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Rio descarta usar estoque de 2ª dose para manter calendário de vacinação contra covid

Na semana passada, a prefeitura anunciou a suspensão da vacinação por falta de imunizantes

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - Ao lado do secretário de Estado de Saúde do Rio, Carlos Alberto Chaves, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, descartou nesta quarta-feira, 17, a possibilidade de usar vacinas que estão armazenadas para evitar a suspensão da campanha de imunização contra a covid-19 na capital fluminense. De acordo com ele, esse estoque serve para garantir a segunda aplicação em pessoas que já receberam a primeira dose. 

Pelo cronograma original, seriam vacinadas nesta quarta-feira as pessoas de 82 anos de idade. Na semana passada, a prefeitura anunciou a suspensão da vacinação por falta de vacinas.

A prefeitura do Rio anunciou a suspensão da vacinação na semana passada por falta de imunizantes Foto: Wilton Junior/Estadão

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Os estoques ficam com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), que recebe as doses do Ministério da Saúde. A SES distribui aos municípios. Para evitar que pessoas que tomaram a primeira dose fiquem sem a segunda - o que poderia tornar a primeira dose inócua -, a pasta estadual distribuiu mais ou menos a metade do que recebeu.

Esta semana, a prefeitura do Rio começou a aplicar as segundas doses. Soranz, o secretário municipal, chegou a aventar, publicamente, a possibilidade de usar o estoque de segundas doses para seguir com a vacinação das pessoas que ainda não tinham sido contempladas, diante da sinalização de que chegarão novas doses.

Chaves descartou essa saída. “Não vou distribuir a segunda dose”, afirmou o secretário estadual, em entrevista coletiva conjunta com Soranz para comentar a identificação de variantes do novo coronavírus no Rio. 

“Não tive sequer uma notificação oficial ou oficiosa de chegada de novos imunizantes. Se distribuir, vamos perder a primeira dose de quem já tomou. É contrário ao PNI (Programa Nacional de Imunização) e ao cidadão”, completou Chaves.

“A decisão foi não antecipar a segunda dose, a não ser que o Ministério da Saúde tenha alguma confirmação (da entrega de novas doses)”, afirmou Soranz, que rebateu a avaliação de que houve atrasos no cronograma de vacinação da capital fluminense. 

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Segundo o secretário municipal, a prefeitura do Rio “acelerou” a vacinação e estava à frente da maioria das capitais do País. Conforme dados da prefeitura, 260.584 pessoas foram vacinadas na capital fluminense, entre profissionais de saúde e pessoas com 83 anos ou mais.

Variantes no Rio

Um dia após o Ministério da Saúde anunciar que foi notificado, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sobre a identificação de mais três casos da variante P.1 do novo coronavírus na capital fluminense, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio informou que ainda não é possível determinar se as transmissões ocorrem localmente ou se foram importadas de outros Estados. 

Segundo Chaves, a expectativa é que a investigação epidemiológica, com rastreamento da transmissão, seja concluída até sexta-feira, 19. “Não é possível dizer (ainda) se esses casos são autóctones ou importados”, afirmou o superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da SES, Mário Sergio Ribeiro.

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A variante P.1 foi encontrada inicialmente em Manaus (AM) e pode ser mais transmissível que o novo coronavírus original. Com os três novos casos identificados no Rio, são 173, pelo menos, em todo o País, conforme balanço divulgado pelo ministério na noite de terça-feira,16.

Tanto Chaves quanto Soranz apontaram falta de coordenação com o ministério no acompanhamento dos casos causados pelas novas variantes - além da P.1, surgida em Manaus, as autoridades de saúde monitoram variantes oriundas do Reino Unido e da África do Sul.

O Ministério da Saúde anunciou as notificações somente após, mais cedo na terça-feira, 16, a Fiocruz confirmar a identificação dos casos. Um deles foi noticiado inicialmente pelo “RJTV”, da TV Globo.

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“O que mais lamento é que eu e Daniel (Soranz) recebemos a notícia via TV. Não sabíamos disso”, afirmou Chaves, o secretário estadual. “Isso é lamentável. Não nos furtamos, em nenhum momento, de sermos notificados. Seria mais elegante uma nota técnica assinada pela Fiocruz e pelos secretários”, completou o secretário.

Conforme apresentação de técnicos da SES, até agora, foram identificados cinco casos de variantes do novo coronavírus que merecem atenção. Quatro casos são da P.1, de Manaus. Um caso é da variante B.1.1.7, identificada originalmente no Reino Unido. Segundo a SES, todos os casos da P.1 foram notificados na terça-feira, 16.

Só que um balanço nacional do Ministério da Saúde, de sexta-feira, 12, já registrava um caso da P.1 na capital fluminense. O balanço apontava a presença da variante P.1 em dez Estados, com 170 casos: Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Pará, Paraíba, Piauí, Rio, Roraima, Santa Catarina e São Paulo. Na noite de terça-feira, 16, o ministério atualizou o balanço para 173 casos, para incluir as três novas notificações do Rio.

Questionados nesta quarta-feira, 17, os técnicos da SES disseram desconhecer notificação anterior a terça-feira, 16. Chaves viu aí mais um sinal de descoordenação com o ministério.

“Não temos notificação nenhuma do Ministério da Saúde sobre esse caso (notificado sexta-feira, 12). Vou perguntar quem é esse paciente”, afirmou o secretário estadual, ao ser questionado pelo Estadão. “Se você está sabendo e eu não estou sabendo, há uma descoordenação”, completou Chaves.

Tanto Chaves quanto o secretário municipal, Soranz, afirmaram na entrevista coletiva que ainda é cedo para adotar medidas de maior restrição ao contato social, como “lockdowns”, por causa da identificação de novos casos de variantes do novo coronavírus. Segundo os secretários, ainda é preciso verificar efeitos nos números da pandemia. Soranz frisou que, na capital fluminense, embora o número de casos venha aumentando, óbitos e internações estão em queda.

Rastreamento das cepas

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Dos cinco casos de covid-19 identificados com variantes do vírus, um é de paciente de Manaus, que foi transferido para o Rio após o Amazonas pedir apoio de vários outros Estados por causa da falta de estoques de oxigênio. 

Três são da capital fluminense. Um caso foi registrado em Petrópolis, mas informações iniciais da prefeitura da cidade de região serrana do Rio dariam conta de que o paciente é morador da capital. O quinto caso é de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Esse paciente faleceu.

Conforme os técnicos da SES, o Estado tem selecionado, de forma aleatória, três casos por semana para fazer o sequenciamento genético. É o procedimento que tem como objetivo justamente verificar as linhagens circulantes em cada região e identificar o surgimento de novas variantes.

Em outubro, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) instalou a rede Coronaômica, para ampliar a vigilância genômica no País. Na nota de terça-feira, 16, o Ministério da Saúde informou que, “desde a primeira informação de possíveis casos de variantes”, tem emitido comunicados aos Estados “orientando a ampliação do sequenciamento de rotina dos vírus SARS-CoV-2”.

Segundo a SES, há três semanas, o Estado do Rio tem mandado as três amostras por semana para o sequenciamento, mas ainda não recebeu resultados. Os casos notificados pela Fiocruz, portanto, foram de amostras selecionadas pelo próprio instituto federal. A SES disse que enviou para sequenciamento amostras coletadas dos 58 pacientes oriundos do Amazonas que foram transferidos para o Rio e de cinco outros pacientes, transferidos de Rondônia no último fim de semana.

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