Risco de coagulação sanguínea pode ser até 10 vezes maior em quem teve covid do que entre vacinados

Pesquisa da Universidade de Oxford divulgada nesta quinta-feira, 15, ajuda a contextualizar os casos raros de coagulação observados em vacinados e mostra os reais riscos e benefícios das vacinas contra a covid-19

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Por Mariana Hallal
Atualização:

Um estudo divulgado nesta quinta-feira, 15, pela Universidade de Oxford mostra que o risco de pacientes diagnosticados com covid-19 apresentarem casos de trombose cerebral é cerca de dez vezes maior do que entre as pessoas vacinadas. Para os cientistas que assinam a pesquisa, isso ajuda a contextualizar os casos raros de coagulação observados em vacinados e mostra os reais riscos e benefícios das vacinas contra a covid-19.

Para a análise, os cientistas consideraram a incidência de trombose venosa cerebral e trombose da veia porta (que leva sangue dos intestinos para o fígado) nas duas semanas após o diagnóstico da covid-19. O estudo incluiu dados anonimizados de 513.284 pacientes, a maioria dos Estados Unidos, disponíveis na plataforma TriNetX, que reúne informações sobre saúde.

Incidênciia de coágulos sanguíneos é maior entre pacientes de covid-19 do que entre vacinados, segundo estudo feito pela Universidade de Oxford Foto: Miguel Medina/AFP

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Entre os registros observados, 20 pessoas apresentaram trombose venosa cerebral, uma incidência de 39 casos por milhão de pessoas. A taxa é cerca de dez vezes maior do que a observada entre as pessoas que receberam as vacinas da Pfizer ou da Moderna (4,1 em um milhão) e oito vezes maior do que a observada entre os imunizados com a vacina de Oxford/AstraZeneca (5 por milhão). 

Outros 224 pacientes tiveram trombose da veia porta após duas semanas do diagnóstico de covid, taxa de 436,4 casos por milhão. Esse índice é 9,5 vezes maior do que o observado entre aqueles que receberam as vacinas da Pfizer e da Moderna (44,9 por milhão) e 272 vezes superior ao relatado por pessoas vacinadas com o imunizante de Oxford/AstraZeneca (1,6 por milhão). 

Na população em geral, a taxa de incidência de trombose cerebral em qualquer período de duas semanas é de 0,77 por milhão, enquanto a de trombose da veia porta é de 4,1 por milhão.

A neurologista Ana Paula Peña, da Rede D’Or, diz que a covid predispõe o organismo a formar coágulos sanguíneos, especialmente dos grandes vasos, o que explica os casos de trombose cerebral e da veia porta. “O processo inflamatório da doença deixa o sangue mais grosso, o que pode levar à trombose”, explica. Ela diz que também são observados casos de acidente vascular cerebral (AVC) e de infarto do miocárdio nesses pacientes. 

“Se a vacina aumenta a chance de desenvolver trombose, essa chance é infinitamente menor do que os quadros de AVC, trombose e infarto que vemos em pacientes de covid. As pessoas não devem ter medo da vacina, mas sim de ter covid e desenvolver trombose.” 

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A trombose venosa cerebral, explica, é uma doença extremamente grave e, em muitos casos, fatal. Também pode deixar sequelas semelhantes às do AVC, fazendo a pessoa perder a visão ou ficar com parte do corpo paralisada. Já a trombose da veia porta prejudica o funcionamento do fígado, porque interrompe o fluxo de sangue que vai para o órgão.

Ana Paula alerta que os principais sintomas da trombose cerebral são dor de cabeça súbita e muito mais intensa do que a habitual, alteração visual, desmaio, crise convulsiva e confusão mental. Nesses casos, é recomendado procurar um pronto-socorro imediatamente.

Entenda

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Nas últimas semanas, casos de coagulação sanguínea relacionados às vacinas contra a covid-19 surgiram em diversos países. Os primeiros estavam ligados ao imunizante de Oxford/AstraZeneca e mais recentemente surgiram casos possivelmente vinculados às vacinas da Pfizer, da Moderna e da Janssen — ainda em investigação. 

Depois de várias análises, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) confirmou a relação dos casos com o imunizante de Oxford, dizendo que esse efeito colateral é muito raro. A agência e a Organização Mundial de Saúde (OMS) destacaram que o benefício da vacina é muito superior ao seu risco e que ela pode continuar sendo administrada.

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