‘Sem meu irmão, meu pai teria morrido’

“Na idade e condição dele, de cardíaco, hipertenso e em tratamento oncológico, ele não tinha condições de ficar sozinho.” 

PUBLICIDADE

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

A advogada Vilma Aparecida Gomes, de 53 anos, precisou recorrer a sua experiência jurídica para conseguir que seu pai, José Gomes da Silva, de 78 anos, internado com a covid-19 no Hospital Municipal de Paulínia, tivesse a companhia de um dos filhos durante a parte final da internação. “Na idade e condição dele, de cardíaco, hipertenso e em tratamento oncológico, ele não tinha condições de ficar sozinho.” 

O desejo de Vilma era estar ao lado do pai, mas ela e o marido também contraíram o vírus. “Entramos em internação ao mesmo tempo, só que em cidades diferentes. Eu e meu marido em um hospital de Campinas e meu pai em Paulínia.” As cidades são separadas por 22 km ou 20 minutos de carro.

Membros das Forças Armadas limpam hospitais públicos em Brasilia Foto: Joedson Alves/ EFE

PUBLICIDADE

Vilma conta que as regras dos hospitais são rigorosas em relação ao vírus e seu irmão ia ao hospital apenas para ver o boletim médico, sem permissão para ter contato com o pai. Esse tem sido o procedimento. Depois que a família consegue internar o paciente, ela não tem mais contato com ele. 

“Quando conseguia falar com meu pai por telefone, percebia que o psicológico dele estava extremamente abalado, entrando numa crise forte devido ao isolamento. Percebi que ele estava se acabando e ia perder aquela batalha contra o novo coronavírus. É difícil o isolamento hospitalar para uma pessoa mais idosa, tendo contato só com médicos e enfermeiros, sem visitas dos parentes”, atestou a filha. “Foi quando consegui que o hospital autorizasse meu irmão a ficar com ele. Apesar do risco para meu irmão, não tínhamos escolha, meu pai iria morrer de depressão se não tivesse um acompanhante. Meu irmão seguiu todas as recomendações dos médicas, mas tenho certeza de que a presença dele foi decisiva para a recuperação do meu pai.”

Vilma, o marido e o pai contraíram o coronavírus em um cruzeiro de navio pela costa brasileira. Durou pouco. A viagem era um sonho do ‘seu’ José. A família embarcou dia 14 de março e retornou dia 17 - havia infectados a bordo. Após 12 dias internado, ‘seu’ José teve alta no dia 11. Deixou o hospital sorrindo e sob aplausos da equipe médica.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.