SP vai fazer levantamento para analisar motivos de queda de cobertura vacinal no Estado

Índice apresentou declínio a partir de 2016; sociedades brasileiras de Imunizações, Infectologia e Pediatria lançam documento para população para participar de campanha de vacinação

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Por Paula Felix
Atualização:
Coberturas vacinais em SP alcançavam as metas até 2016, quando começaram a apresentar queda Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

O Estado de São Paulo vai fazer um levantamento no segundo semestre deste ano para avaliar os motivos que levaram à diminuição da cobertura vacinal na região. O Brasil tem 667 casos confirmados de sarampo em seis Estados. Dados divulgados pelo Unicef e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que as taxas de vacinação aumentam no mundo, mas caem no Brasil há três anos.

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Segundo Helena Sato, diretora técnica de Imunização da Secretaria de Estado da Saúde, as coberturas alcançavam as metas até 2016, quando começaram a apresentar queda.

"Até 2016, as nossas coberturas vacinais atingiam as metas de 90%, 95%. A partir disso, observamos uma queda, não uma queda drástica, mas, ao invés de atingir 95%, a nossa média é em torno de 70%. Iremos realizar, no segundo semestre e já temos uma equipe organizada para tal, uma avaliação no Estado para identificar os reais motivos dessa queda."

Helena afirma que a entrada de um sistema de informação nominal para registro das vacinas teve impacto nesse processo, mas não é o único motivo.

"Quando entra um sistema novo, até que os municípios acertem a adequada digitação, isso pode levar um tempo, mas não basta apenas avaliarmos que o problema está no sistema, precisamos ampliar esse leque dos possíveis fatores que podem estar interferindo nas coberturas e, com isso, verificar a real cobertura do nosso Estado."

 Nesta quinta-feira, 26, as sociedades brasileiras de Imunizações (SBIm), Infectologia (SBI) e Pediatria (SBP) assinaram um manifesto para incentivar a população a comparecer à campanha de vacinação que será realizada entre os dias 6 e 31 de agosto para evitar novos surtos de sarampo e o retorno da poliomielite no Brasil.

As entidades têm como objetivo melhorar a cobertura vacinal em todo o País e incentivar a população a manter a caderneta de vacinação em dia.

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Segundo o manifesto elaborado pelas sociedades médicas em parceria com o Rotary Internacional e apoio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), o último caso de poliomielite ocorreu no Brasil em 1989 e, desde 1994, o continente americano tem o certificado de erradicação da doença. No caso do sarampo, o Brasil e as Américas tinham sido considerados regiões livres de circulação do vírus em 2016, mas a situação mudou com o surto ocorrido recentemente do País, atingindo Estados como Roraima, Amazonas e Rio de Janeiro.

"Diante deste quadro atual, há necessidade da união de esforços de todos para a manutenção do País livre dessas doenças. As coberturas vacinais ainda são heterogêneas no Brasil, podendo levar à formação de bolsões de pessoas não vacinadas, possibilitando, assim, a reintrodução do poliovírus e do sarampo (comprometendo o processo de certificação de eliminação). Desta forma, é importante que autoridades, gestores e profissionais de saúde trabalhem de forma integrada para reduzir os riscos e a possibilidade de reintrodução destas doenças no território brasileiro", diz o documento.

Alerta

No mês passado, o Ministério da Saúde fez um alerta sobre o risco de retorno da poliomielite em ao menos 312 cidades brasileiras, das quais 44 estão no Estado de São Paulo, com base na baixa cobertura vacinal registrada nesses locais - que não chegou a 50%, quando a meta é 95%. Em 2017, pelo menos 800 mil crianças estavam sem o esquema completo de vacinação, composto por três doses do imunizante.

No ano passado, apenas o Ceará alcançou a meta de imunização na segunda dose contra o sarampo no País. No total, o Brasil tinha cobertura de 71,55% da segunda dose do imunizante em 2017.

Os números do Ministério da Saúde que têm chamado a atenção do País recentemente foram usados em sinal de alerta pelas organizações Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO

Nesta quarta-feira, 25, o Ministério Público Estadual (MPE) instaurou inquérito civil para apurar o motivo de os índices de vacinação infantil na capital paulista e nas demais cidades do Estado estarem baixos, em especial os da poliomielite.

O Estado informou que ainda não foi notificado sobre a investigação, mas que vai prestar todos os esclarecimentos ao MPE. A Secretaria Municipal de Saúde diz, em nota, que a cobertura da vacina contra a poliomielite em 2017 na cidade foi de 84,8%, superior aos dados divulgados pelo ministério, de 30,6%, e que o Município atualizar informações sobre doses aplicadas em um sistema próprio.

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Perguntas e respostas sobre o sarampo

Como se pega o sarampo?

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O sarampo uma doença viral e contagiosa. Segundo Filipe Piastrelli, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o paciente adquire a doença por partículas respiratórias e nem sempre quem transmite está com sintomas. "O vírus pode entrar pela conjuntiva do olho ou pelas mucosas, começa a se multiplicar e chega à circulação sanguínea, quando atinge o maior potencial de transmissão."

Quais são os sintomas?

O primeiro é a febre, que quase todos os pacientes têm. Depois de um ou dois dias, tem início um quadro com tosse, coriza e conjuntivite. Só depois aparecem as lesões na pele. "A incubação dura de sete a 21 dias, mas a pessoa começa a transmitir cinco dias antes de aparecerem os sintomas e continua transmitindo por cinco dias", explica o infectologista do Sabará Hospital Infantil Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior.

Como é feito o diagnóstico?

Por exames clínicos e laboratoriais.

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Se for confirmado que o paciente está com sarampo, ele deve ficar isolado?

Sim. Como é uma doença contagiosa, ele deve evitar o contato com outras pessoas e, caso receba visitas, elas devem usar máscaras.

A vacina é eficaz para evitar a doença? Em quanto tempo ela começa a fazer efeito?

"É uma vacina boa, com mais de 90% de eficácia. A proteção plena vai ocorrer de dez a 14 dias", diz Oliveira Júnior.

Qualquer pessoa pode tomar a vacina?

Não. Assim como a vacina da febre amarela, ela é feita com vírus vivo atenuado. Ela não é recomendada para gestantes, bebês com menos de 1 ano e pacientes imunodeprimidos. "A primeira escolha é fazer a vacina, se a pessoa tem alguma contraindicação, faz a imunoglobulina, que tem anticorpos formados e reduz formas graves da doença", explica Piastrelli.

Quantas doses devem ser tomadas? 

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Tanto o Ministério da Saúde quanto a Organização Mundial da Saúde recomendam duas doses durante a vida. No Brasil, as doses são aplicadas com 12 e 15 meses de vida. Caso a pessoa só tenha tomado uma dose, deve tomar a segunda até os 29 anos. Se nunca tomou até essa idade, só será necessário tomar uma dose entre os 30 e os 49 anos.

A pessoa deve tomar a vacina se perdeu a caderneta e não sabe se foi imunizada?

Sim. As doses recomendadas devem ser tomadas pelo paciente.

Pessoas que tiveram contato com pacientes infectados também são beneficiadas pela vacina?

Se tomada até 72 horas após o contato, a vacina é capaz de reduzir formas mais graves da doença. Mas as ações de bloqueio sempre devem ser realizadas.

Fontes: Filipe Piastrelli, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, gerente de qualidade e do serviço de controle de infecção hospitalar do Sabará Hospital Infantil; Ministério da Saúde; Organização Mundial da Saúde

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