Guia da vacina: o que você precisa saber sobre a campanha de imunização contra a covid-19

Cada Estado define seu próprio cronograma e agendamento da vacinação; máscara e distanciamento social continuam sendo necessários mesmo para quem já foi vacinado

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Por Redação
Atualização:
22 min de leitura

A campanha de vacinação nacional contra a covid-19 começou no dia 18 de janeiro. O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 lista 29 grupos prioritários para a imunização. A maior parte das pessoas com prioridade na vacinação já foi vacinada. Veja aqui o calendário de vacinação em 20 cidades brasileiroas.

Três das vacinas disponíveis no Brasil precisam de duas doses para ter o efeito esperado: a da Pfizer, a da AstraZeneca/Universidade de Oxford e a Coronavac. No caso da Coronavac, o intervalo recomendado entre as doses é de três a quatro semanas; para a de Oxford/AstraZeneca e a da Pfizer o intervalo é de 12 semanas. A vacina da Janssen, que chegou ao País em junho, é de dose única. 

Também há acordos para adquirir os imunizantes Sputnik V, Fundo Russo de Investimentos, e Covaxin, da indiana Bharat Biotec. Estas não foram oficialmente compradas porque ainda não foram aprovadas pela Anvisa.

As vacinas Coronavac, de Oxford/AstraZeneca e da Janssen só poderão ser aplicadas em pessoas maiores de 18 anos. O imunizante da Pfizer já foi autorizada para pessoas acima de 12 anos, mas ainda não há previsão para a vacinação de menores de idade no Brasil. Testes clínicos em crianças e adolescentes estão em andamento em vários países.

Abaixo, perguntas e respostas sobre o assunto:

Anvisa liberou neste domingo uso emergencial das vacinas Coronavac e da Astrazeneca. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

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Quando começou a vacinação no Brasil?

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, autorizou o início do Plano Nacional de Imunização em 18 de janeiro. Um dia antes, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), fez um evento que deu o pontapé inicial para a campanha e começou a aplicação de doses em profissionais de saúde na capital paulista.

Entre os dias 18 e 19 de janeiro, após alguns atrasos, todos os Estados iniciaram a vacinação. A campanha avança para os demais grupos prioritários conforme as doses vão sendo distribuídas pelo País. Os locais de vacinação são divulgados pelos municípios.

Quem pode se vacinar? Já posso ir ao postinho?

Os municípios estão vacinando a população que está contemplada nos grupos prioritários do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 (PNO). Paralelamente, a população em geral está sendo vacinada por ordem decrescente de idade. A vacina ainda não está disponível amplamente, então só se dirija a um local de vacinação se a prefeitura da sua cidade informar que chegou a sua vez de ser vacinado.

Quais são os grupos prioritários?

Os primeiros a receber as vacinas foram os profissionais de saúde da linha de frente do combate à covid-19, idosos com mais de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência, pessoas a partir de 18 anos de idade com deficiência que vivem em residências inclusivas e indígenas que vivem em terras indígenas. Quilombolas foram tirados do topo da lista pelo ministério, mas o governo de São Paulo decidiu que eles também serão vacinados em São Paulo. As pessoas desses grupos receberam a imunização nos locais onde vivem/trabalham, sob a coordenação de cada município.

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Veja a lista completa dos grupos prioritários elencados pelo Ministério da Saúde: 

  • Pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas
  • Pessoas com Deficiência Institucionalizadas
  • Povos indígenas vivendo em terras indígenas
  • Trabalhadores da Saúde
  • População idosa
  • Povos e comunidades tradicionais ribeirinhas e quilombolas
  • Pessoas com comorbidades
  • Pessoas com deficiência permanente
  • Pessoas em situação de rua
  • População privada de liberdade
  • Funcionários do sistema de privação de liberdade.
  • Trabalhadores da educação
  • Forças de Segurança e Salvamento
  • Forças Armadas
  • Trabalhadores de Transporte Coletivo Rodoviário de Passageiros Urbano e de Longo Curso
  • Trabalhadores de Transporte Metroviário e Ferroviário
  • Trabalhadores de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos
  • Trabalhadores de Transporte Aéreo
  • Trabalhadores de Transporte Aquaviário
  • Caminhoneiros
  • Trabalhadores Portuários
  • Trabalhadores Industriais e da Construção Civil

Além destes grupos, o governo federal incluiu as gestantes e puérperas na lista de prioridades. Alguns Estados estão vacinando também as lactantes. 

