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Trump pede que pessoas evitem reuniões e EUA vivem escalada de medidas restritivas por coronavírus

Presidente americano diz que epidemia pode durar até agosto; aulas são suspensas, restaurantes e bares são fechados em Nova York e Washington. Restrição de viagem já havia sido anunciada

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla
Atualização:

No horário de pico, ruas movimentadas de Washington, Nova York e cidades da Califórnia estiveram vazias nesta segunda-feira. Crianças e jovens estão em casa, sem aulas, e restaurantes fecharam as portas. Os Estados Unidos viveram na última semana a escalada rápida de medidas restritivas para tentar conter a disseminação do novo coronavírus, que já infectou mais de 4 mil e causou 70 mortes no país. A nova rotina se impôs.

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Nesta segunda-feira, 16, o presidente Donald Trump anunciou o fechamento de escolas e pediu que as pessoas não façam reuniões de mais de dez pessoas. As recomendações servem para os próximos 15 dias. No seu pronunciamento de tom mais grave desde o início da crise do coronavírus, Trump reconheceu que a nova realidade pode durar até julho ou agosto, que a pandemia "não está sob controle" e que a  economia dos EUA pode entrar em recessão. Os mercados financeiros entraram em colapso nesta segunda-feira novamente. 

A Casa Branca pediu aos americanos que evitem bares e restaurantes. A decisão sobre fechamento de negócios, no entanto, segue sem coordenação nacional. Trump disse que os EUA não farão um "lockdown" nacional, como a Espanha, cujo governo ordenou que toda população fique em casa - uma política já implementada por algumas cidades na Califórnia.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: AP Photo/ Evan Vucci

Americanos sentem os efeitos do novo coronavírus

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, vem cobrando que Trump estabeleça as restrições já impostas em alguns Estados nacionalmente.O prefeito da cidade de Nova York, Bill de Blasio, afirmou que estuda todas as opções em termos de toque de recolher. "Vai ficar pior antes de ficar melhor", afirmou.

A cidade que nunca dorme fechou os restaurantes, bares e teatros. Os espetáculos da Broadway foram suspensos na semana passada por 30 dias. Além de parte da alma de Nova York e atração de turistas para a cidade, a Broadway movimentou US$ 1,8 bilhão na temporada passada.

Na capital americana, Washington, mesmo antes de a prefeitura determinar o fechamento de restaurantes até agora, alguns estabelecimentos começaram a fazer isso por conta própria."Apesar de termos tentado continuar a servir durante essa época confusa e sem precedentes, tomamos a difícil decisão de fechar a partir deste domingo", dizia o aviso aos clientes do restaurante Red Hen, em Washington, que em tempos normais tem filas de espera para reservas de até um mês. A partir desta semana, o local só atenderá pedidos para entrega e retirada de comida para viagem.

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A lista de restrições aumenta dia a dia. No domingo, a prefeitura de Washington, determinou o fechamento de casas noturnas e estabeleceu limitações para funcionamento de restaurantes e bares: as mesas poderiam acomodar até seis pessoas, não mais, e estava vedada a prática de sentar no balcão. Na segunda-feira, a orientação foi atualizada: restaurantes e bares terão de fechar as portas, depois de se confirmar a segunda morte por coronavírus na região do Distrito de Columbia, Maryland e Virgínia.

O festival anual das cerejeiras, programado para o dia 4 na cidade, foi cancelado. Neste ano, as árvores que enfeitam os monumentos de Washington irão florir, mas sem as aglomerações de turistas buscando um ramo de cerejeira livre da multidão para tirar fotos.

Na Califórnia, que tem uma economia maior do que a do Reino Unido, as medidas foram extremas. Adultos com mais de 65 anos precisam ficar em casa e a população foi impedida de fazer visitas a hospitais a menos que um parente esteja à beira da morte. Em seis municípios da Bay Area, que abarca São Francisco e cidades ao redor onde está o Vale do Silício, autoridades determinaram que a população permaneça recolhida. A medida afeta 7 milhões de pessoas. O Estado da Pensilvânia fechou todas as lojas de venda de bebida alcoólica, as chamadas "liquors". Em New Orleans, a ordem foi para fechar restaurantes e bares. Ohio, como outros Estados, fechou academias, cinemas e estádios.

