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‘Só não podem me acusar de omisso', diz Bruno Covas sobre combate à pandemia em SP

Prefeitura já recebeu 33 propostas para fechar acordos de reabertura e prazos devem ser anunciados até quinta; prefeito diz que capital pode retomar restrições caso aumente nº de casos

Por Bruno Ribeiro
Atualização:

A Prefeitura de São Paulo já havia recebido na segunda-feira, 1,  33 propostas de representantes do comércio, de serviços e setores como clubes esportivos, associações estilistas e cosméticos, para fechar acordos sobre como deverá ser a reabertura da cidade, que ele afirma ser controlada. “Não é abrir de qualquer forma”, disse em entrevista ao Estadão o prefeito Bruno Covas (PSDB). Ele evitou dar data para a retomada de cada setor, dizendo que esses prazos devem ser anunciados até quinta-feira. Segundo o plano de reabertura gradual do governo estadual, a capital já está na fase 2 de flexibilização, em que é possível reabrir shoppings e lojas. 

Covas também comentou os protestos desse domingo. Ele afirma ver “com muitos bons olhos” as pessoas defenderem a democracia. Sobre as eleições do fim de ano, diz ainda não ter conseguido tempo para se dedicar à campanha. 

Bruno Covas espera contar com os próprios setores para autorregulação Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Nesta segunda (ontem), a Prefeitura começou a receber propostas de reabertura. Como tem sido o processo?

A Secretaria Municipal do Trabalho recebeu 33 propostas, entre várias associações, e às vezes tem até gente que manda algo como ‘olha, quero reabrir, qual é meu desconto de IPTU’. Então hoje (segunda-feira), a gente já começou a analisar. Alguns setores que já estavam autorizados a abrir, como farmácias, supermercados, também apresentaram suas propostas de protocolo. 

Farmácias e supermercados também podem ter mudanças?

Sim. A gente discute com eles.

Na quinta-feira serão anunciadas datas de reabertura?

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Quinta a gente deve fazer o balanço e talvez já consiga dar algumas datas das assinaturas.

Mas há expectativa de aberturas já na semana que vem?

Calma. A expectativa é de fazer com a maior tranquilidade do mundo. 

Como o Município fiscalizará? 

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A gente continua com a fiscalização de agentes da Vigilância Sanitária e subprefeituras, e a ideia desses protocolos é também chamar o setor para autorregulação. Se a cidade voltar aos níveis da fase 1, sai da fase 2 e aquilo que está autorizado a abrir volta a ter de ficar fechado. Ninguém mais interessado que permaneça nessa fase 2 do que os próprios setores. 

Mas o que a Prefeitura irá fazer? O infrator vai ser fechado?

Pode ser fechado, como já é fechado hoje quem está aberto sem as regras. Mas o setor pode ajudar levando informação. Às vezes, tem uma pequena loja que não tem informação. (Pode ajudar) credenciando aqueles que estão com boas práticas, com selo de boas práticas, punindo quem é associado dele, e dentro do estatuto tiver essa possibilidade de punição, e apontando para a Prefeitura quem é que precisa receber fiscalização. 

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Com o aumento de circulação, a doença pode se espalhar mais. De quem será a decisão de, eventualmente, voltar de fase? Prefeitura ou governo estadual?

O Estado já deu os critérios. O próprio governo do Estado prevê que isso possa acontecer, ao dizer que você pode avançar para fase 2, como pode retroceder para a 1. Faz parte do plano. E isso está acontecendo em todo o mundo. A Coreia, que tinha reaberto, voltou a fechar algumas atividades. Se, com a reabertura, ou com a ida para a fase 2 ou 3 alguns índices piorarem, volta para a fase anterior. Isso vai ser automático e vai por revisão semanal. 

Esses respiradores eram aguardados desde a semana passada. Não chegaram?

Chegam, são validados, você não faz isso em alguns minutos. Mas rapidamente, em menos de uma semana, você transforma um leito de enfermaria em leito de UTI. 

Como essas necessidades foram se apresentando? Quando São Paulo entendeu o que estava por vir? 