Vacinação contra a covid-19 Foto: Marcos Müller/ESTADÃO

Todos os profissionais de saúde serão vacinados?

Ao longo da campanha de vacinação, sim. No primeiro momento foram vacinados os que estão na linha de frente do combate à pandemia, as equipes que estiveram inicialmente envolvidas na vacinação e os trabalhadores das instituições de longa permanência de idosos e de residências inclusivas. 

O critério para definir os grupos prioritários foi o grau de exposição à infecção e de maiores riscos para agravamento e óbito pela doença. Equipes de apoio dos estabelecimentos de saúde — como pessoal da limpeza, recepcionistas, seguranças e maqueiros — também devem ser vacinados.

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Cada cidade está montando um cronograma específico para vacinar os profissionais de saúde. Em alguns municípios, todos os profissionais maiores de 18 anos que estejam atuando na área puderam receber a vacina. Em outros, as doses só estão disponíveis para quem está exposto à covid-19.

Quais trabalhadores estão incluídos nessa categoria?

Nesse grupo dos trabalhadores da saúde estão incluídos, além de médicos e enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, odontólogos, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, profissionais da educação física, médicos veterinários e seus respectivos técnicos e auxiliares. Assim como os trabalhadores de apoio, como recepcionistas, seguranças, pessoal da limpeza, cozinheiros e auxiliares, motoristas de ambulâncias e outros que trabalham nos serviços de saúde, mas que não estão prestando serviços direto de assistência à saúde das pessoas.

Estudantes dessas áreas também serão vacinados nesta primeira etapa?

De acordo com Ministério da Saúde, a vacina será ofertada para acadêmicos em saúde e estudantes da área técnica em saúde que estejam em estágio hospitalar, de atenção básica e clínica, assim como aos profissionais que atuam em cuidados domiciliares como os cuidadores de idosos e doulas/parteiras, bem como funcionários do sistema funerário que tenham contato com cadáveres potencialmente contaminados.

O governo de São Paulo criou um pré-cadastro para a vacinação. Devo preenchê-lo?

O Estado recomenda que as pessoas preencham o pré-cadastro no site Vacina Já para agilizar o atendimento nos locais de vacinação e evitar aglomerações. A ferramenta está disponível para toda a população. Os profissionais da educação têm um local específico para se cadastrar e devem preencher o cargo ocupado, a escola em que trabalha e enviar holerites recentes. Quem não fizer o pré-cadastro também poderá se vacinar, mas terá de fazer o cadastro completo no local de vacinação.

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Quais serão os locais de vacinação?

Cada Estado definirá os postos de vacinação. Na capital paulista, a vacinação acontece nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), nos serviços de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) integrados com UBS, em postos drive-thru, em Serviços de Atenção Especializada e em centros-escolas. Veja aqui a lista completa dos locais de vacinação na cidade de São Paulo.

Quais vacinas serão aplicadas no Brasil?

Estão disponíveis quatro vacinas. A Coronavac foi a primeira a chegar e é produzida pelo Instituto Butantan. A vacina Covishield, criada pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca, chegou em seguida e está sendo fabricada pela Fiocruz. A Cominarty, da Pfizer, foi a terceira a desembarcar no Brasil e é fabricada no exterior. Em junho, o País recebeu doses da vacina da Janssen, que também é produzida fora do Brasil.

A Coronavac, Covishield e Cominarty precisam de duas doses para ter o efeito esperado. No caso da Coronavac, o intervalo recomendado entre as doses é de três a quatro semanas. Para a Covishield e Cominarty, o intervalo é de 12 semanas. A vacina da Janssen é de dose única.

Até o momento, as vacinas da Pfizer e a de Oxford/AstraZeneca foram registradas de forma definitiva pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Coronavac e a vacina da Janssen têm autorização emergencial da agência.

