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Tratamentos com plasma contra covid-19 não têm eficácia comprovada, diz OMS

Com uso emergencial aprovado pela agência regulatória de medicamentos dos EUA, a Organização Mundial da Saúde afirmou que são necessários estudos maiores para comprovar efeitos contra o novo coronavírus

Por Mílibi Arruda
Atualização:

A cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, afirmou nesta segunda-feira, 24, que os estudos existentes sobre o uso de plasma sanguíneo no tratamento de covid-19 não são suficientes para comprovar eficiência.

“Os estudos realizados [sobre plasma] foram relativamente pequenos. Em alguns casos, apontaram para alguns benefícios, mas ainda não são conclusivos”, afirmou durante coletiva de imprensa. "No momento, as evidências que existem ainda são de baixíssima qualidade".

A cientista-chefeda Organização Mundial da Saúde, Soumya Swaminathan. Foto: Fabrice Coffrini/Pool via Reuters

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Após pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trumpa agência regulatória de alimentos e medicamentos do país -a Food and Drug Administration (FDA) - autorizou o uso emergencial da terapia neste domingo, 23. Soumya afirmou que as nações podem optar por esse tipo de aplicação enquanto não existem resultados definitivos, se avaliarem que os benefícios do tratamento compensam os riscos.

“O plasma convalescente ainda é uma terapia experimental. Recomendamos que ela continue a ser avaliada em estudos bem organizados com pacientes randomizados”, acrescentou a cientista. O principal ensaio sobre o tratamento, realizado pela organização de pesquisas norte-americana Mayo Clinic, não foi randomizado - quando os participantes são escolhidos de maneira aleatória.

O diretor-geral assistente da OMS, Bruce Aylward, disse que os efeitos colaterais da aplicação vão de febre baixa a danos graves no pulmão e sobrecarga circulatória, complicações associadas à transfusão de sangue.

O tratamento consiste em aplicar plasma sanguíneo de pacientes recuperados do novo coronavírus em doentes com a infecção, geralmente com a forma grave da doença. Soumya explicou que essa terapia vem sendo aplicada há mais de 100 anos contra doenças infecciosas, com resultados efetivos contra algumas dessas.

A cientista acrescentou que a implementação do plasma convalescente traz alguns desafios. O primeiro é que cada indivíduo tem um nível diferente de anticorpos após se recuperar, o que faz com que não seja uma terapia padronizada. Além disso, não há doadores suficientes para o número de infectados. Existe também a questão do equipamento utilizado para separar o plasma das demais células sanguíneas, que nem todos países ou hospitais possuem. 

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Bala de prata contra covid-19

Além do tratamento com plasma, a OMS também abordou o uso de anticorpos monoclonais contra a covid-19, que está sendo desenvolvido por diversas empresas farmacêuticas. O medicamento, que consiste em células de defesa fabricadas em laboratório para prevenir a invasão do vírus nas células do corpo humano, pode ser usado tanto para prevenir a infecção, quanto para tratar. 

Aylward afirmou que a terapia é uma parte promissora do conjunto de medidas farmacêuticas contra a doença. Para ele, a aplicação pode vir a imunizar grupos em que uma possível vacina tenha limitações, como os idosos. “Nenhum desses tratamentos são balas de prata mas juntos, felizmente, podem funcionar como uma”, disse o diretor.

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Quando perguntado sobre se a OMS indicava a compra do imunizante desenvolvido na Rússia,  pelo Instituto Gamaleya, Aylward declarou que a organização só recomenda imunizações específicas que passam pelo programa de licenciamento. Soumya afirmou que a entidade está em conversas com as autoridades do país para conseguir os resultados dos estudos, que está na fase 3 de estudos clínicos, para indicar como realizar os próximos testes. 

O diretor-geral da agência, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que 172 países - entre eles, o Brasil - demonstraram interesse em participar do consórcio mundial para garantir vacinação criado pela organização. A iniciativa conta com nove candidatas a imunizante no portfólio, quatro em negociação e outras nove sendo avaliadas. 

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