Em janeiro, a gente estava conhecendo o vírus. Muitos infectologistas em janeiro diziam "olha, talvez nem chegue no Brasil, porque é um vírus de inverno”. Não só chegou como você vê os principais lugares afetados, como Belém, Manaus, são muito mais quentes do que São Paulo. Lá do início, já se mostrou que a preocupação central seria com a ampliação de leitos, para que a gente não tivesse aqui, como chegou a ver cenas em outros locais, que é muita gente indo (ao hospital) ao mesmo tempo e você tendo de escolher quem era atendido ou não. Foi nossa preocupação central. A escolha não era vamos ou não fazer. Era de que forma fazer isso. E aí começamos a estudar, a questão jurídica de se decretar situação de emergência, estado de calamidade, para não ter de enfrentar todos os prazos que a legislação coloca.

Já era momento de falar nisso (reabertura)? A taxa de novos casos ainda está crescendo. 

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Já, porque a gente atingiu uma Rt (taxa de transmissão, ou o número de pessoas que um doente irá infectar) de 1 na cidade, o Rt referência quando se fala em reabertura. Conseguimos ampliar em mais de mil leitos de UTI e este fim de semana chegarão 380 respiradores. O fôlego que ganhamos foi para que o sistema de saúde pudesse ser reforçado, para reabrir com a devida cautela. 

Há até duas semanas, o que vinha da Prefeitura eram sinais de que seria preciso lockdown. Depois, houve abertura. A tendência da pandemia não mudou no período. O que mudou?

Mudou a partir do momento que o secretário de Saúde nos trouxe dados que mostravam que a cidade tinha atingido certa estabilidade e que era possível discutir reabertura. Tudo o que a gente fez foi seguindo a orientação da secretaria. 

Houve algum peso sobre a adesão ou não da população (à quarentena)?

Não. Você não pode fazer pesquisa num momento como esse. Imagina se eu fosse fazer pesquisa para ver se fecha ou não os parques municipais, fecha ou não o comércio, faça ou não o rodízio. Não dá para fazer dessa forma. Você faz aquilo que a área da saúde diz para fazer e explica para as pessoas que está fazendo de acordo com a orientação técnica.

Já há conversas internas sobre a retomada das aulas? 

Nesta semana, o secretário Bruno Caetano está conversando com o secretário (estadual) Rossieli (Soares) e a gente quer ver se, junto com o governo do Estado, consegue dar uma data comum entre Estado e município.

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Mas se imaginam mudanças? Salas menores ou outros protocolos?

Ainda estão verificando de que forma fazer isso. 

Houve atritos com a gestão (João) Doria, como a fiscalização do uso de máscaras e o rodízio. Como está a relação?

As pessoas do entorno adoram botar divisão na minha relação com o governador. Mas a gente tem tido excelente relação. Por mais que a equipe técnica possa divergir em um ou outro detalhe, Prefeitura e Estado têm trabalhando conjuntamente desde o início da pandemia. 

Houve algum favorecimento do governo à capital no processo de abertura, pelo fato de ela ter sido separada da Grande São Paulo?

Acho que não. Quem fez um pleito oficial de dividir a grande São Paulo foram os prefeitos e o governo do Estado atendeu. Não houve privilégio.

O senhor teve de fazer recuos, com a questão do bloqueio de vias, do rodízio. Que lição tira?

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Estamos atravessando uma pandemia sem manual. Vamos sair de uma pandemia sem ter manual de como se sai de uma pandemia. Tudo aquilo que estava à disposição, resolvemos implementar. Podem me acusar de qualquer coisa, só não podem me acusar de omisso. Tudo que esteve a nosso alcance, a gente tentou fazer. Grande parte das ações, as pessoas colaboraram e entenderam a necessidade. Algumas não surtiram efeito desejado, o efeito necessário. O rodízio aumentou a taxa de isolamento na cidade de São Paulo, só que foi um aumento pequeno para o sacrifício que exigia da população. 

A reabertura, em fases, vai durar, se tudo der certo, ao menos dois meses. Como o senhor vê São Paulo em três meses?

Espero que em situação melhor do que a gente está hoje, da mesma forma que, hoje, estamos em uma situação melhor do que três meses atrás, quando muitos falavam em 110 mil mortos no Estado.

Conseguiu de alguma forma trabalhar na campanha?