A Anvisa negou os pedidos de certificação das fábricas do laboratório indiano Bharat Biotech, que produz a vacina Covaxin. Este aval é exigido para liberar o uso emergencial ou o registro do produto no Brasil. O Ministério da Saúde possui acordos para adquirir 20 milhões de doses do imunizante, mas a compra só será fechada se a vacina for aprovada pela agência.

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O governo federal estaria ainda tentando destravar a autorização da vacina russa Sputnik pela Anvisa.

A vacina será gratuita?

Sim. Inicialmente, a vacina será aplicada apenas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de forma gratuita a toda população.

Há previsão de que se possa comprar a vacina em clínicas particulares?

Ainda não há previsão de compra das vacinas aprovadas pelas clínicas particulares. A autorização da Anvisa para uso emergencial é restrita para a rede pública de saúde.

Como funciona a vacina da Janssen?

O imunizante da Janssen (Johnson&Johnson) é o único aprovado no Brasil que precisa de apenas uma dose para fazer o efeito esperado. A vacina foi aprovada pela Anvisa em 31 de março de 2021 e outros órgãos regulatórios reconhecidos, como a Food and Drug Administration (FDA, dos Estados Unidos), e a European Medicines Agency (EMA, da União Europeia) já tinham dado aval ao produto.

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O Brasil comprou 38 milhões de doses da vacina que devem ser entregues até o fim do ano. A primeira remessa chegou em junho. A princípio, as doses serão distribuídas para todas as cidades do Brasil. "É um imunizante de uma dose apenas e isso permite vacinar o dobro de pessoas em relação às outras vacinas. Com ela a cobertura vacinal pode aumentar muito e outro dado importante é que pode ser conservada entre 2°C e 8°C, o que ajuda bastante na logística", diz Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Para Kfouri, a vacina tem boa eficácia, mas não foi tão bem em estudos na África do Sul, provavelmente por causa da variante do coronavírus que estava circulando por lá. A vacina contra a covid-19 da Janssen registrou eficácia global de 66%, e se mostrou eficaz em 85% para casos graves. 

Por que a vacinação é importante e todos devem se vacinar?

Quanto maior o número de pessoas vacinadas, mais rápido terminará a pandemia. Isso porque diminuirá a circulação do vírus e maior parte da população fica protegida. De acordo com a rede Todos pelas Vacinas, "para uma vacina ser eficaz no indivíduo e na comunidade, ela deve cobrir uma porção determinada da população. Essa quantidade de pessoas depende do tipo de vacina e do patógeno. Uma cobertura vacinal alta previne pessoas vulneráveis a infecções, como pacientes com o sistema imunológico debilitado, recém-nascidos e idosos." Esse fenômeno de proteção indireta é o que ficou conhecido como "imunidade de rebanho". 

As vacinas são seguras?

Sim. Todas as vacinas aprovadas no Brasil contra o coronavírus passaram pelos testes de segurança e foram reconhecidas como seguras pela Anvisa. Os eventos adversos em geral apresentados já em bula são leves. Os mais comuns são dores no local da aplicação e às vezes febre baixa, além de fadiga e dor de cabeça. "Mesmo que existam casos relatados com evolução para alguma gravidade, a chance disso ocorrer é pequena e o risco é totalmente compensado pelos benefícios obtidos com a vacina", explica a rede Todos pelas Vacinas. O grupo também frisa: vacinas não alteram DNA. Isso é impossível. "A gente pode ficar muito tranquilo. Nenhuma vacina vai fazer mal para ninguém, não vai transformar em jacaré. E o benefício que elas trazem para a sociedade supera absurdamente esses riscos mínimos", disse a microbiologista Natália Pasternak, da USP  e do Instituto Questão de Ciência em live no Estadão.

Contrair a covid-19 dá uma proteção melhor do que tomar a vacina?

Não. A imunidade que o nosso corpo desenvolve após contrair a doença ainda não está clara e pode durar pouco tempo, como sugerem os casos de reinfecção que vêm sendo relatados. Além disso, o risco de morrer ao contrair a covid-19 é de cerca de 1% – taxa que aumenta consideravelmente com a idade e com a ocorrência de comorbidades (como diabetes, hipertensão e obesidade). E mesmo quem se recupera da doença pode apresentar ainda por vários meses sintomas, como fadiga, além de outras sequelas mais graves. Então não vale a pena. Melhor tomar a vacina.  

