Há dez anos, hospitais filantrópicos vêm investindo no aperfeiçoamento do SUS por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS). Instituído por lei, o programa estabelece que os recursos provenientes da imunidade tributária dos hospitais sejam aplicados em projetos que atendam necessidades identificadas pelo Ministério da Saúde em todo o País, nas áreas de capacitação de recursos humanos, pesquisas de interesse público, estudos de avaliação e incorporação de tecnologias, desenvolvimento de gestão em serviços de saúde e assistência especializada complementar.
Os hospitais também atuam como apoio operacional na incorporação de políticas públicas, novas tecnologias e estratégias para a melhoria da gestão em saúde. Participam do PROADI-SUS o Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC) e Hospital Sírio-Libanês.
Alguns projetos são colaborativos entre os cinco hospitais, potencializando a capilaridade, abrangência territorial e os impactos. Um exemplo é o programa Saúde em Nossas Mãos – Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil, voltado para a redução de infecções em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Nos locais em que está sendo aplicado, envolvendo 120 hospitais públicos, reduziu em 33,4% o conjunto de infecções nas UTIs em 18 meses – ou 2.888 casos a menos. Esse resultado representa 978 vidas salvas.
Expertise de cada hospital
Cada hospital realiza também projetos de acordo com sua expertise. O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, referência em cirurgias do aparelho digestivo, está ajudando o SUS a potencializar a implantação de cirurgias bariátricas pela técnica de videolaparoscopia, incorporada no rol de procedimentos do SUS há dois anos. O trabalho prevê a atualização teórica e prática das equipes por meio de benchmarkings no HAOC para 21 serviços distribuídos nas regiões norte, Nordeste e Centro-Oeste. Os cursos de Ensino a Distância estão na sétima edição e já tiveram 1.363 inscritos.
O HCor, reconhecido por seu nível de excelência em cirurgias cardíacas, realiza desde 2009 projetos para regiões com ausência de serviço especializado, como a cardiopatia congênita, voltado ao tratamento de pacientes portadores de cardiopatias complexas do útero à adolescência. O trabalho contempla desde a realização de cirurgias em crianças que vivem em regiões onde há ausência do serviço até a qualificação de profissionais de hospitais do SUS para operar pacientes com cardiopatia congênita. O projeto contabiliza mais de 13 mil consultas, 272 procedimentos em fetos, 202 partos de bebês com malformações cardíacas, 3 hospitais e 181 profissionais capacitados.
Outro exemplo é o DICA BR, estudo que definiu um padrão nacional de dieta cardioprotetora, que está em implementação na Rede de Atenção Básica; o Impacto MR, que estuda a resistência de microrganismos aos antibióticos em 50 UTIs do SUS; e o Tele ECG, que reúne, em uma central dentro do hospital, profissionais que analisam em poucos minutos eletrocardiogramas realizados em Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) – já foram analisados quase 1 milhão de exames até hoje, além da orientação à conduta médica em exames que apresentam alterações.
Transplantes de órgãos
O Hospital Israelita Albert Einstein também realiza diversos projetos importantes, como o de Transplante, que apoia o SUS na promoção de doação e na captação e realização de transplantes de órgãos em todo o território nacional. Além disso, capacita profissionais que atuam em Centros de Transplantes em 6 estados para a realização de procedimentos na rede pública.
Outros destaques do Einstein no PROADI-SUS são o projeto Big Data na saúde, que está ajudando o SUS a adotar soluções de gestão baseadas em análise utilizando mecanismos de inteligência artificial aplicados ao volume gigantesco de dados disponíveis em diferentes bases da dados do SUS; o projeto Melhoria dos Sistemas de Gestão dos Hospitais SUS, que vai envolver 200 hospitais filantrópicos em todo o Brasil com o objetivo de aumentar o número de atendimentos clínicos e cirúrgicos e a satisfação dos usuários, utilizando os recursos já existentes; e o Planifica SUS, focado no desenvolvimento de metodologias para fortalecer o papel da Atenção Primária à Saúde e na organização da Rede de Atenção à Saúde do SUS.
Por meio do PROADI-SUS, o Hospital Moinhos de Vento vem realizando um abrangente Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Infecção pelo HPV (POP-Brasil). O trabalho já recrutou mais de 8 mil voluntários em 119 unidades de saúde distribuídas em todas as capitais do país. O objetivo é melhorar a compreensão sobre a infecção do HPV no Brasil e orientar as políticas públicas no combate à doença.
Outro estudo desenvolvido pelo Hospital Moinhos de Vento é o UTI visitas, que qualificou profissionais e unidades de 36 hospitais do SUS para a ampliação do tempo de visitas a pacientes internados em UTIs. A conclusão da pesquisa foi que a maior permanência dos familiares ao lado dos pacientes graves é segura para quem está internado e uma importante ferramenta para auxiliar no tratamento. Os resultados foram divulgados no Jornal da Associação Americana de Medicina (JAMA), um dos periódicos científicos mais tradicionais e relevantes do mundo.
O Moinhos de Vento também realiza o Projeto Teleoftalmologia, em parceria com o TelessaudeRS, que oferece atendimento oftalmológico por telemedicina e já efetuou mais de 20 mil consultas, ampliando o acesso ao diagnóstico oftalmológico e, até o momento, obteve uma taxa de 70% na resolutividade dos casos.
Diminuir a superlotação
Reduzir o problema da superlotação de hospitais públicos é o foco do projeto Lean nas Emergências, desenvolvido pelo Hospital Sírio-Libanês. Já foi implementado em 59 instituições de saúde. No ciclo 2, no qual esteve em 20 hospitais, o projeto alcançou redução média de 55% no indicador de superlotação, 44% no tempo de permanência para internação e 40% no tempo de passagem pela urgência até a alta. E mais 20 devem ser beneficiados até dezembro deste ano.
O conjunto de projetos desenvolvidos pelo Sírio-Libanês tem outros destaques. O Regula Mais Brasil consiste num sistema de regulação e qualificação de filas de espera no SUS. Para isso atua de duas formas: usando o recurso de telessaúde para apoiar médicos nas Unidades Básicas de Saúde por meio de teleconsultoria, bem como orientando a regulação das filas para consultas com especialistas. Dessa forma, os casos são classificados a partir de critérios de encaminhamento que priorizam os casos mais graves.
Outro projeto conduzido pelo Sírio-Libanês é o de Bioengenharia de Tecidos para o tratamento de fissura lábio palatina e Malformações Craniofaciais Congênitas. A pesquisa em fissura envolve uma nova terapia, que afeta uma em cada 650 crianças. O tratamento utiliza células-tronco do dente de leite do próprio paciente, evitando o doloroso procedimento de retirada de tecido da bacia para aplicação de enxerto utilizado no método convencional, reduzindo também o período de internação.
São projetos como esses que fazem do PROADI-SUS, há dez anos, uma das maiores parcerias público-privadas do setor da saúde no País.
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