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São Paulo tem menor adesão à vacina contra a gripe em três anos

Estado, que já registra desde o verão um surto antecipado de gripe H1N1, ficou abaixo da média nacional em relação à vacinação

Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli e Paula Felix
Atualização:
No ano passado, 83,81% da população-alvo da campanha foi vacinada em SP, índice inferior aos 87,16% de cobertura alcançada em nível nacional Foto: TASSO MARCELO/ESTADÃO

SÃO PAULO - A taxa de adesão da população de São Paulo à campanha de vacinação contra a gripe em 2015 foi a menor dos últimos três anos e ficou abaixo da média nacional, segundo informações do Ministério da Saúde. O Estado já registra desde o verão um surto antecipado de gripe H1N1, com 38 mortes relacionadas à doença nos três primeiros meses deste ano, o triplo do acumulado em todo o ano passado. Para especialistas, a adesão insuficiente à vacina é uma das causas do aumento atípico de casos.

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Segundo as estatísticas do órgão federal, no ano passado, 83,81% da população-alvo da campanha foi vacinada no Estado, índice inferior aos 87,16% de cobertura alcançada em nível nacional. Em 2013 e 2014, as taxas de adesão em São Paulo foram de 93,17% e 84,52%, respectivamente. 

Fazem parte do público-alvo da campanha idosos, gestantes, doentes crônicos, crianças entre 6 meses e 5 anos, puérperas, profissionais de saúde, indígenas, detentos e funcionários do sistema prisional.

Embora o Estado de São Paulo tenha atingido a meta estabelecida pelo ministério, de vacinar pelo menos 80% da população-alvo, ficaram sem proteção contra a gripe 1,4 milhão de paulistas dos grupos de risco. Fazem parte dessa população 8,9 milhões de pessoas, mas apenas 7,5 milhões foram aos postos de saúde se vacinar.

Para médicos, a queda expressiva entre as taxas de cobertura de 2013 para 2015 está relacionada com um descuido de parte da população em relação aos riscos da doença, após dois anos de baixa incidência do vírus. Em 2013, o Estado registrava o pior surto recente da doença, com 405 mortes, e a adesão à campanha foi recorde. Foi o único ano, desde 2011, em que a participação dos paulistas foi superior à média do País. 

“Depois de 2013 parece que as pessoas começaram a ficar mais relaxadas. Ficamos dois anos sem ver muito o H1N1 e, quando baixa o alerta, as pessoas se vacinam menos”, diz o infectologista Celso Granato, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Jessé Reis Alves, coordenador do Ambulatório de Medicina do Viajante do Instituto Emílio Ribas, concorda que a cobertura insatisfatória da vacina contribui para a ocorrência do surto. “No ano passado, houve uma cobertura vacinal menor do que se previa.

Pessoas vulneráveis ficaram com uma proteção menor, por isso, houve mais óbitos. A vacina não tem efeito prolongado. Ter tomado em anos anteriores não garante imunidade”, diz o especialista.

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De acordo com os números do ministério, há diferenças nas taxas de cobertura dos diferentes grupos da população para os quais a campanha é voltada. As maiores adesões foram entre indígenas e puérperas, que ultrapassaram a meta, com coberturas de 144,54% e 116,01%, respectivamente. A menor adesão foi registrada entre gestantes, com 78,48% de cobertura, e crianças, com taxa de 79,19%.

Outras causas. A virulência do vírus H1N1 e um prolongamento da epidemia da doença durante todo o inverno do Hemisfério Norte são apontados como outras possíveis causas do surto fora de época no País. 

Alves destaca o potencial de infecção do H1N1 como uma agravante para a rápida disseminação do vírus. “Ele é um vírus mais ‘infectante’, mais virulento e capaz de produzir casos com mais gravidade nos pacientes. Talvez, o H1N1 seja mais apto para infectar os seres humanos do que outras variantes da gripe”, diz o especialista.

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A ida de turistas brasileiros para América do Norte e Europa em meio a um surto mais intenso da doença também ajudou na disseminação. “Nos Estados Unidos e no Canadá, o período de gripe, que tem pico em dezembro e janeiro, continua com grande atividade. Agora, já estaria em período de declínio, mas não tem acontecido isso”, diz Francisco Ivanildo de Oliveira, infectologista do Hospital Infantil Sabará.

Fenômeno atípico. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri diz que o cenário epidemiológico global pode mesmo ter sido um dos responsáveis pelo fenômeno atípico no Brasil. “O atraso da epidemia para os países do Norte acabou levando à antecipação da nossa. Agora é focar na campanha deste ano, lembrando que, mesmo depois da vacinação, as pessoas ainda demoram de três a quatro semanas para estar protegidas”, afirma Kfouri.