Mesmo vacinado, eu ainda posso ter covid?

A chance com a vacina diminui, mas não 100%. O que os testes indicam, porém, é que mesmo se uma pessoa vacinada contrair a doença, os sintomas podem ser de leves a moderados, mas a chance de precisar de hospitalização diminui muito.

Há um risco da vacina para pessoas mais velhas e doentes?

Os testes tanto com a vacina de Oxford quanto com a Coronavas tiveram poucos participantes idosos e ainda não foi possível concluir quanto elas são eficazes para eles, mas a segurança em geral foi similar.

No dia 28 de janeiro, a Alemanha havia decidido que não aplicaria a vacina de Oxford em idosos. A determinação era em razão da falta de dados mais detalhados sobre os efeitos do imunizante em todas as faixas etárias. No entanto, no dia 4 de março, o país voltou atrás e permitiu a aplicação do imunizante em pessoas acima de 65 anos.

Para Ann Costa Clemens, coordenadora de ensaios clínicos da vacina de Oxford/AstraZeneca no Brasil, a aplicação é segura em todas as idades, mas o estudo ainda não teve tempo de incluir, em seis meses, o grupo de idosos - o retorno seria mais demorado porque pessoas mais velhas tendem a se proteger mais, apresentando menos casos de infecção. 

Hábitos saudáveis podem proteger contra a covid-19 e substituir a vacina?

Não. A rede Todos pelas Vacinas explica: "Qualquer imunização é a provocação de uma resposta imune adaptativa (anticorpos e linfócitos de memória) através da inoculação de antígenos. Uma pessoa só está imune a uma doença se produzir anticorpos e linfócitos de memória. Hábitos saudáveis podem auxiliar na resposta imune eficaz, mas não imunizar".

Quanto tempo após tomar a vacina a pessoa pode se considerar imunizada?

A imunidade depende de cada vacina. Um imunizante geralmente demora de duas a três semanas para fazer efeito. As vacinas Coronavac, de Oxford/AstraZeneca e da Pfizer precisam de duas doses para atingir a eficácia total. No caso da Coronavac, as vacinas devem ser aplicadas com intervalo de 28 dias. Já as vacinas de Oxford e da Pfizer podem ter espaço de 21 dias a 3 meses entre as aplicações. A vacina da Janssen é de dose única.

Quantas pessoas precisam ser vacinadas para se alcançar a chamada 'imunidade de rebanho'?

O epidemiologista Pedro Hallal, professor e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), diz que é preciso imunizar 70% da população para alcançar a imunidade de rebanho. O cálculo é feito com base no histórico de epidemias e campanhas de vacinação já realizadas no mundo. Com o ritmo atual da campanha, essa porcentagem deve ser alcançada no final de 2021.

Se a imunidade de rebanho deve demorar ainda a chegar, quais são os resultados mais imediatos na pandemia que podemos esperar com a vacinação?

Para a microbiologista Natália Pasternak, da USP, quando o número de doses disponíveis for grande o bastante para realmente conseguir atingir os grupos de risco, o primeiro impacto que pode ser sentido é a queda de hospitalização e de mortes.

À medida que a imunização ocorra, as medidas de isolamento podem ser relaxadas?

Não. Os próprios técnicos da Anvisa ressaltaram na reunião pública em que aprovaram o uso emergencial das vacinas Coronavac e AstraZeneca/Oxford que o País ainda está longe de vislumbrar um cenário em que as medidas de restrição impostas com base na ciência deixem de ser necessárias. Por isso, ainda é fundamental manter o isolamento sempre que possível, o distanciamento e usar máscara e álcool em gel.

Depois que eu for vacinado, posso abraçar as pessoas normalmente?

Não. Os cuidados de distanciamento social continuam até que se alcance a imunidade de rebanho, ou seja, em que cerca de 60% a 70% da população esteja imunizada. Como as vacinas não têm 100% de eficácia, ainda existe a chance de se infectar, então é preciso continuar se precavendo.

O que são esses insumos, o tal IFA? 

