Tipo 3 da dengue eleva mortes pela doença em 2005

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Entre 2004 e 2005, o número de doentes de dengue cresceu em 23 das 27 unidades da federação. O maior aumento foi no Ceará, onde os casos subiram quase sete vezes de um ano para o outro - de 3.093 para 20.918. Também foi o Estado onde ocorreu a maior parte das mortes pela dengue hemorrágica. Das 43 registradas no Brasil, 19 foram no Ceará - mais que o dobro das mortes em todo o País em 2004. Diante da situação preocupante, o governo cearense anunciou ontem que irá dirigir suas atenções às 17 cidades que em 2005 concentraram 80% dos casos, incluindo Fortaleza. Segundo o secretário estadual da Saúde, Jurandi Frutuoso, um dos principais problemas do Ceará é o fato de muitas pessoas não permitirem que os vigilantes de saúde entrem em suas casas à procura de focos do mosquito transmissor da doença. "O índice chegou a 9%", diz Frutuoso. "Uma única casa de onde não eliminamos o mosquito já é suficiente para contaminar um quarteirão inteiro." O secretário destacou que o Estado prioriza a notificação dos casos. "Aqui não existe subnotificação. Dos 184 municípios, 178 identificaram a doença." Apesar dos números pouco animadores, o Ministério da Saúde confirma que o Ceará é um dos Estados que mais têm se empenhado no combate à dengue - da eliminação do mosquito às campanhas de conscientização. "Em 2006, certamente vamos ter bem menos casos", aposta o secretário da Saúde. 43 mortes O número de mortes por dengue no ano passado foi o segundo maior da história do País. A doença matou pelo menos 43 pessoas entre janeiro e novembro, segundo o Ministério da Saúde. O número de vítimas aumentou cinco vezes em relação a 2004, quando houve oito mortes. O saldo de mortos só não é maior que o de 2002, ano em que o Brasil teve a sua pior epidemia de dengue. Naquele ano, morreram 150 pessoas. O Estado que mais sentiu a força da doença foi o Rio. A maior parte das 43 mortes do ano passado (32) foi registrada no Nordeste. Os Estados mais afetados foram o Ceará e a Bahia - 19 e 8 mortes, respectivamente. A dengue, no entanto, pode ter sido ainda mais fatal. Em primeiro lugar, porque o balanço nacional não contabiliza os números de dezembro, que ainda estão sendo apurados pelos Estados. Depois, porque o Ministério da Saúde ainda não recebeu os dados de outubro e novembro do Rio e os de novembro da Bahia. E, finalmente, porque muitas vezes a dengue é confundida com outras doenças, principalmente a leptospirose. Sorotipo 3, o pior Segundo o Ministério da Saúde, o elevado número de mortes é justificado pela dispersão do sorotipo 3 da dengue pelo País. Foi esse sorotipo que provocou a histórica epidemia de 2002. "No ano passado, a doença atingiu principalmente cidades de médio porte do Nordeste e cidades de grande porte do Norte, locais em que a população ainda não havia tido contato com o sorotipo 3", afirma Fabiano Pimenta Júnior, diretor de Gestão da Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde. O Brasil tem hoje em circulação os sorotipos 1, 2 e 3. Quem se infecta uma vez não contrai mais o mesmo sorotipo, mas pode ser infectado pelos outros dois. Os sintomas de uma segunda infecção são geralmente muito mais fortes e podem incluir hemorragias - é a dengue hemorrágica que leva às mortes. O tipo 3, que chegou ao Brasil no final de 2000 e continua se espalhando pelo País, é o mais forte de todos. Segundo um levantamento feito pelo Centro de Referência da Dengue, em Campos (RJ), 65% dos doentes da cidade desenvolveram dengue hemorrágica logo na primeira vez em que contraíram a doença - e não na segunda, como costuma ocorrer. SC e RS estão livres Os três tipos da dengue estão em praticamente todo o Brasil. Os únicos Estados livres da doença são Santa Catarina e Rio Grande do Sul - os poucos casos registrados são "importados". Em Rondônia existem apenas os sorotipos 1 e 3. Uma das preocupações dos especialistas em saúde é que o tipo 4 pode chegar ao Brasil em qualquer momento. Ele já existe em três países vizinhos - Venezuela, Peru e Guiana Francesa. Com quatro sorotipos em circulação no País, as habituais epidemias da doença ficariam ainda mais perigosas. Troca de prefeitos A quantidade de doentes no ano passado foi 60% maior do que no ano anterior - 186.702 casos em 2005, contra 117.519 em 2004. O número, no entanto, foi bem menor que em anos anteriores - principalmente se comparado com os mais de 794 mil doentes em 2002. Entre as causas apontadas para o aumento entre 2004 e 2005 está a troca de prefeitos, o que interrompeu as ações contra a doença em várias cidades. O combate à dengue - que consiste basicamente na eliminação do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti - é feito pelos Estados e pelos municípios, sob coordenação e financiamento do Ministério da Saúde. Dos R$ 736 milhões que o ministério destinou no ano passado aos governos locais para ações de vigilância em saúde, estima-se que 70% tenham sido aplicados na dengue. "A doença havia sido erradicada do Brasil na década de 60, mas acabou voltando na década de 80", lembra Luiz José de Souza, coordenador do Centro de Referência da Dengue. "Agora se espalhou de tal forma que chegamos à conclusão de que não podemos mais erradicá-la, principalmente por causa da falta de saneamento. Como teremos de conviver com ela, o que nos resta é a prevenção."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.