SP estuda fracionar vacina de febre amarela caso demanda não se reduza

Infectologista Marcos Boulos teme que pessoas com contraindicação ao imunizante escondam sua condição para garantir a dose

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Por Ligia Formenti
Atualização:

BRASÍLIA - O coordenador de Controle de Doenças de São Paulo, o infectologista Marcos Boulos, afirmou que poderá haver o fracionamento da vacina contra febre amarela no Estado nos próximos meses, caso a demanda pelo imunizante continue muito expressiva. 

Parque Anhanguera, na zona norte de São Paulo, foi fechado preventivamente Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Essa possibilidade foi reforçada diante dos resultados de estudos, divulgados nesta semana pela Comissão Nacional de Imunização, que comprovam os efeitos da vacina fracionada por um prazo maior do que o imaginado.

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A análise dos trabalhos revela que pessoas que receberam um décimo da vacina continuam apresentado proteção contra a doença até nove anos depois da aplicação. Trabalhos anteriores afirmavam que a proteção da vacina fracionada não era superior a um ano. Em entrevista ao Estado, Boulos afirmou ainda que a febre amarela passará a ser considerada em São Paulo como endêmica.

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"O vírus veio para ficar. Ela não ocorre mais em epidemias, mas durante todo o ano."

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Por isso, a necessidade, completa, de vacinar a população de todo o Estado. A ideia é fazer isso de forma organizada. Começando com a população que vive em áreas que se transformaram agora em regiões de risco para alcançar, em um momento mais distante, as áreas do litoral.

Profissionais de saúde de São Paulo deverão começar a ser treinados para aplicar a dose fracionada. O processo deve ser concluído em dois meses. "Se dentro desse período continuarem essas filas enormes não teremos alternativa e vamos partir para o fracionamento", disse. "O importante é que não vai faltar vacina para ninguém."

Boulos vê com preocupação a corrida aos postos de vacina em áreas da região metropolitana de São Paulo onde não há risco de se contrair a doença. "A infecção ocorre quando vamos até uma área onde há a transmissão, áreas de mata", assegurou.

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Isso significa, portanto, que mesmo moradores da zona norte, como Santana, estão protegidos contra a doença, desde que não se desloquem para áreas de mata. "Não é necessário vacinar se você não mora em região de risco ou se não vai para áreas de mata. O ideal é que a população siga as recomendações das equipes."

Um dos maiores receios do coordenador é o de que, diante do medo de se infectar por febre amarela, pessoas com contraindicação para receber o imunizante escondam sua real condição, justamente para garantir a dose da vacina.

Neste ano, foram imunizadas 5 milhões de pessoas, com dois óbitos provocados por reações provocados pelo imunizante. Uma proporção expressivamente menor do que a registrada na última epidemia da doença, na região de Botucatu, no interior. Na época, ocorreu uma morte para cada 200 mil aplicações da vacina.

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"Daí a importância de se fazer a vacinação de forma correta. As pessoas não devem esconder sua condição, afirmar a idade correta, se estão gestantes", observou.

Boulos disse não haver ainda explicações para a mudança do comportamento da febre amarela em São Paulo. A morte de macacos é considerada como um sinal importante para verificar a circulação de vírus. Até um passado recente, conta, esses casos entre macacos ocorriam em períodos determinados, seguidos por um longo tempo sem casos registrados.

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"Pela primeira vez, identificamos a continuidade da doença. Em epidemias anteriores, os ciclos eram definidos, com aumento de casos em animais e posterior redução. Não é o que estamos vendo neste ano." 

Justamente por isso, mesmo com a decretação, há dois meses pelo Ministério da Saúde do fim da epidemia de febre amarela o Estado de São Paulo manteve o esforço para continuar a vacinação em áreas consideradas de risco. Já naquela época, havia a decisão de imunizar toda a população do Estado.

Estudos conduzidos pela equipe de vigilância da secretaria mostram que o vírus circula em três grandes frentes no Estado, uma situação atípica. Os casos antes ocorriam em áreas já tradicionais, sobretudo na região próxima de Ribeirão Preto. 

"A doença se expandiu e vai chegar ao litoral. Vamos ter de vacinar todo o Estado, incluindo as áreas litorâneas."

Boulos diz não haver ainda uma explicação para a mudança do comportamento da doença no Estado. "Sabíamos que isso ia ocorrer um dia. Mas não sabemos por que isso ocorreu agora."

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