Aulas somente online

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Aulas nas escolas e universidades serão feitas virtualmente. Na cidade de Nova York, a prefeitura postergou o quanto possível o fechamento das escolas públicas, por considerar que famílias não têm onde deixar as crianças enquanto trabalham. A decisão no entanto se tornou inevitável: 1,1 milhão de crianças na cidade estão sem ir para a escola e começarão a ter aulas online a partir da segunda-feira que vem, dia 23. Universidades avisaram os alunos que as aulas serão virtuais por todo o semestre acadêmico, caso da Universidade de Columbia, em Nova York.

O trabalho remoto, estabelecido há semanas por empresas de tecnologia, passou a ser adotado em outros ramos. Organismos internacionais, escritórios de advocacia, e até companhias como a Boeing adotaram o home office na semana passada. 

Mercados desabastecidos

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Produtos não perecíveis, como latas de atum, e itens de higiene pessoal, como papel higiênico, estão em falta nos mercados. É comum encontrar prateleiras completamente vazias em mercearias e supermercados de Washington e Nova York, depois de uma corrida para estocar mercadoria diante das recomendações de distanciamento social.

Os serviços de entrega estão superlotados. O pedido de compras de supermercado por delivery costuma demorar 2 horas entre o clique final no site da Amazon e a entrega na porta do cliente. Na semana passada, o prazo se estendeu para três dias. Agora, não há previsão de quando os serviços serão retomados em Washington. 

Aplicativos de delivery de comida feita em restaurantes também se adaptaram. Antes era necessário descer para pegar a encomenda na portaria do prédio. Agora, há a opção de entrega "sem contato".

Diante da falta de produtos e serviços de entrega, amigos e vizinhos têm se colocado à disposição para eventuais ajudas. "Oi, vizinhos. Eu sei que esse é um momento de incerteza, então quero oferecer ajuda", escreveu Julia Sarnoff em um dos aplicativos de interação com a vizinhança, no bairro de Shaw, em Washington. Como ela, outros têm se disposto a fazer compras para vizinhos idosos ou que estão nos grupos de risco.

Com o isolamento social, televisões começaram a exibir programas com especialistas que falam sobre como lidar com medo e ansiedade durante a crise.

Sistema de saúde

Navegar pelo sistema de saúde americano não é das tarefas mais simples. Os relatos de quem tentou fazer o teste na capital americana no final de semana são de entraves e burocracias para pacientes que tiveram exposição a alguém infectado.

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Hospitais e universidades têm solicitado uma recomendação de um médico ou encaminhamento pelo DC Health, departamento de saúde no Distrito de Colúmbia, para realização do teste. Os requisitos pedidos são exposição a alguém infectado e ao menos um dos dois sintomas mais comuns: febre ou tosse seca. 

A conta final da passagem pelo hospital pode chegar a US$ 2 mil - o equivalente a R$ 10 mil. Nos EUA, a fatura do hospital é dividida entre convênio médico e paciente. No caso dos testes de coronavírus, no entanto, a previsão é de que apesar de assinarem a conta os pacientes não recebem a fatura em casa. Isso porque executivos de convênios acordaram durante reunião na Casa Branca em não repassar o custo dos testes aos pacientes. Mas a incerteza quanto aos valores e cobranças também afasta pacientes. A falta de testes em larga escala nos EUA é apontada por especialistas como uma das causas para a rápida disseminação da doença.

Companhias aéreas

Com restrição de voos e cancelamento de rotas, as aéreas pediram ao governo americano mais de US$ 50 bilhões de socorro, em forma de garantias de empréstimo e subsídio tributário. Viajantes vindos da Europa não podem entrar nos EUA por 30 dias, a não ser que sejam americanos ou residentes fixos. Rotas para o Brasil feitas pela American Airlines foram canceladas.

O final de semana foi de caos e filas nos aeroportos americanos, com os novos protocolos de saúde para verificar a chegada dos passageiros que vieram da Europa. As longas filas e esperas de até sete horas foram registradas nos principais aeroportos do país. 

Política

Em meio às limitações de reunião, os partidos ainda não sabem como prosseguir com o calendário eleitoral. Democratas realizam as prévias partidárias nos 50 Estados americanos até julho. Nesta terça-feira, eleitores da Flórida, Illinois, Arizona e Ohio vão às urnas dizer quem preferem como candidato para disputar contra Donald Trump em novembro. Os Estados alegam que medidas de segurança foram estabelecidas para ampliar a distância entre eleitores. Trump afirmou que não vê necessidade em adiar a votação, mas outros locais como Georgia e Luisiana já anunciaram que vão adiar as primárias.

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Durante debate eleitoral neste domingo, os dois candidatos democratas, ambos com mais de 70 anos, foram questionados sobre medidas de segurança para continuarem a realizar a campanha eleitoral. 

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