Sem vagas em hospitais públicos, população de Roraima recorre à rede privada

Falta de leitos na rede pública motivou o Governo de Roraima a buscar parceria com o Governo do Amazonas para transferir pacientes com quadro de saúde grave para o estado vizinho

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Por Paola Carvalho
Atualização:

BOA VISTA - A dona de casa Ana Késsia de Lima, de 30 anos, começou a sentir dores no peito devido ao diagnóstico de covid-19 no dia 11 de junho e buscou atendimento no Hospital Geral de Roraima (HGR). Classificada como situação de pouca urgência, Ana aguardou duas horas pelo atendimento. Na hora do exame, o profissional de saúde informou que a falta de oxigênio podia ser tratada em casa e a liberou para sua residência. Na saída do hospital, o marido de Ana a levou direto para uma clínica da rede privada de saúde do Estado. Mesmo sem comorbidades, houve piora de sua situação e a dona de casa precisou ser entubada e internada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em menos de dois dias. O custo do tratamento pode chegar a mais de R$ 400 mil.

A história de Ana Késsia foi contada ao Estadão pelo esposo, Alexandre Maciel, na terça-feira, 16. Segundo Maciel, a família buscou por um espaço no setor público de atendimento, mas não obteve acesso. “Ela está na ventilação mecânica. O custo é muito alto. Buscamos vaga no HGR e não conseguimos. Estou desesperado. Muitos amigos me ajudaram, mas o custo é extremamente alto e a minha família não tem condições de pagar. A estimativa do médico é entre 14 e 21 dias de internação ao custo de R$ 15 a R$ 20 mil diários.", afirmou ele. "Não sei mais o que fazer. Não sei mais de quem pedir ajuda. Tenho fé em Deus que ela vai se recuperar, algum anjo da guarda vai me dar uma luz e tenho fé que ela vai conseguir sair dessa”. 

Governo de Roraima faz campanha durante a quarentena causada pelo coronavírus Foto: Charles Bruno/Divulgação

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A falta de leitos na rede pública de saúde motivou o Governo de Roraima a buscar uma parceria com o Governo do Amazonas para transferir pacientes com quadro de saúde grave para o estado vizinho. A medida foi anunciada pelo governador de Roraima, Antonio Denarium (sem partido), em entrevista a uma rádio local no domingo, 14.

Questionada sobre a tratativa de transferência de pacientes, a Secretaria Estadual de Saúde de Roraima (Sesau-RR) informou que está definindo os ajustes finais para a formalização do Termo de Cooperação Técnica envolvendo os Governos de Roraima e do Amazonas, com os apoios do Comando Misto do Exército e Ministério da Saúde.

“Esse termo tem a finalidade de ampliar o número de leitos de retaguarda de UTI para pacientes vítimas de covid-19 em Roraima. Porém, só entrará em vigor a partir da formalização documental, que está tramitando. Com o termo, o Governo do Amazonas disponibilizou até 27 leitos de UTI para pacientes de Roraima, conforme necessidade”, informou a Sesau.

Caso haja necessidade de transferência de paciente para UTI em Manaus, o transporte será realizado pelo Comando Misto do Exército, via UTI aérea, seguindo todos os protocolos de segurança. Com o Termo de Cooperação Técnica firmado, Roraima ampliará a capacidade de leitos de UTI de 48 para 75.

Internações 

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Na rede pública estadual, são 30 pacientes internados na UTI do Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento, resultando em 100% de ocupação. Outros 40 estão na unidade semi-intensiva e mais 155 pacientes estão em acompanhamento clínico.

No Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, a única maternidade pública de Roraima, há um bloco de isolamento respiratório de pacientes com suspeita da covid-19, que possui 37 leitos enfermaria e dez leitos de UTI. Do total, 20 leitos encontram-se ocupados.

Desde o fim de abril, o Estado elaborou uma parceria com a Operação Acolhida para transferir o Hospital de Campanha do Exército Brasileiro, que ficava localizado em Pacaraima, a cerca de 185 km da Capital, para atendimento de refugiados venezuelanos, até Boa Vista e transformá-lo em uma unidade de atendimento aos pacientes com covid-19.

A unidade, porém, ainda não foi inaugurada. A informação é que falta chegada de insumos e de corpo clínico para abertura das atividades. Segundo a Sesau, a expectativa é de que a Área de Proteção e Cuidados (APC) seja aberta nesta quinta-feira, dia 18, com os materiais e servidores já disponíveis.

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Com isso, serão dez leitos de UTI equipados com cápsulas de ventilação e outros 80 leitos hospitalares, sendo que a oferta pode aumentar de acordo com a demanda. Outros dez leitos de UTI serão instalados no Hospital das Clínicas Dr. Wilson Franco, também equipados com cápsulas de ventilação.

Casos e mortes em Roraima e no Amazonas

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde de Roraima (Sesau-RR) na segunda-feira, 15, o Estado contabilizava 11.736 notificações para a covid-19, de acordo com os critérios de definição de caso do Ministério da Saúde. Destes, 6.935 foram confirmados segundo município de residência, 4.801 foram descartados e 216 óbitos foram registrados, com outras 75 mortes ainda em investigação.

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Em relação apenas às confirmações para a doença, o casos ficam concentrados na em Boa Vista, com 5.243 casos, seguida dos municípios de Rorainópolis (254), que fica na divisa com o Amazonas, e Pacaraima (251), na divisa com a Venezuela.

Com relação ao percentual de internações na rede pública estadual, a Sesau informou que Roraima tem 245 pacientes internados, sendo 225 pacientes no Hospital Geral de Roraima (HGR), principal unidade de atendimento para pacientes com covid-19 e outros 20 estão internados no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazaré.

Segundo boletim epidemiológico consolidado pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) nesta segunda-feira, 15, o Estado tem 56.777 casos confirmados do novo coronavírus.

“Entre pacientes em Manaus, há o registro de 1.620 óbitos confirmados em decorrência do novo coronavírus. Outros 322 óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) estão sendo acompanhados. Destes, 250 por investigação epidemiológica e 72 aguardando resultado laboratorial”, informou a Secretaria Estadual do Amazonas (Susam).

O Amazonas também conta com 331 pacientes internados, sendo 191 em leitos clínicos (15 na rede privada e 176 na rede pública) e 140 em UTI (38 na rede privada e 102 na rede pública). Há, ainda, outros 292 pacientes internados considerados suspeitos e que aguardam a confirmação do diagnóstico. Destes, 203 estão em leitos clínicos (27 na rede privada e 176 na rede pública) e 89 estão em UTI (21 na rede privada e 68 na rede pública).

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