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Setembro Amarelo: 'A vida é cheia de altos e baixos, ela não é linear', diz Yasmine McDougall

Empresária criou a plataforma Free Free,que tem como base o fortalecimento do conhecimento próprio, depois da morte da mãe

Foto do author Ana Lourenço
Por Ana Lourenço
Atualização:

Falar de Setembro Amarelo – campanha brasileira de prevenção ao suicídio – é falar de saúde mental. “Quando a gente se conhece, se entende e se cuida e está bem consigo mesma, a gente previne uma série de situações que poderiam nos levar ao extremo. Porque a vida é cheia de altos e baixos, ela não é linear”, conta a empresária Yasmine McDougall Sterea, de 36 anos, em entrevista por vídeo ao Estadão

A importância do cuidado com a saúde mental para ela, muito mais do que trazer qualidade de vida, é reverberado em sua plataforma Free Free, uma organização descentralizada global que tem como base o fortalecimento do conhecimento próprio. “Criei a Free Free em homenagem à minha mãe, que tirou a própria vida, para ser o suporte, a inspiração e a solução que ela não teve."

Yasmine criou o projeto Free Free para ajudar pessoas a 'se vestirem de quem se é, como símbolo de liberdade dos traumas' Foto: Wendel Castro

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Com 21 anos, a vida da então estudante teve uma reviravolta. Sua mãe, Lilian Rose, se suicidou. “A minha mãe estava em um processo de depressão muito forte”, explica ela. “Até que chegou um momento que a luz dela foi tão apagada, que ela não aguentou. E eu acho que ela tomou uma decisão de parar o ciclo de abuso logo ali.”

Toda a percepção do fato veio anos depois, por causa de estudos e trabalhos que foi desenvolvendo ao longo da vida. Mas, no momento em que se viu sem a mãe, decidiu largar a faculdade e “viver a vida”. 

“Eu entendi que a gente nunca sabe o dia de amanhã. E, naquele dia, resolvi que eu ia ser feliz e que ia trabalhar por essa felicidade”, conta ela, que largou as praias do Rio de Janeiro pelas ruas de Londres. 

A morte da minha mãe me deu forças para nunca mais deixar alguém me silenciar ou dizer que eu não posso fazer algo por ser mulher

“A morte da minha mãe me deu forças para nunca mais deixar alguém me silenciar ou dizer que eu não posso fazer algo por ser mulher”, diz. Assim, aos 24 anos, Yasmine já era editora da revista Vogue e havia trabalhado com nomes como Gisele Bündchen, Rihanna e Kim Kardashian. Quatro anos depois, somente um nome era importante: Violeta. “O período da minha gravidez foi muito difícil, emocionalmente falando, porque quando engravidei veio à tona toda a dor da perda da minha mãe com que eu não tinha lidado”, lembra ela.

A introspecção fez com que Yasmine, em uma busca de cura, começasse a estudar abordagens terapêuticas como psicodrama, pensamentos de psicanalistas como Carl Gustav Jung e até programação neurolinguística. “Comecei a me perguntar o que poderia fazer para mulheres, meninas e minha própria filha não passarem pelos abusos que todas nós passamos e que fez minha mãe chegar ao limite.”

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Símbolo de liberdade

Em 2018, Yasmine lançou o projeto Free Free, com o objetivo de ajudar pessoas a “se vestirem de quem se é como símbolo de liberdade dos traumas”. “Essa foi a forma que eu comecei, mas aos poucos fui entendendo que a missão era muito mais com as mulheres, até pela minha história de vida pessoal”, conta. 

Enquanto o ambiente machista e conservador em que foi criada a ajudou a perceber os abusos, a moda a fez entender a prisão que existe no mito da mulher perfeita. 

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“A gente não tem noção de como isso afeta o emocional de uma mulher. Até porque revistas, de um modo geral, não só falam do corpo da mulher, mas dos costumes. E inclusive a submete a relações abusivas muito mais fáceis, porque quando a gente está com a nossa autoestima baixa, a gente se anula.”

Por isso mesmo, esse é o ponto inicial do ciclo de ajuda da plataforma que, segundo ela, já atingiu mais de 16 mil mulheres diretamente e outras 30 milhões de pessoas indiretamente. “A gente, primeiramente, acolhe a mulher e recupera sua autoestima. E quando sentimos uma mudança no nosso corpo – seja pelo tom de voz ou a vontade de mostrar mais o próprio rosto – a gente vai liberando os traumas, algo que é muito catártico”, observa Yasmine. Além do apoio emocional, a plataforma oferece também capacitação profissional para as mulheres.

O nosso emocional é a nossa base, então também é a primeira coisa que tentam destruir. Quando isso acontece, ficamos vulneráveis. Falar sobre Setembro Amarelo nesse contexto é falar sobre o nosso poder de decisão

Outro importante pilar sustentado pelo Free Free é a conscientização. “Quando a gente sabe o que é o ciclo da violência, a gente previne uma violência mais grave”, afirma. De acordo com ela, o abuso não necessariamente acontece apenas nos relacionamentos amorosos, mas sim no setor familiar, nas relações entre amigos e até no trabalho.

“A violência psicológica faz você sentir vergonha e culpa. E a cultura e a religião perpetuam isso. Por isso, é essencial fazer terapia, se cuidar, meditar e se reconhecer. O nosso emocional é a nossa base, então também é a primeira coisa que tentam destruir”, diz. “Quando isso acontece, ficamos vulneráveis. Falar sobre Setembro Amarelo nesse contexto é falar sobre o nosso poder de decisão.”

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