O chamado Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) é o cerne das vacinas, o insumo principal de todo medicamento, é  substância confere a atividade farmacológica à vacina ou a qualquer outro medicamento. No caso da Coronavac, é o próprio vírus inativado. No caso de Oxford, é um adenovírus modificado geneticamente para carregar com uma sequência genética do Sars-CoV-2. São eles que vão "enganar" o nosso corpo para produzir os anticorpos, que vão reagir se e quando o corpo for realmente contaminado. Os outros componentes presentes na vacina são chamados excipientes e, apesar de não serem responsáveis pela atividade farmacológica, são importantes para seu perfeito funcionamento até o final do prazo de validade.

Quem são os principais fornecedores da matéria-prima?

O Brasil depende da China e da Índia, especialmente, na fabricação de insumos. No Brasil, não há uma política governamental para incentivar a produção dos insumos farmacêuticos ativos. A fábrica que daria autonomia para o Brasil na produção da Coronavac só deve ficar pronta em outubro.

Quais acordos para a importação?

Os insumos devem ser enviados dentro do que foi acordado entre os governos e o Butantan e a Fiocruz. Os dois institutos têm tecnologia para transformar esse insumo em vacinas, mas sem a substância não poderão fazer nada.

Por que o Brasil já não faz o insumo? 

No caso das vacinas do Butantan e da Fiocruz, os IFAs são o vírus inativado e o adenovírus, respectivamente, que serão os responsáveis por gerar a resposta imunológica. A tecnologia de fabricação do IFA é das empresas estrangeiras e ainda não foi transferida para o Brasil. O Instituto Butantan prevê autonomia para produzir a vacina contra a covid - do começo ao fim - em outubro. O Brasil teria condições de produzir esses insumos, pois tem tecnologia e pesquisadores aptos para isso, mas é necessário investimento. As empresas estrangeiras investiram pesado para ter uma vacina tão rapidamente.

Qual a capacidade de produção da Coronavac no Brasil?

O Instituto Butantan tem capacidade para fabricar um milhão de doses por dia, de acordo com presidente do órgão, Dimas Covas. Mas, para isso, ainda depende de insumos feitos pelo laboratório chinês Sinovac, que precisam ser importados. A instituição estima que ainda demore dez meses para ter capacidade de produzir a vacina sem depender de insumos importados. O Butantan está construindo uma nova fábrica que seria capaz de produzir todos os insumos necessários para a fabricação de uma vacina 100% nacional: as obras foram iniciadas em novembro e devem ficar prontas até 3o de setembro.

A vacina de Oxford já está sendo produzida no Brasil?

Sim. A vacina está sendo produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), no Rio de Janeiro.

A taxa geral de eficácia da Coronavac se revelou de 50,38%. O que isso significa?

Essa taxa significa que a vacina reduz pela metade o risco de adoecer. Essa é a capacidade da vacina de evitar casos sintomáticos de um modo geral, independentemente da gravidade. Com ela, a pessoa vacinada tem 50,38% menos chance de desenvolver a doença.

Eficácia da vacina contra a covid-19 Foto: Marcos Müller/ESTADÃO

Qual é a diferença desse número para o que foi anunciado anteriormente, de 78%?

Esse número foi obtido com um recorte do estudo, que considerou a ocorrência de casos leves de covid-19 que demandaram alguma intervenção médica. Foram 31 casos assim no grupo placebo e apenas 7 no que foi vacinado. Ou seja, mesmo entre quem acabou ficando doente, a vacina reduziu em 78% a chance de ter uma doença leve que precise de assistência médica. Essa sim seria uma gripezinha.

A vacina de Oxford tem eficácia melhor?

As duas vacinas têm eficácia suficiente para ajudar no combate à pandemia. Nos testes, a vacina de Oxford foi administrada de duas formas diferentes: na primeira delas, os voluntários receberam metade de uma dose e, um mês depois, uma dose completa. Nesse grupo de voluntários, a eficácia foi de 90%. Já no segundo grupo, que recebeu duas doses completas da vacina, a eficácia foi reduzida a 62%. Esses dois resultados permitiram estimar que a eficácia média da vacina é de 70%.

É possível tomar as duas doses de vacinas diferentes? É possível escolher qual tipo de vacina tomar?

