Rússia resgata protagonismo espacial em plena crise no setor

Meio século depois da façanha do primeiro cosmonauta da história, as naves pilotadas Soyuz assumiram novamente a liderança na corrida espacial

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Por Redação
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MOSCOU - A Rússia recuperou seu protagonismo na corrida espacial graças à aposentadoria dos ônibus americanos, mas não conseguiu contornar a crise em seu programa de lançamentos, que com repetidos erros colocaram em dúvida sua capacidade de abastecer a plataforma orbital.

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"As Soyuz são absolutamente confiáveis. Não deixamos de evoluir. As naves russas garantem todas as necessidades da Estação Espacial Internacional (ISS)", assegurou Vitali Davidov, subdiretor da agência espacial russa (Roscosmos).

Meio século depois da façanha do primeiro cosmonauta da história (1961), Yuri Gagarin, as naves pilotadas Soyuz assumiram novamente a liderança na corrida espacial, enquanto os Estados Unidos replanejam suas ações e a China avança sozinha.

"É verdade que não teremos revezamento durante vários anos, e isso é uma grande responsabilidade. No entanto, contamos com 30 Soyuz e cargueiros Progress em funcionamento ou em construção", disse Davidov ao responder a alguns especialistas americanos sobre o risco de que as naves russas não tenham nos próximos anos uma alternativa em suas viagens à estação espacial.

As Soyuz - que passaram por duas catástrofes com mortes em 1967 (em seu primeiro voo tripulado) e 1971, nas quais morreram quatro cosmonautas -, não registraram nenhum acidente grave desde o fim da URSS, em 1991. Porém, 14 astronautas americanos morreram nas explosões das naves Challenger (1986) e Columbia (2003).

No entanto, tudo mudou com o acidente sofrido no final de agosto pelo cargueiro Progress 12-M, que explodiu pouco depois de sua decolagem, justamente quando dependiam totalmente dessas naves o funcionamento da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).

Apesar de se tratar do primeiro acidente em mais de 30 anos de história das Progress russas, um clima de inquietação se estendeu por Rússia, Nasa e a própria plataforma orbital, que tinha então seis astronautas.

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A Agência Espacial Russa, por sua vez, desmentiu que o acidente colocaria em perigo a vida na estação espacial. Porém, por precaução, a Roscosmos suspendeu os lançamentos das Soyuz e mudou todo o calendário de voos para os próximos meses.

Além dessa perda, a Roscosmos, em dezembro de 2010, perdeu três satélites do sistema de navegação orbital russo GLONASS, similar ao modelo americano GPS, o que custou o cargo do chefe da Roscosmos.

A estação interplanetária automática Fobos-Grunt, possivelmente a primeira a pousar na superfície de uma das luas de Marte para coletar pó marciano, foi lançada no dia 8 de novembro, mas não conseguiu sair da órbita terrestre.

Até o momento, os especialistas não conseguiram restabelecer contato com a estação, que iria estudar a matéria inicial de sistema solar e que poderia cair sobre a Terra no próximo ano.

A opinião de Igor Lisov, diretor da revista "Notícias de Cosmonáutica" é de que a estação foi projetada e construída com graves defeitos.

Lisov explicou que, entre 1991 e 2007, o programa espacial russo "teve um financiamento estatal abaixo do mínimo de subsistência" e, por isso, o recente aumento de investimento não será notado na qualidade do trabalho dentro dos próximos cinco anos.

"O envelhecimento dos especialistas e das equipes, o fim da produção de alguns componentes e a interrupção do trabalho em certos campos da cosmonáutica são consequência desta falta de investimento", acrescentou.

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Após numerosos atrasos e meticulosos testes, a Rússia retomou os lançamentos das Progress no final de outubro com carga vital para os astronautas da ISS, o que foi recebido com alívio por todo o mundo.

Com a confirmação de que o foguete portador Soyuz-U funcionou com normalidade, a Soyuz TMA-22 foi lançada com três tripulantes a bordo, que se acoplaram à plataforma em novembro, o que restabeleceu a normalidade na plataforma orbital. 

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