PUBLICIDADE

Sequelas da covid-19 após a internação podem afetar pacientes por um ano ou mais

Incômodos persistentes incluem falta de ar, fraqueza e dificuldade de concentração, além de instabilidade emocional

Por Ocimara Balmant e Alex Gomes
Atualização:

Para quem está internado, nada mais animador do que receber o termo de alta. Nessa hora, a sensação natural é de que o problema que levou à hospitalização foi, enfim, sanado. Isso até a covid mudar profundamente esse paradigma, por conta da quantidade de sequelas que muitos pacientes apresentam.

PUBLICIDADE

“As experiências anteriores com outras viroses respiratórias davam a impressão de que a covid-19 se restringiria ao sistema respiratório, aos pulmões. Mas vimos uma doença que, de cara, se mostrou sistêmica: o vírus circula no corpo e acomete qualquer órgão”, afirma Carlos Carvalho, diretor da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (Incor).

“Dependendo do grau de acometimento dos órgãos, há lesões agudas, e o que não esperávamos é que tais lesões não iriam cicatrizar de forma adequada. Muitas cicatrizam de forma exagerada e deixam sequelas. A partir daí, temos de desenvolver métodos para diagnosticá-las, fazer intervenção e, eventualmente, tratá-las”, explica Carvalho.

Levantamento feito com 750 pacientes que foram hospitalizados no início da pandemia mostrou que, em meados deste ano, 60% deles ainda apresentavam sequelas Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Em julho, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) apresentou a avaliação de 750 pacientes que ficaram internados no primeiro semestre de 2020. Após um ano, 60% deles apresentam sequelas como falta de ar, fraqueza, fadiga e dificuldade de concentração e memória. O acompanhamento deve durar quatro anos.

São problemas que ganham contornos ainda mais graves quando somados a uma outra sequela comum: a instabilidade emocional. “É um medo do que não se conhece, o medo de quem vivencia todos os dias uma experiência diferente”, explica Linamara Rizzo Battistella, presidente do Conselho Diretor do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do mesmo Hospital das Clínicas. “Em um dia, consegue se levantar e caminhar até o banco; no outro, não sai da cama.”

Em condições cognitivas e emocionais instáveis, o processo de reabilitação torna-se ainda mais difícil. “Se não lembro da orientação dada sobre o cuidado ao atravessar a rua e me deslocar dentro de casa, ou não me recordo sobre o uso correto dos medicamentos, não tenho condições para manter minha condição funcional adequada. É óbvio que o sucesso do programa de reabilitação estará comprometido”, acrescenta Linamara.

Frente a uma doença que acomete todos os órgãos e sistemas, o caminho é o tratamento multidisciplinar, dentro de uma mesma abordagem terapêutica. “Quanto mais precoce e global for a reabilitação, mais chances o indivíduo tem de retornar, mais rápido e com mais funcionalidade, ao estado de antes”, afirma Andréa Thomaz Viana, coordenadora médica de Reabilitação da unidade Pompeia do Hospital São Camilo.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.