O Plano Nacional de Imunização (PNI) prevê o uso de diferentes imunizantes, mas não a utilização da chamada intercambialidade de doses - quando uma pessoa recebe a primeira injeção de um imunizante e a segunda, de outro. Não será possível escolher qual vacina tomar. Elas estão sendo distribuídas por Estado e a distribuição está a cargo do PNI. 

Grávidas podem tomar a vacina?

Segundo os especialistas, vai depender do caso. "Não há estudos que indiquem efeito prejudicial da aplicação das vacinas contra a covid-19 em grávidas. Porém, fique de olho: também não há, ainda, estudos que comprovem sua segurança nesse grupo", aponta a rede Todos pelas Vacinas. Os estudos clínicos dos imunizantes aprovados para uso emergencial no Brasil não incluiu mulheres grávidas entre os voluntários. Caso pertença a algum grupo de risco – seja ela obesa, hipertensa ou diabética –, a mulher deve ser informada de que se trata de uma vacina nova, ainda não testada para o caso dela. Mas, mesmo assim, ser infectada pela covid-19 representa um risco maior que o de ser vacinada. A recomendação é de que as gestantes conversem com seus obstetras antes de tomar uma decisão. A Sociedade Brasileira de Infectologia chegou a fazer uma recomendação de que a Coronavac é segura para grávidas no terceiro trimestre. Mas isso não está em bula nem na recomendação do PNI.

Quem está com febre pode tomar a vacina? E quem está tomando antibiótico?

As pessoas com febre devem aguardar para receber a vacina. Quem está tomando antibiótico deve conversar com o seu médico antes.

Se uma pessoa infectada, mas sem saber, tomar a vacina, ela pode ter algum problema? Pode tomar? E quem já foi infectado?

Pode. E quem já foi infectado deve, sim, tomar a vacina. Porque a imunidade natural ao vírus não é constante na população e não é mensurável. Algumas pessoas que tiverem uma forma leve da doença às vezes nem produzem muitos anticorpos, enquanto gente que teve uma forma mais grave pode ter uma resposta mais robusta. Quando se dá a vacina para a população como um todo, essa resposta fica padronizada e é mais garantido que de fato todo mundo está imunizado.

A Coronavac pode ser tomada com outras vacinas?

O Ministério da Saúde recomendou um intervalo mínimo de 14 dias entre as vacinas covid-19 e as diferentes vacinas do Calendário Nacional de Vacinação, visto que não foram feitos estudos de administração simultânea das vacinas.

Quando a população em geral vai começar a ser vacinada?

O Ministério da Saúde lançou uma nota técnica em 28 de maio autorizando a vacinação da população em geral por faixa etária. A imunização está acontecendo em ordem decrescente de idade.

Crianças e adolescente também serão vacinados?

Por enquanto não. Ainda não há resultados de testes clínicos das vacinas em menores de 18 anos e o risco para essa faixa etária é considerado menor. A Universidade de Oxford iniciou os testes em crianças e adolescentes em 13 de fevereiro.

Se poucas pessoas forem vacinadas e o intervalo para voltar a vacinar for muito grande, essa imunidade pode se perder? Ou pode não servir pra nada?

A possibilidade cogitada pelo governo de João Doria (PSDB) de adiar a aplicação da segunda dose da vacina Coronavac em um intervalo superior a 28 dias é uma decisão tomada no escuro, segundo especialistas, já que não há dados que demonstrem o quanto uma única dose é capaz de gerar resposta imune.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda que o intervalo continue sendo seguido, já que a aprovação do uso emergencial da Coronavac está baseada nos dados dos estudos apresentados - que falam sobre a aplicação da segunda dose em um período de duas a quatro semanas. "Não há resposta fácil. As vacinas foram testadas para um determinado regime de doses e alterar isso é sempre um risco, porque não há dados científicos para prever o que vai acontecer", explica Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC). 

A imunidade da vacina é duradoura?

Ainda não se sabe. Essa resposta só será obtida com o passar do tempo, depois que muitas pessoas estiverem vacinadas. Há o risco de que novas variantes do vírus possam acabar "driblando" a vacina e muitos especialistas estimam que com o tempo, seja necessário atualizar a vacina e reaplicá-la, como ocorre com as vacinas da gripe. 

