SC: secretário vê 'colapso' um dia após Estado atingir 99% de ocupação de leitos; 84 esperam UTI

Governo fecha casas noturnas e de espetáculos e vai buscar vagas na rede particular

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Por Fábio Bispo
Atualização:

FLORIANÓPOLIS - “Preciso informar a todos que a situação da pandemia deteriorou no Estado todo e, a exemplo do que acontece nas regiões mais a Oeste, estamos entrando em colapso!”. A mensagem assinada pelo secretário de Saúde de Santa Catarina, André Motta Ribeiro, foi repassada aos gestores dos hospitais na manhã desta quinta-feira, 25, um dia depois do Estado atingir 99% de ocupação dos leitos adultos por causa da pandemia de covid-19.

Santa Catarina vive o pior momento da pandemia. O número de novos casos cresceu exponencialmente nas últimas semanas e, até a tarde desta quinta, havia apenas dois leitos de UTI disponíveis. Segundo a secretaria, outros 84 pacientes aguardavam na fila da central reguladora por uma vaga na UTI. O relato de profissionais na linha de frente é de cenário de guerra, com unidades improvisando espaços nas unidades para o atendimento e utilizando equipamentos de backup (aqueles ficam na retaguarda para substituição em eventuais problemas) na falta de materiais.

O secretário de Saúde de Santa Catarina, André Motta Ribeiro Foto: Doia Cercal/ Secom

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Em ofício à secretaria no início da semana, a direção do Hospital Governador Celso Ramos (HGCR), principal unidade da capital e que está com 100% dos leitos ocupados. Também informa que precisou adaptar equipamentos do centro-cirúrgico para entubar pacientes além da sua capacidade máxima na emergência geral. “O cenário é caótico, a capacidade de atendimento do HGCR está acima do seu limite, implicando em incapacidade de atender às demandas que progressivamente tem chegado aos nossos serviços de emergência”, relata a direção.

“Em uma UTI, com pacientes intubados, problemas em algum equipamento sem reposição podem significar óbitos. Complicado isso. Sacrificar o backup é jogar com a sorte”, contou um profissional de Saúde, que não quis se identificar. 

Governo decreta novas medidas de restrição

Na noite de quarta-feira, 24, o governador Carlos Moisés (PSL) editou novo decreto com medidas de isolamento. Mas as restrições foram consideradas insuficientes por especialistas. Entre as restrições, que valem por 15 dias, fica proibida a abertura de casas noturnas e casas de espetáculos. As demais restrições preveem: proibição da venda de bebidas em postos de combustíveis e lojas de conveniência da meia-noite às 6h; e limitou em 50% a ocupação no transporte público. Academias, piscinas de uso coletivo, shoppings e centros comerciais, por exemplo, podem funcionar das 6h à meia noite.  Bares, eventos sociais e feiras podem funcionar no mesmo horário com limite de ocupação em 25%.

Na quarta-feira, o Estado bateu o recorde de pessoas com vírus ativo, 38 mil infectados. O número de mortes também disparou, foram 1.202 mortes registradas desde 1º de janeiro, praticamente 20% de todas as 7.114 mortes registradas desde o início da pandemia.

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Rede privada diz que “desassistência é real e iminente”

O governador Carlos Moisés anunciou nesta quinta-feira abertura de mais leitos e disse que o Estado tem R$ 600 milhões para ativar leitos de UTI na rede privada. Mas na rede particular a situação também é crítica, próxima do colapso. No boletim diário de internações do Hospital Baía Sul, maior de Florianópolis, o diretor Sérgio Marcondes Brincas emitiu mensagem alertando que a demanda por atendimento médico e internação não para de crescer, “colocando em risco a assistência integral a todos que necessitam de atendimento”. Brincas diz que há “extremo risco e a probabilidade de desassistência é real e iminente”.

Já o médico Rovani Camargo, da Unimed de Chapecó, também privado, declarou:“Ontem chegaram muito mais pacientes do que tivemos capacidade de alta e vazão e hoje não foi diferente. Estamos procurando vaga no Brasil todo. Quando acha que não tem transporte, ou não tem condição de transporte. Isso é colapso”, declarou o médico Mario Goto, diretor hospitalar da Unimed. durante coletiva online na tarde desta quinta-feira. O diretor de marketing do hospital, médico Rovani Camargo, disse que se não houver “colaboração” terá que se escolher “quem vive e quem morre”.

Em fevereiro, a Secretaria de Saúde catarinense transferiu 126 pacientes da região de Chapecó, no oeste, para outras unidades do Estado. A Federação Catarinense adiou a partida entre Avaí e Chapecoense, em Chapecó, prevista para domingo, 28, por falta de ambulâncias para ficar à disposição dos jogos.

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