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Sem IFA, vacinação contra covid pode ser afetada a partir de junho, diz Dimas Covas

Liberação de insumo para imunizante contra o coronavírus do Instituto Butantan ainda não foi realizada pelo governo da China; vacinação de grupos anunciados em São Paulo não será impactada

Por Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - A indefinição para o governo da China liberar a exportação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), necessário para a produção da Coronavac, pode afetar o cronograma de vacinação contra a covid-19 a partir de junho, afirmou nesta segunda-feira, 10, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. Há a expectativa de que o insumo seja liberado até próxima quinta-feira e, assim, chegaria até o dia 18, mas o envio ainda não foi confirmado. O anúncio foi feito durante a entrega de 2 milhões de doses da vacina para o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde.

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 "Para maio, temos a entrega desta semana, 2 milhões no dia de hoje, mais 1 milhão na quarta-feira e 1 milhão e 100 na sexta. E, a partir daí, não teremos mais vacinas, porque não recebemos o IFA. Então, aguardamos a chegada desse material para que isso possa ser processado. Situação parecida com essa também é enfrentada pela Fiocruz, que a informação que eu tenho é que não teve o seu IFA liberado. Preocupa muito, porque o cronograma de vacinação, não neste momento, mas a partir de junho, poderá sofrer algum impacto."

Em nota, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que tem IFA para produção da vacina até o início de junho, mas "aguarda informações da AstraZeneca para confirmar a data de chegada da próxima remessa de IFA".

"A Fundação ultrapassou, na última sexta, a marca de 30 milhões de doses disponibilizadas ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), sendo 26 milhões produzidas na Fiocruz com o IFA importado e 4 milhões importadas prontas da Índia", disse.

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, durante entrega de 2 milhões de doses da Coronavac Foto: Governo do Estado de São Paulo/Divulgação

Segundo Covas, a liberação aguardada é de 4 mil litros do insumo. O diretor do instituto e o governador João Doria (PSDB) voltaram a atribuir a dificuldade para o IFA ser liberado à postura do presidente Jair Bolsonaro e membros do governo federal, que fizeram declarações ofensivas contra a China.

" O mesmo laboratório, Sinovac, disponibiliza insumos para um país vizinho, o Chile, que não agride a China, que não tem o seu presidente falando mal do governo chinês, do povo chinês e de sua vacina. O fluxo é normal de entrega desses insumos para o Chile. Por que não é para o Brasil? Razões de ordem diplomática e as formas desastrosas de manifestação em relação ao governo da China", disse Doria.

A imunização dos grupos que já foram anunciados não deve ser afetada pelo problema, de acordo com Regiane de Paula, coordenadora do Programa Estadual de Imunização (PEI).

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"Nós estamos recebendo 450 mil doses no Estado de São Paulo hoje, há uma previsão de chegada de Pfizer e Astrazeneca. O Estado de São Paulo não irá paralisar as suas vacinações. Tudo aquilo que foi anunciado e que será anunciado na quarta-feira, temos condições e vamos fazer a vacinação para todos os paulistas."

Em relação à vacina do Butantan, a Butanvac, Covas disse que o instituto respondeu, na última quinta-feira, 40 questionamentos enviados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre produção e qualidade e que ainda há uma pendência de uma mudança que deve ser feita no estudo clínico. Pendências estão sendo resolvidas também para início dos testes clínicos com o soro anticovid desenvolvido pelo instituto. "Esperamos que esta semana seja decisiva em relação aos dois processos."

O Itamaraty disse, em nota, que "Brasil e China dialogam e trabalham constantemente no enfrentamento da crise sanitária". A Embaixada do Brasil em Pequim, prossegue a nota, acompanha permanentemente o processo de autorização de exportação de IFAs, atuando sempre com a agilidade necessária. "Em diversas ocasiões, inclusive durante recente conversa telefônica do Ministro das Relações Exteriores, Carlos França, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, autoridades chinesas comprometeram-se em fazer todo o possível para cooperar com o Brasil neste momento de grave emergência sanitária causada pela pandemia e reiteraram que eventuais atrasos não são intencionais, dado que a China está exportando IFAs para diversos países, o que gera expressiva demanda e sobrecarga nos trâmites burocráticos", disse. 

Procurada, a Embaixada da China no Brasil ainda não se manifestou. 

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