'Tentou fazer recuperação em casa, tomou ivermectina', diz primo de vítima de 36 anos

Remédio não tem eficácia contra a doença; potiguar frequentava academia e não tinha comorbidade

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Por Ricardo Araújo
Atualização:

*Depoimento de Bruno Belmont, primo de Gerdson Damasceno, morto aos 36 anos pela covid, sem comorbidade, em Natal.

"Ele tinha 36 anos, iria fazer 37 em agosto. Ficou em casa um bom tempo dizendo que era apenas uma gripe que pegou do padrasto, que trabalha com embarcação. Mas eles fazem testes antes de ir e até mesmo lá, na Petrobras. E quando fez o teste com o padrasto, deu negativo. Essa gripe foi piorando, piorando... E ele cada vez mais em casa. 

Estoques de kit intubação estão no limite nos hospitais. Foto: Andre Penner/AP

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Depois, foi fazer o teste para a covid e deu positivo. Aí foi onde tentou fazer sua recuperação em casa, tomou ivermectina (remédio defendido pelo presidente Jair Bolsonaro e cuja ineficácia foi comprovada pela ciência. A fabricante do remédio não recomenda a prescrição em casos de covid-19). Cada vez mais, o estado de saúde piorando. Quando foi no 11º dia, não aguentou mais. Ele não aguentava se levantar da cama para ir ao banheiro fazer suas necessidades. E tivemos de levar ele para o hospital. Chegando ao hospital, foi para a ala da UTI da covid. 

A saturação estava muito baixa, na faixa dos 50%, e teve de ir para o oxigênio direto. No domingo, foi entubado e na quinta faleceu com uma parada cardiorrespiratória. 

Comorbidade, não tinha. Era atleta, jovem. Todos os dias ele caminhava no condomínio. Estava começando a fazer tênis e também ele fazia muito academia. Não fumava. Bebia socialmente, mas não vivia bebendo. Era solteiro, não tinha filhos. Morava com a mãe e com o padrasto. Era autônomo, mexia com compra e venda de carros, mas não tinha um negócio certo. A gente era muito próximo. 

Ele era muito família. Nunca se espera que vai acontecer com a gente ou com uma pessoa próxima. A gente só começa a entender essa doença depois que um ente querido próximo adoece e falece, perde essa luta contra a covid. Começa a ficar mais receoso, com medo, a fazer as coisas que a OMS determina, a limpeza das mãos, uso da máscara, só sair (de casa) com extrema necessidade, uma urgência mesmo. A gente começa a se preocupar mais com isso. Até então, quando não acontece nada perto da gente, a gente não liga muito. Eu mesmo não estava ligando muito. Com essa perda, tanto ele como a esposa do meu tio, a gente começa a se preocupar mais. Minha esposa está grávida de oito meses e estamos muito abalados e preocupados. Estamos tomando todas as medidas para não pegar essa doença, que é terrível." /DEPOIMENTO A RICARDO ARAÚJO, ESPECIAL PARA O ESTADÃO

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