Chefe de combate a coronavírus em SP defende quarentena de 10 dias; OMS recomenda 14

Coordenador de equipe paulista de combate à epidemia diz que período de incubação pode ser de 3 a 8 dias, mais curto do que se pensava

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Por e Renato Vieira
Atualização:

SÃO PAULO - O infectologista David Uip, coordenador da equipe que combate a pandemia do novo coronavírus no Estado de São Paulo, afirmou que vai sugerir ao Ministério da Saúde que reduza o tempo de quarentena recomendado para pessoas que tiveram possível exposição ao vírus. O prazo atual, de 14 dias, está baseado na literatura médica já disponível sobre a doença. 

"Imaginávamos que o período de incubação ia até 14 dias", diz o infectologista David Uip Foto: MARCELO D.SANTS/FRAMEPHOTO

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“Tem um aprendizado novo” disse Uip, com base nos casos registrados em São Paulo. “Imaginávamos que o período de incubação ia até 14 dias. Estamos vendo que o período de incubação é mais curto. A média é de três a oito dias”, afirmou Uip. “Por isso, vamos propor as mudanças. Nós vamos sugerir hoje (terça-feira) ao Ministério da Saúde que inclusive mude o critério de tempo da quarentena. Que diminua de 14 para 10, o que faz toda a diferença no impacto da força de trabalho, especialmente na saúde.” 

Ele também disse que os casos já registrados em São Paulo têm dado pistas sobre a gravidade dos quadros. “Outra coisa que estamos aprendendo é que a gravidade desses pacientes, que é a minoria (dos casos), se estabelece do terceiro ao sétimo dia”, disse o infectologista. “No paciente grave, a doença se espalha mais rapidamente.”

Em documento publicado no dia 29 de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou uma quarentena de 14 dias para quem esteve perto de pessoas com a covid-19, incluindo aqueles que prestaram cuidados a infectados e quem viajou perto de um deles. O Ministério da Saúde segue o mesmo padrão de isolamento.

Ainda de acordo com a OMS, a quarentena no início de um surto pode atrasar o pico de uma epidemia em uma área onde a transmissão local está em andamento. No entanto, a quarentena também pode criar fontes adicionais de contaminação e disseminação da doença se for implementada de maneira inadequada. Procurado para comentar a declaração de Uip, o Ministério da Saúde não se manifestou até as 20 horas. 

Riscos. Para Paulo Olzon, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a quarentena deve permanecer entre 12 e 14 dias. “Há um receio de que o Brasil se torne igual à Itália, onde a covid-19 se disseminou com rapidez. O País tem tomado algumas atitudes para que isso não aconteça, mas a quarentena precisa permanecer entre 12 e 14 dias.” 

Segundo Olzon, se o período for menor, “pode haver problemas justamente porque não há indícios suficientes de confirmação de possíveis casos”.

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Olzon destaca, porém, que ainda devem ser avaliadas as especificidades de uma epidemia em um país tropical. “Na Europa, hoje epicentro da doença, o frio faz com que a população sofra mais de gripe e pneumonia. No Brasil, a temperatura é melhor. A função respiratória protege a pessoa de doenças virais. Mas podemos também prever que o vírus se adapte à temperatura do Brasil.”

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