'Tive medo de dormir e não acordar mais', diz vítima da dengue

Operadora de telemarketing e moradora de Sorocaba, Solange Marques ficou sete dias de cama; pai, que não morava no mesmo bairro, também ficou doente. Dados do Ministério da Saúde indicam aumento de 600% nos casos da doença.

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - A operadora de telemarketing Solange Fabrício Marques, de 32 anos, ficou sete dias de cama depois de pegar dengue, em Sorocaba, interior de São Paulo. “Foi muito forte mesmo, achei que ia morrer. Dava um sono incontrolável, mas eu tinha medo de dormir e não acordar mais”. Ela conta que os sintomas apareceram em maio, quando começou a sentir dores nas articulações, moleza no corpo e “vontade de não fazer nada”.

Solange passou por consulta no posto de saúde próximo do bairro onde mora, o Parque Esmeralda, na zona oeste da cidade, e recebeu o diagnóstico de dengue. “Estava desconfiada, pois já tinha febre alta, as dores nas pernas e nos braços ficaram mais intensas, doíam os ossos e eu não conseguia ficar em pé. Minha mãe precisava me ajudar para ir ao banheiro. Ela chegou a me levar carregada e me dava banho”, conta.

Solange Marques teve dengue e ficou sete dias de cama Foto: Arquivo Pessoal / Solange Marques

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Logo apareceram bolinhas vermelhas no corpo e, no final da doença, ela passou a sentir muita coceira. “Aí, o sono sumiu. Era tanta coceira, principalmente nos pés e na palma das mãos que eu não conseguia dormir e ficava de madrugada no banheiro, lavando o corpo com água fria.” Durante todo o período, ela tomou soro para hidratação e controlou a febre com antitérmicos. “Não adiantava muito, tive que esperar o ciclo da doença terminar.”

A operadora disse que os agentes da saúde foram à sua casa, mas não encontraram focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. “Eles examinaram as garrafas vazias, alguns vidros, até o reservatório da geladeira e não tinha nem larva. O Aedes voa, pode ter vindo de alguma casa vizinha.”. 

O pai de Solange, o locutor Elieser Fagundes Marques, de 52 anos, que na época não morava na mesma casa, também pegou dengue um mês depois. “Fiquei tão ruim que, quando chegava gente, não conseguia me levantar para abrir a porta.” Ele disse que passou a tomar muito cuidado para não correr o risco de pegar de novo. “Se a gente volta a ter, fica mais grave. Fico de olho em possíveis focos do mosquito. Não dá para brincar com a dengue”, afirmou.

Vítima fatal

A família do comerciante Miguel Hernandes, que morreu vítima da dengue no dia 23 de abril deste ano, em Bauru, interior de São Paulo, ainda não se conformou com a perda. Ex-secretário municipal e ex-dono de um bar famoso na cidade, Miguel tinha 68 anos e teve a forma hemorrágica da dengue. A professora Luciene Sierra Maximino, irmã da esposa de Miguel, conta que o cunhado tinha muito cuidado com a doença. “Na época tinha muita dengue no bairro (Jardim Europa) e ele vivia chamado a atenção da gente, dizendo 'olha, ali pode ter o bicho'. Quando meu filho Rafael pegou dengue, algum tempo antes dele, o Miguel chegou a dizer que a culpa era do pote de água do cachorro.”

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Luciene contou que Miguel começou a reclamar de dores nas pernas e no corpo no domingo, mas não achava que era dengue. “Na quarta-feira, ele teve um desmaio e a esposa chamou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Na UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) detectaram que ele estava com as plaquetas baixas e recomendaram a internação. Na quinta, ele foi direto para a UTI do Hospital São Luiz, já no soro.” Segundo ela, o quadro dele foi só se agravando. “Eu, meu marido a esposa e os filhos íamos todo dia ao hospital e a gente via que ele estava ruim. Por fim, acabou falecendo no dia 23 de abril.”

A morte causou repercussão na cidade. Miguel havia sido dono do Mar Marisco, um restaurante de frutos do mar famoso nas décadas de 1980, 90 e no início dos anos 2000. Na prefeitura, ele exerceu o cargo de secretário das Administrações Regionais. Além da esposa, ele deixou dois filhos jovens. “Foi um baque para toda a nossa família. Ele tinha 68 anos, mas era um homem ativo, inteligente, sempre bem disposto. A gente vai superando com muita união, mas ninguém se conforma ainda. Lembro que, numa das visitas, no hospital, ele disse: ‘pois é, o bicho me pegou’. A gente tem de aceitar, mas não se conforma”, disse Luciene.

Dados divulgados nesta quarta-feira, 11, pelo Ministério da Saúde, mostram um avanço da doença no país. De janeiro até 24 de agosto, foram registrados 1,4 milhão de casos, seis vezes mais do que o registrado no mesmo período do ano passado (205.791). Pelo menos 14 Estados estão em situação de epidemia. 

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