TDAH, a doença de estar sempre atrapalhado

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Por Agencia Estado
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Você tem dificuldade de prestar atenção em aulas, palestras ou conversas, se pega pensando em outra coisa e, quando volta ao assunto, já não sabe do que se trata? Nunca se lembra onde deixou as chaves do carro? Volta pra casa para conferir se trancou mesmo a porta ao sair? Muita calma nessa hora. Ter alguns desses sintomas - que todo mundo tem, em maior ou menor intensidade - não significa que você seja portador de TDAH, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Mas o contrário também é verdadeiro. "Na medicina, alguns diagnósticos não têm meio termo: ou é diabético ou não é, ou está grávida ou não está. No caso do TDAH todo mundo tem um pouquinho", alerta Marcos Romano, psiquiatra que coordena o ambulatório de TDAH da Escola Paulista de Medicina. "O TDAH é uma deficiência na função executiva do cérebro. Imagine que fosse uma orquestra. As outras funções cognitivas (os músicos) estão subordinas à essa função executiva, que seria o maestro. Os músicos tocam muito bem, o problema é o condutor da orquestra", explica. Como diferenciar quem tem TDAH de quem não tem? "É preciso verificar as escalas diagnósticas. Aquele que não tem TDAH vai apresentar algum sintoma, e irá variar conforme a quantidade, a intensidade e a freqüência", explica o médico. Muito mais "famoso" em crianças, o transtorno de atenção e hiperatividade persiste em uma parcela delas quando crescem. "Um adulto com o problema, normalmente já tinha TDAH na infância", confirma Romano. São três categorias de sintomas de TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Na idade adulta, o que costuma persistir é a falta de atenção. "Tenho pacientes graves que levam 20 minutos para sair de casa, pois verificam várias vezes se esqueceram a chave. Quando voltam, esquecem o celular. E assim vão atrapalhando a vida, estão sempre atrasados. O portador de TDAH só não se atrasa, se for ansioso. Eles nunca percebem o tempo passar." Adulto com TDAH e sintoma de hiperatividade não usa agenda. Se usar, esquece de consultar e perde o compromisso do mesmo jeito. "Eles acham que podem dar conta, já que nunca se viram de forma diferente. Não têm parâmetro, por isso acabam adquirindo depressão ou ansiedade." Pessoas que falam muito, que têm dificuldade de esperar, pegar fila, são os impulsivos. "Essa impulsividade os coloca em risco para uso de álcool e drogas, que têm efeito contrário e funcionam como calmantes", alerta Romano. Não tem cura, mas tem remédio. A Ritalina, usada há 50 anos, é o mais conhecido, e deve ser tomado de 2 a 3 vezes por dia. Mais moderno, o Concerta é ministrado em dose única. "Fica mais fácil de os pacientes lembrarem de tomar." E mudar de vida. Silvio Vitale é portador da doença há 30 anos, mas só descobriu recentemente. Apesar de ter o raciocínio rápido e conseguir fazer cálculos complexos, não consegue decorar a tabuada. Antes de começar o tratamento, explica, fazia tudo duas vezes. "No banho, por exemplo, lavava o mesmo braço várias vezes, pois não conseguia me lembrar do que já havia feito". Há alguns anos ganhou da namorada um livro sobre o problema. "No segundo capítulo, estava em prantos ao ver que era igual à minha história." Ali ele identificou sintomas como a rapidez de raciocínio e o fato de repetir ações (como a do banho) por não lembrar que estavam feitas. Ele diz que quem tem TDAH não consegue ficar quieto e não termina nada do que faz. "É muito difícil lidar com o fracasso. Não sou burro e não consigo fazer coisas idiotas. Não sei tabuada, mas sei matriz de quarto grau. Há um estereótipo de louco, irresponsável. E já aprontei muito com o respaldo da doença." Segundo ele, a doença é perigosa, pois bebidas e drogas funcionam como remédio. Há quatro meses ele vem tomando medicamentos receitados por especialista. "Agora que estou na atividade, trabalhando, fico mais atento. O remédio está funcionando."

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