Quase nada. Você imagina parar o enfrentamento a uma pandemia para reunir com partido para falar de eleição. Seria um escândalo, né? Então, quem sabe agora a gente começa a retomar as conversas, que haviam se iniciado em janeiro e passaram por fevereiro, mas acabaram suspensas em março.

E a definição de quem será seu vice?

Não se sabe nem quando vai ser eleição, como vou saber o nome do vice?

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Como vê seus adversários? Recentemente, o PT escolheu Jilmar Tatto. Muda algo na sua campanha?

Tem vários candidatos colocados. A Joice Hasselmann pelo PSL, o Felipe Sabará pelo Novo, o Andrea Matarazzo, pelo PSD, o Márcio França, pelo PSB, são vários nomes colocados que devem entrar na disputa. Adversário a gente não escolhe. Toda as outras candidaturas, vão vender um sonho para a cidade. Vamos vender uma realidade. Mostrar o que foi feito em quatro anos e porque a gente quer continuar à frente da Prefeitura por mais quatro.

O que mudou na sua forma de ver a cidade? De que forma a pandemia vai impactar São Paulo nos próximos quatro anos?

A pandemia, de certa forma, escancarou a divisão social que temos na cidade. A pandemia mostrou quão grave que é o problema habitacional que temos. Às vezes, tem oito, dez, 15 pessoas vivendo em um local de 20 m², 30 m². O quão grave é a diferença de visão entre aqueles que podem pagar um plano de saúde e ter acesso ao hospital privado e aqueles que dependem exclusivamente do SUS. A pandemia escancarou essa divisão social que temos e que muitas vezes passa despercebido. (A doença) mostra o quanto é importante o governo focar sua atuação em diminuir distância social e focar nos mais vulneráveis. Se isso tivesse sido feito no passado, talvez nesse momento a gente não teria números que mostram que o vírus é dez vezes mais mortal na periferia do que no centro de São Paulo. 

Os atos recentes do presidente Jair Bolsonaro podem influenciar de que forma a campanha de um candidato apoiado por ele?

Não sei. Difícil avaliar, não sei até quando vai essa crise política que o Brasil atravessa, e é difícil saber o quanto vai influenciar no resultado eleitoral desse ano, como também é difícil saber como a gente vai estar com essa pandemia no momento da eleição e o quanto a própria pandemia também vai influenciar no resultado esta eleição. 

A eleição terá de atrasar?

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Não dá para escolher. O que o Congresso determinar, a gente disputa.

Como vê os protestos pedindo democracia e a organização da sociedade em torno do tema?

Quanto mais as pessoas participarem, melhor. Democracia não é um ato que requer que a pessoa vote de dois em dois anos. Requer participação, cobrança, permanente presença. Desde que não haja, claro, conflito entre quem é a favor e contra, e aqui em São Paulo temos locais suficientes para abrigar todo tipo de manifestação - não precisa todo mundo escolher a Avenida Paulista. Mas quanto mais as pessoas puderem mostrar que entendem a importância de um bem que foi difícil de ser conquistado, a democracia, e que a manutenção da democracia é defesa que vai muito além de qualquer partido político, melhor. Então, vejo com muitos bons olhos. São Paulo sempre foi palco de grandes manifestações. Foi assim nas Diretas Já, no impeachment do Collor, no impeachment da Dilma, no Lula Livre, ou seja, as pessoas vão para a rua para se manifestar e quanto mais, melhor. Vejo com muitos bons olhos que as pessoas possam sair de casa, se manifestar, bater panela, fazer qualquer tipo de manifestação livre e independente.

Por fim, como está sua saúde?

Estou bem, graças a Deus. Já fiz cinco sessões de imunoterapia. Depois da terceira, os resultados dos exames mostraram que o câncer que havia sobrado não havia diminuído ainda, mas os resultados do metabolismo indicavam que ele iria diminuir. Eu, alguns dias, passei mal. Tive suspeita de coronavírus e aí fui internado durante dois dias. Acabou não sendo nada, mas fiz nova tomografia. Essa nova tomografia já mostrou uma redução do câncer nos linfonodos. Então, daqui a duas semanas,  passo pela sexta sessão e, três semanas depois, passo por uma nova bateria de exames.

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