26 de março de 2022 | 05h00
Às vezes nós entramos num ambiente e o ar está pesado. Parece que a gravidade é maior ali dentro, as pessoas estão mais desconfortáveis, sentimos um aperto estranho no peito. Antes mesmo de termos consciência disso tudo, estamos ansiosos por uma saída. E, enquanto não conseguimos escapar, ficamos inquietos, incomodados, como se nosso corpo e nossa mente nos impelissem a deixar aquele lugar e respirar um pouco de ar puro. E quando conseguimos somos inundados por um alívio, como finalmente chegar à tona depois de muito tempo debaixo da água.
Por que estamos cansados?
O protagonista invisível dessa cena é o gás carbônico (CO2). Ao ar livre, sua concentração é algo perto de 400 a 500 partículas por milhão (ppm), e de forma geral estipula-se como aceitáveis concentrações de até perto de 1000 ppm em ambientes fechados.
Quando os locais são mal ventilados, a expiração das pessoas vai progressivamente levando ao acúmulo desse gás, até o ponto de nos sentirmos levemente sufocados – é o que leva ao desconforto e à sensação de ar pesado.
Nosso corpo tem detectores específicos de concentração de CO2, chamados corpúsculos carotídeos, que estimulam o centro respiratório, nos tornando ofegantes em caso de elevação acima do normal. Além disso, a mensagem de sufocação também chega aos centros de resposta emocional, nos dando aquela sensação de urgência em sair dali.
Claro que essa é a resposta para grandes concentrações de gás carbônico, mas estudos recentes mostram que mesmo em concentrações menores – até mesmo aquelas dentro dos limites aceitáveis – nosso organismo pode sentir impactos negativos.
Estudos com funcionários em cargos gerenciais avaliaram seu desempenho cognitivo em dias com diferentes concentrações de gás carbônico no ambiente de trabalho: acima do aceitável, dentro do aceitável ou abaixo do aceitável, equivalente ao ar livre.
Aplicaram-se ao longo de uma semana testes para medir a capacidade de prestar atenção, tomar decisões, planejar ações com objetivos específicos, manter o foco, entre outras habilidades necessárias para o bom desempenho do trabalho.
As pessoas sendo testadas em condições aceitáveis tiveram um desempenho 61% melhor do que as em condições ruins; já aquelas que se sentiam como se estivessem ao ar livre tiveram resultados 101% melhores. Ar puro não é só uma questão de conforto e bem-estar, mas até mesmo de produtividade.
Na retomada das atividades presenciais podemos então cobrar as empresas que invistam em ventilação. Pois, quando souberem que isso não só previne o covid como também é lucrativo, elas respirarão aliviadas.
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