PUBLICIDADE

Santa Casa vai cortar 10% da folha de pagamento para continuar a funcionar

Novo provedor diz que as demissões são necessárias diante de uma dívida herdada de R$ 800 milhões; diretores deverão fazer lista de cortes, que serão definidos até novembro. Redução de estrutura deixou funcionários ociosos e sindicato sugere PDV

Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli
Atualização:

Quase três meses após assumir o comando da Santa Casa de São Paulo, a nova gestão do complexo finalizou um plano de reestruturação que prevê o corte de 10% da folha de pagamento, hoje na casa dos R$ 60 milhões. Eleito em junho para o cargo de provedor, o médico José Luiz Setúbal informa que as demissões serão necessárias para que a entidade continue em funcionamento diante da dívida de quase R$ 800 milhões deixada pela antiga administração.

A direção ainda não definiu quantos dos 11 mil funcionários da instituição serão dispensados. Na segunda-feira, os cerca de 40 chefes de departamento da Santa Casa foram convocados para uma reunião com a provedoria e informados sobre a necessidade do corte. Cada gestor terá de apresentar uma sugestão de redução de gastos para o provedor nos próximos 15 dias. A quantidade de demitidos deverá ser definida até novembro.

A quantidade de demitidos deverá ser definida até novembro Foto: Thiago Queiroz/Estadão

PUBLICIDADE

“Colocamos uma meta, mas ela não é linear. Sabemos que alguns departamentos não vão conseguir atingir esse índice e outros podem superá-lo. Não posso impor uma decisão porque são os gestores que conhecem melhor a realidade do departamento”, disse Setúbal.

De acordo com o provedor, a entidade tem hoje funcionários ociosos por causa da redução da estrutura da Santa Casa. Antes do início da crise financeira, no ano passado, a Santa Casa administrava 39 unidades de saúde. Hoje, ela cuida de apenas sete.

“Estamos pagando para alguns funcionários ficarem em casa. Temos de readequar o RH à nova estrutura”, diz. Setúbal afirma que a área que deverá ser mais atingida é a administrativa. “O nosso custo com o pessoal administrativo é de 33%, quando deveria ser de 10% a 12%”, afirma o provedor.

Sindicato. Diretor do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde de São Paulo (SinSaudeSP), que responde pelos funcionários do setor administrativo, Edgar Veloso afirma que a categoria fez propostas à provedoria para minimizar os efeitos das demissões. “O sindicato sempre será contra a dispensa de funcionários, mas, pelo que a provedoria nos apresentou, é uma situação inevitável. Muitos trabalhadores vindos de unidades fechadas foram absorvidos pelo hospital central, sem ter função definida”, diz. Segundo Veloso, entre as propostas feitas pelo SinSaudeSP à direção da Santa Casa está a adoção de um programa de demissão voluntária (PDV).

A Associação Médica da Santa Casa disse que ainda não tem uma posição sobre as demissões. A entidade tem reunião agendada para o próximo dia 9 com o provedor para debater o plano de reestruturação. A reportagem não conseguiu contato com o Sindicato dos Médicos de São Paulo na noite de ontem.

Publicidade

Outras medidas. Setúbal explica que o corte na folha de pagamento não é a única medida definida no plano de reestruturação para diminuir despesas. “Precisamos reduzir os gastos em R$ 10 milhões por mês. Serão R$ 6 milhões na folha de pagamento e outros R$ 4 milhões com medidas como revisão de contratos e controle maior de compras”, relata. Apenas com a mudança do contrato da empresa de segurança, o complexo passou a economizar R$ 1 milhão por mês, de acordo com o provedor.

A Santa Casa iniciou ainda a implementação de um sistema informatizado de compras e controle de gastos. Até o primeiro semestre do ano que vem, todo o complexo estará informatizado, segundo a direção. A entidade também está em um processo de renegociação das suas dívidas com os bancos e fornecedores.

Superintendente. Como parte da mudança na gestão, Setúbal decidiu substituir o superintendente da entidade. O médico Irineu Massaia, que ocupava o cargo desde setembro do ano passado, foi dispensado em julho e retornou para a função de chefe de um dos departamentos médicos. O nome do novo superintendente deverá ser anunciado nas próximas semanas.

Levantamento da nova gestão da Santa Casa mostra que o Hospital Central, no centro da capital, principal unidade médica da instituição, já reverteu a queda no número de atendimentos registrada no ano passado, quando houve o agravamento da crise financeira da entidade.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Desde maio, o hospital passou a fazer mais atendimentos do que no mesmo período no ano passado. Em julho, último dado disponível, a unidade de saúde fez 316.860 procedimentos, entre consultas, exames, cirurgias e partos, entre outros procedimentos. No mesmo mês do ano passado, foram 263.205 atendimentos. A alta é de 20%.

A única área que segue com produção mais baixa do que no ano passado é a de cirurgia. Em julho, foram 2.338 operações no hospital central, ante 2.946 no mesmo mês de 2014. Por outro lado, o número de exames passou de 180.099 para 215.617 e o de atendimentos ambulatoriais subiu de 31.833 para 41.444 no mesmo período.

Para José Luiz Setúbal, provedor da Santa Casa, a entidade terá de renegociar os contratos com o Sistema Único de Saúde (SUS) para priorizar atendimentos de alta complexidade. “Vamos continuar com todos os setores, mas temos de priorizar procedimentos complexos, porque os simples podem ser feitos em outras unidades.”

Publicidade

Hospital particular. O provedor disse que a adoção do plano de reestruturação já permitiu que as duas unidades do Hospital Santa Isabel, que pertencem à Santa Casa e atendem pacientes particulares e de convênios médicos, deixassem de dar prejuízo. “Quando assumimos, o hospital estava com 30% de ocupação e conseguimos aumentar esse índice para 70%. Antes, o déficit mensal era de R$ 4 milhões; em setembro, já zeramos esse déficit e, no mês que vem, vamos conseguir ter lucro.”

De acordo com Setúbal, a receita extra gerada no hospital particular vai ajudar a cobrir o déficit nas unidades que prestam atendimento ao SUS. “A Santa Casa funcionava como caixa d’água cheia de furos. Tinha muitos focos de ineficiência. A medida que formos melhorando a gestão, vamos tapando esses furos”, completa o atual provedor. O Estado procurou o ex-provedor da Santa Casa Kalil Rocha Abdalla, mas não o localizou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.