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Última esperança de pacientes no Rio, Hospital Zilda Arns tem alta lotação e falta de equipamentos

Em três dias, a taxa de ocupação no hospital, que tem 50 vagas, foi de 51% a 77%. Estado tem fila de 326 pacientes à espera de transferência para a UTI

Por Fabio Grellet e Caio Sartori
Atualização:

RIO - Última esperança dos pacientes de covid-19 que precisam de UTIs no Rio, o Hospital Doutora Zilda Arns Neumann, em Volta Redonda, sul fluminense, enfrenta a crescente redução de vagas, causada pela transferência de infectados pela doença de outros municípios - incluindo a capital, a 130 quilômetros. O processo é veloz: em três dias, de sexta, 24, a segunda-feira, 27, a taxa de ocupação de vagas foi de 51% a 77%. 

Construído pelo governo do Estado, o Hospital Doutora Zilda Arns Neumann foi inaugurado em 29 de março de 2018 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADAO

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Segundo relatos de profissionais que trabalham lá, o hospital tem três alas que somam 50 vagas . Restam poucos leitos vazios – no fim de semana eram seis, mas esse número varia com muita frequência por causa das mortes de internados. Nesta segunda, 27, eram 326 pacientes à espera de transferência para UTIs no Estado.

Profissionais de saúde, que preferem não se identificar, também reclamam da falta de equipamentos de proteção adequados. Sem os macacões do tipo mais adequado para ingressar nas UTIs e tratar de pacientes de uma doença altamente contagiosa como a covid-19, improvisam capotes ou mesmo macacões cirúrgicos, cujo grau de proteção é menor. 

Ainda conforme esses funcionários, diante do risco de contaminação colegas preferem deixar de trabalhar no hospital. As equipes estão desfalcadas: 12 profissionais pediram demissão em poucos dias, afirmam funcionários. Por isso, um técnico de enfermagem - que em condições normais seria responsável por dois pacientes - chegou a atender sete, em seu turno.

A série de mortes lotou também o necrotério, com vagas para 27 corpos. A família da maioria dos mortos mora na capital e não tem condições financeiras de pagar o traslado do corpo. Por isso, alguns cadáveres chegam a ficar cinco dias no necrotério. O Estado do Rio tem 6.828 pacientes confirmados com covid-19; 615 pessoas já morreram, segundo boletim divulgado nesta segunda-feira, 27.

Histórico

Construído pelo governo do Estado, o Hospital Doutora Zilda Arns Neumann foi inaugurado em 29 de março de 2018. Para atender ao 1,2 milhão de moradores dos 12 municípios que compõem o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paraíba (Volta Redonda, Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Barra Mansa, Barra do Piraí, Quatis, Itatiaia, Piraí, Pinheiral, Porto Real e Valença), foi anunciado com 229 leitos, sendo 47 de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), 50 de Unidade Intermediária (UI) e 132 de enfermaria.

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Passados dois anos, em 24 de março passado a unidade de saúde foi entregue adaptada para atender pacientes contaminados pelo coronavírus. Diante do avanço da pandemia, nas últimas semanas o hospital tornou-se a principal alternativa para pacientesde covid-19 que precisam de vagas em UTI no Estado do Rio.

Procurada pela reportagem para esclarecer as condições de trabalho no hospital e informar se há previsão de melhorias, a Secretaria Estadual de Saúde não havia se manifestado até às 20h desta segunda-feira.

Sobre a falta de vagas de UTI na rede estadual, a secretaria informou que “há rotativa (sic) de vagas ocasionadas por altas, óbitos, além de reservas técnicas de leitos para pacientes já internados que possam agravar o quadro clínico”.

A pasta afirmou ainda que “até o momento, 521 novos leitos exclusivos para tratamento de pacientes suspeitos ou confirmados da Covid foram abertos em todo o Estado do Rio. Desse total, 256 são UTIs e 265 enfermarias. Além dessas unidades destinadas, há ainda 137 leitos para o tratamento da Covid em áreas isoladas de outras unidades estaduais.” No balanço total da rede estadual, a ocupação dos leitos de UTI está em 83% e de enfermaria, em 71%.

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Números

Para desafogar as unidades de saúde tradicionais, o poder público previa usar os hospitais de campanha. Mas a montagem dos oito previstos, porém, avança vagarosamente. No último sábado, o primeiro deles foi inaugurado, no Leblon (zona sul). Tinha apenas 30 das 200 vagas previstas – dez das 100 de UTI. As demais unidades só vão ser abertas em maio.

Diante da perspectiva de lotação dos necrotérios, o poder público providenciou contêineres frigoríficos para armazenar corpos. Segundo a secretaria estadual de Saúde, apenas na capital estão internadas 936 vítimas da covid-19, sendo 313 em UTIs. No Estado inteiro são 2.235 no total, e não há dados específicos sobre UTIs.

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