Só pela subnotificação, já devemos ter mais casos que os Estados Unidos

Nossa estimativa é de que, se fossem incluídos os casos que ainda não foram notificados, o número total passaria dos 4 milhões

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Por Domingos Alves
Atualização:

Todas as evidências apontam que o Brasil é o epicentro do novo coronavírus. Primeiro, é preciso considerar o fato de que o número de casos e óbitos aqui são subnotificados. O que aparece nos boletins brasileiros são números de pessoas internadas. A verdadeira chama dessa fogueira não aparece nesses números de uma maneira geral: são os assintomáticos e os sintomáticos leves. São essas pessoas que estão levando mais gente a ser infectada.

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O número de casos no Brasil é de pouco mais de 374 mil, segundo os números oficiais. Nossa estimativa é de que, se fosse incluída a subnotificação, o número de casos passaria dos 4 milhões. Esse é o primeiro motivo para dizer que o Brasil é o principal polo da pandemia. Só pela questão de subnotificação, já devemos ter mais casos que os Estados Unidos.

Além disso, nossas taxas de crescimento oficiais são maiores do que a da maioria dos países. A nossa taxa de óbitos por dia ultrapassou a França no dia 62. No dia 63 para 64, que estamos agora, ultrapassamos a Espanha e a Itália. Nessa época, quando olhávamos para a Europa, todos achávamos o número absurdo. E, até o final desta semana, devemos ultrapassar a taxa da Grã-Bretanha.

Grafite na região da Avenida Paulista pedem que a população fique em casa durante a pandemia. Foto: Foto: Alex Silva/Estadão - 19/4/2020

A partir do dia 50, a nossa curva ainda foi aumentando, enquanto a dos outros países foi diminuindo - tanto no número de casos quanto no de óbitos. E isso pode estar relacionado às mudanças de comportamento e ao histórico da adesão da população diante das medidas de restrição de mobilidade.

O pico no Brasil, que era estimado para junho, vai ser jogado meses para frente. Faz dois meses que foram decretadas medidas de restrição e mobilidade em diversas regiões do País. No cenário que vemos, as medidas ainda não foram suficientes para mudar o comportamento da curva por aqui.

Os modelos usados para acompanhar a pandemia não indicam a data de quando ela vai acabar. E nossas análises não apresentam proximidade do pico. O que conseguimos mostrar é que há uma tendência de subida, com um crescimento ainda de comportamento exponencial. Os casos estão dobrando no Brasil em uma semana, uma semana e meia, em média. Mas pode ser que, na próxima semana, dobre em menos tempo. 

Há mais de um mês, o Brasil já era o epicentro mundial. A epidemia brasileira e a do Peru são as mais graves na América do Sul, que ultrapassa todos os continentes e países isolados no número de casos e de óbitos.

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Quando se olha os números, pode ficar parecendo que as medidas de isolamento até agora não funcionaram. Mas não é isso. Se nada tivesse sido feito, talvez estivéssemos com um milhão de óbitos no Brasil. Mas a questão é que as medidas não funcionaram adequadamente. Por isso, é preciso que os governantes e gestores façam um pacto com a população, dando apoio para que o isolamento de fato aconteça. 

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