá para generalizar um tratamento de tosse”. Foto: Annie Spratt/Unsplash

Por que a tosse costuma ser resquício da covid-19?

A pneumonologista Valéria Maria Augusto, professora do departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chama atenção para o fato de que algumas pessoas infectadas pela covid-19 podem apresentar doenças prévias, crônicas, de natureza alérgica, cujos sintomas são precipitados pela nova infecção. “Ou seja, o fator da infecção viral, seja covid, influenza ou outro, foi somente um estímulo para a exacerbação dessa inflamação nas vias aéreas que ele tem, já de longa data”, detalha. 

A procura por atendimento médico nessas situações será uma decisão caso a caso. “Vai depender da intensidade da tosse, do tanto que aquela tosse está preocupando, limitando ou causando sono inadequado. Às vezes, o sintoma pode causar incontinência urinária, o que pode ser extremamente desconfortável”, afirma a pneumologista. Nesses casos, o tratamento da tosse virá para alívio do desconforto do paciente. 

No que diz respeito às formas de tratamento adequadas para controlar a tosse, a médica aconselha prudência. “Não dá para generalizar um tratamento de tosse”, afirma. “Antitussígenos, mucolíticos e expectorantes prescritos ou recomendados por tias, avós, farmacêuticos, vizinhos, na minha opinião, não são recomendáveis.” Valéria explica que é preciso saber a fundo o motivo de essa tosse estar se mantendo, algo que o tratamento superficial do sintoma não alcança sem a devida orientação médica.

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“A causa da tosse só pode ser diagnosticada com uma história clínica cuidadosa da sua sequência, como ela começou, como ela evoluiu, quais suas principais características de duração, frequência e intermitência”, diz ela.Assim, o sintoma pode ser indício tanto de uma virose autolimitada, que vai passar por conta própria em menos de duas semanas, quanto de uma pneumonia, asma, tuberculose ou até um tumor.

Estamos mais suscetíveis às doenças respiratórias?

“A resposta curta e grossa é sim”, responde a pneumologista. “O isolamento social nos protegeu de doenças respiratórias contagiosas”. Isso pode ser comprovado pela redução de aproximadamente 75% das internações pediátricas por doenças respiratórias em São Paulo somente em abril de 2020, segundo o Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).Já em Belo Horizonte, o Sistema de Internações Hospitalares (SIH) do SUS registrou redução de 28% nas internações por doenças respiratórias (fora a covid-19), nos meses de março e julho do mesmo ano.

Segundo a médica, na atual fase da pandemia, em que medidas restritivas como o distanciamento social estão sendo flexibilizadas, um novo equilíbrio entre isolamento e exposição é indispensável. Por um lado, ela reforça a importância do hábito de usar máscaras em aglomerações e em outras circunstâncias que facilitam o contágio. Por outro, ela destaca a função dessas exposições no desenvolvimento de resistências pelo corpo. “É ter a oportunidade de desafiar sua imunidade a criar anticorpos, a fabricar defesas”, finaliza. 

Causas da tosse aguda e subaguda

1 - Infecção viral do trato respiratório superior Normalmente afeta o nariz, a garganta e as vias aéreas e geralmente desaparecem em 7 a 10 dias. Os sintomas incluem garganta inflamada ou irritada, espirros, nariz entupido e tosse.

Resfriado comum: Infecção viral comum no nariz e na garganta. Pode ser provocado por muitos tipos diferentes de vírus. A condição costuma ser inofensiva e os sintomas geralmente desaparecem em duas semanas. Os sintomas incluem secreção nasal, espirros e congestão.

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Gripe: Infecção viral comum no nariz e na garganta e nas vias aéreas inferiores. É provocada pelo vírus influenza, que possui vários subtipos. A condição costuma ser inofensiva e os sintomas geralmente desaparecem em duas semanas. Os sintomas incluem dores no corpo, febre, inapetência, fraqueza, secreção nasal, espirros e congestão, tosse e produção mucosa. 

2 - Asma Condição em que as vias aéreas de uma pessoa ficam inflamadas, estreitas e inchadas, além de produzirem muco extra, o que dificulta a respiração. A asma pode ser leve ou interferir nas atividades diárias. Pode causar dificuldade para respirar, dor no peito, tosse e respiração ofegante. 

3 - Tosse crônica A tosse com duração de 3 ou mais semanas pode ser causada por uma gama de doenças, que vão desde a asma, sinusites, refluxo gastroesofágico, até a doença pulmonar obstrutiva crônica, tuberculose, fibrose pulmonar, doenças pulmonares associadas a colagenoses (artrite reumatoide, por exemplo) e o câncer de pulmão. Devem sempre motivar uma consulta médica. 

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