08 de setembro de 2021 | 16h51
A aplicação da terceira dose da vacina contra a covid-19 tem levantado discussões em relação ao imunizante que será administrado como reforço para idosos e imunossuprimidos. O Estado de São Paulo tem priorizado a Coronavac a despeito da posição do Ministério da Saúde, que a partir da semana que vem planeja repassar doses de outros fabricantes destinadas a esse público.
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O debate em torno do uso da Coronavac ganhou força diante de indicativos de que a vacina poderia oferecer uma proteção menos ampla aos mais velhos, e por isso seria menos indicada como terceira dose. No seu lugar, o governo federal tem defendido o uso de vacinas da Pfizer, AstraZeneca e Janssen. A seguir, veja perguntas e respostas sobre o assunto.
Especialistas alertam que usar este imunizante como dose de reforço em idosos não se configura como uma boa estratégia. Isto porque dados mostram que a Coronavac teria uma efetividade relativamente menor no grupo de mais idade. "O objetivo dessa dose de reforço é aumentar os anticorpos e a proteção contra a variante Delta, que é a grande preocupação agora. E nós já sabemos, até por estudos no Brasil, que a Coronavac dá uma resposta menor nos idosos que nos mais jovens. Essa resposta diminui com o tempo e precisa de um reforço adicional", explicou ao Estadão a infectologista Raquel Stucchi, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Esta vacina é segura e eficaz, tendo desempenhado um importante papel na redução de casos e mortes por covid-19 no País, na análise de especialistas. Dados recentes indicam que ela pode ser um pouco menos eficaz que o esperado em públicos específicos, como idosos maiores de 80 anos, o que fez crescer o debate sobre uso de uma outra vacina para a terceira dose. Em um cenário em que a variante Delta avança rapidamente, essa discussão tem ganhado força.
Para o ministro Marcelo Queiroga, os idosos que receberam as duas doses do imunizante da Coronavac devem tomar a dose adicional de outra fabricante, como da Pfizer, prioritariamente, ou da AstraZeneca ou Janssen. A orientação é que Estados e municípios não usem doses da Coronavac para imunizar idosos nesta nova etapa de vacinação.
Os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro já anunciaram o uso deste imunizante como dose adicional para a população mais velha e para imunossuprimidos. Em São Paulo, João Doria antecipou o calendário para aplicação da terceira dose e colocou a Coronavac como opção prioritária. No primeiro dia da aplicação, a vacina encontrou hesitação por parte dos idosos.
No Rio, o governo vai alternar as aplicações, de modo a imunizar com a Coronavac quem recebeu as duas doses de outras marcas, e doses da AstraZeneca ou da Pfizer para aqueles que receberam as duas aplicações anteriores com a Coronavac. No entanto, a cidade do Rio não vai usar a Coronavac como opção.
Para o Instituto, não há motivo para que o Ministério da Saúde não faça uso da Coronavac como opção para a dose adicional. O Butantan afirmou que a pasta “atua desde o início da pandemia para desqualificar uma das melhores vacinas disponíveis no mercado”.
Segundo o instituto, estudos feitos pela fabricante Sinovac mostram que uma dose extra da Coronavac oferece “robusta reação imunológica e aumento na produção de anticorpos”. Nesta quarta-feira, 8, Dimas Covas, diretor do Butantan voltou a defender a Coronavac após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspender lotes da marca. “É importante dizer que é a vacina mais segura do mundo. Já tem um perfil de segurança avaliado em mais de 1 bilhão de pessoas”, afirmou.
Renato Kfouri, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), também defende a postura do Ministério da Saúde e órgãos como o CONASS e o Conasems de optar pela preferência à Pfizer na aplicação da dose de reforço. "Os dados são inequívocos em mostrar que a resposta imune dela é mais robusta, principalmente nessa situação, principalmente com a disseminação da Delta."
Já para Fernando Reinach, especilista em biologia celular e molecular, o uso da Coronavac para imunizar os idosos é uma decisão de alto risco, como afirmou em coluna publicada no Estadão. "Isso porque temos a opção de utilizar as vacinas da AstraZeneca e da Pfizer que podem ser usadas como dose de reforço. É preciso retirar a Coronavac do esquema de terceira dose dos mais idosos. Cabe à Anvisa garantir que assim seja feito, retirando a permissão de uso da Coronavac em idosos." /COLABORARAM MARIANA HALLAL E FELIPE RESK
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