PUBLICIDADE

SP anunciou mais restrições para frear covid um dia após eleição. Governo acerta com medida agora?

Presidente de Associação Paulista de Medicina defende prudência para avaliar ações do tipo; infectologista do HC diz que Estado demorou e passa mensagem de 'oportunismo'

Por José Luiz Gomes e Evaldo Stanislau de Araújo
Atualização:

O governo de São Paulo anunciou nesta segunda-feira, 30, que regiões do Estado regrediram de fase no Plano São Paulo de combate ao novo coronavírus, passando da fase verde para a fase amarela (mais restritiva). A medida ocorre após diferentes localidades relatarem aumento nos casos da doença e nas internações, o que passou a preocupar as autoridades. O Estadão perguntou a especialistas se a medida tomada agora é acertada. Veja as respostas. 

PUBLICIDADE

Sim

Imaginávamos que não teria outra alternativa que não fosse essa. A restrição era mais do que esperada e poderia acontecer a qualquer momento. É muito difícil afirmar se foi precipitada ou tardia. Quem está dirigindo tem todas as informações para tomar a decisão. Estamos dentro do momento adequado para que seja feito. No começo da pandemia, havia discussão se a secretaria deveria antecipar ou não a abertura. Para qualquer medida que pode ter consequências graves, a prudência é importante. O movimento brusco pode não ser a melhor alternativa. Ir degrau a degrau talvez seja a melhor escolha neste momento. Em determinado momento, entendeu-se que os casos estavam aumentando, mas com menor gravidade. Era estranho porque o vírus e a população eram os mesmos. Mas a população afetada foi a mais jovem no início, então os cuidados intensivos eram menores. Mas, com o passar do tempo, esses jovens contaminaram os mais velhos e voltamos a enfrentar os problemas de meses atrás. 

JOSÉ LUIZ GOMES É MÉDICO INTENSIVISTA E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

A diferença da fase 3 para a fase 4 (verde) é que a maioria dos setores de comércio e serviços deve reduzir o atendimento de 60% para 40% da capacidade total Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Não

Demorou muito para tomar essa atitude. Há semanas observamos as taxas de ocupação crescendo nos hospitais. E percebemos que não houve nenhuma fiscalização ao não uso das máscaras e aglomerações. Foi a decisão certa, no momento errado. A população terá muita dificuldade para compreender e aderir às medidas tomadas logo após a eleição. Se havia – e havia – necessidade de reverter as fases, deveria ter sido feito antes. Da forma que ocorreu, a mensagem torna-se duplamente negativa ao restringir e evidenciar um certo oportunismo. Até onde iremos na regressão dependerá dos números e da efetividade das medidas. A Europa foi rigorosa e já observa melhora. Nossa rede é robusta e está bem treinada. Não creio em colapso. Mas há estafa grande em todos e sobrecarga de procedimentos eletivos, que não podem mais ser adiados. A gestão terá maior complexidade. Precisamos efetivamente que as pessoas adotem medidas de prevenção: distanciamento, máscara e higiene. E, do governo, fiscalização e diagnóstico amplo.

EVALDO STANISLAU DE ARAÚJO É MÉDICO DO HC DA USP E MEMBRO DA DIRETORIA DA SOCIEDADE PAULISTA DE INFECTOLOGIA

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.