Sistema de recompensa do cérebro estimula o efeito placebo

Pacientes informados de que o placebo tinha 75% de chance de ser o remédio real tiveram boa reação

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Por REUTERS
Atualização:

Criar expectativa é fundamental para estimular o efeito placebo, no qual pessoas que acreditam estar sendo medicadas acabam melhorando sem realmente receber tratamento. Em um estudo, pacientes de mal de Parkinson que receberam um placebo depois de ouvirem que teriam 75% de chance de estar recebendo uma droga ativa produziram quantidades significativas de dopamina, uma substância do sistema de recompensa do cérebro que é escassa nos pacientes da doença.

 

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Mas nenhuma reação de dopamina foi registrada em pacientes que ouviram que teriam uma chance de 25%, 50% ou mesmo 100% de estar recebendo a droga real.

 

A descoberta mostra que a expectativa regula diretamente o poder do placebo, ao ativar o sistema de recompensa do cérebro, provavelmente não só em vítimas de Parkinson, de acordo com a equipe do médico A. Jon Stoessl, do Centro Pacific de Pesquisa de Parkinson, no Canadá.

 

"A maior recompensa é realmente melhorar, então a expectativa de melhora é semelhante á expectativa de recompensa", disse Stoessl.

 

A equipe de Stoessl haviam demonstrado inicialmente a relação entre o efeito placebo e a liberação de dopamina em pacientes de Parkinson há nove anos. No estudo atual, os pesquisadores usaram tomografia PET para verificar se a expectativa dos pacientes em receber uma droga ativa teria relação com o tanto de dopamina liberado no cérebro.

 

Eles sortearam 35 pacientes para serem informados de que teriam 25% de chance, 40% de chance, 75% de chance e 100% de chance de receber uma droga ativa. Mas todos receberam placebo.

 

"Houve uma quantia substancial de dopamina liberada, mas só quanto a probabilidade declarada era de 75%", explicou Stoessl. "O que significa que quando você ouve dizer que o resultado é garantido, você não ativa as rotas de recompensa. A probabilidades menores, você não acha que tem muita chance, então não ativa o sistema de recompensa também".

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Stoessl usou algo chamado "enganação autorizada" no estudo, o que significa que os pacientes haviam sido avisados, de antemão, que haveria enganação no experimento, mas sem receber detalhes. Imediatamente após o teste, os pacientes foram informados da mecânica exata do experimento. O trabalho foi publicado no periódico Archives of General Psychiatry.

 

O uso de mentira em estudos médicos pode agredir o princípio do consentimento informado, o princípio segundo o qual as pessoas devem saber o que um estudo implica para que possam decidir participar dele ou não. Mas de acordo com o especialista em bioética  Franklin G. Miller, que ajudou a desenvolver o conceito de enganação autorizada, a equipe de Stoessl está em terreno ético firme, ao informar os pacientes de antemão do fato de que haveria mentiras no decorrer do estudo.

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