Para as variantes que já surgiram do coronavírus, as vacinas disponíveis ainda são capazes de nos proteger?

Mutações em vírus são esperadas e ocorrem com mais rapidez quando o vírus está se replicando muito, como ocorre em uma situação de pandemia. "Até agora, as mutações que apareceram não tornam o vírus tão diferente a ponto de não ser mais reconhecido pela vacina. Mas tem de ficar de olho, porque se aparecer uma mutação muito diferente, vamos precisar adaptar as vacinas", afirma Natália Pasternak.

Um estudo mostrou que a cepa da África do Sul reduz em dois terços a eficácia a vacina da Pfizer. Como ainda não há um parâmetro de referência estabelecido para determinar o nível de anticorpos necessários para proteger contra o coronavírus, não está claro se essa redução tornará a vacina ineficaz contra a variante. Há outra pesquisa mostrando que a vacina é, sim, capaz de neutralizar a variante. A farmacêutica estuda uma terceira dose de reforço para proteger contra essa mutação.

Estudos preliminares sugerem que a vacina de Oxford/AstraZeneca é menos eficaz contra a variante sul-africana, o que fez o país interromper o uso do imunizante. Apesar disso, a OMS recomendou o uso da vacina mesmo para países que tenham a presença das novas variantes, mas sugeriu que cada nação faça sua própria análise de risco/benefício.

Mesmo representando um impacto positivo, a vacina da Johnson & Johnson teve eficácia menor, de 57%, para casos moderados e graves na África do Sul. Os testes foram realizados quando a variante sul-africana já estava em alta circulação. O imunizante da Novavax também apresentou eficácia mais baixa na África do Sul. Em um pequeno ensaio realizado no país, a eficácia da vacina foi de 49,4%.

As vacinas da Pfizer, de Oxford/AstraZeneca e da Novavax foram eficazes contra a variante encontrada no Reino Unido

Vacinas que usam o vírus inativado, como a Coronavac, têm a vantagem de, por usar o vírus inteiro, terem também mais alvos para a vacina, de modo que esse tipo de mutação não deve ser um problema. Mas, por enquanto, uma análise preliminar com dados de oito pessoas sugeriu que a variante de Manaus pode escapar dos anticorpos produzidos pela Coronavac, principal imunizante aplicado no Brasil.

Dados preliminares de um estudo feito pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca indicam que sua vacina induz resposta adequada contra a variante de Manaus.

Quais são as principais variantes encontradas no mundo?

O mundo vive em estado de alerta para três variantes. A cepa Alfa, detectada originalmente no Reino Unido, é 56% mais contagiosa e já foi identificada em mais de 70 países, incluindo o Brasil. A cepa apresenta grande número de mutações, oito delas ocorrendo na proteína da espícula viral (spike). "A spike é a proteína que o vírus usa para se ligar à célula humana e, portanto, alterações nela podem tornar o vírus mais infeccioso. Os cientistas ingleses acreditam que seja esta a base de sua maior transmissibilidade", explica o virologista da Dasa, José Eduardo Levi. 

A epidemiologista responsável pela resposta da OMS à pandemia de covid-19, Maria Van Kerkhove, afirmou no dia 27 de janeiro que a nova variante do coronavírus identificada no Reino Unido parece aumentar a mortalidade. O primeiro-ministro Boris Johnson já havia mencionado possível associação a um maior nível de letalidade. 

A variante Beta, identificada inicialmente na África do Sul, carrega uma mutação em comum com a Alfa, chamada de N501Y. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estudos preliminares apontam que a variante tem carga viral maior e, por isso, maior transmissibilidade. Outros fatores devem influenciar a capacidade de transmissão e estão sendo estudados. Ainda não é possível afirmar que esta variante é mais letal que o primeiro vírus a entrar em circulação. 

A Gama, variante encontrada no Brasil - e já disseminada para outros países - tem mutações em comum com as variantes inglesa e sul-africana. Segundo Lucas Augusto Moyses Franco, pós-doutorando da Faculdade de Medicina da USP e colaborador do grupo Cadde, além de também carregar a N501Y, que provoca alterações na proteína spike do vírus, a nova linhagem "contém uma composição única de mutações definidoras de linhagem", como a presença das mutações E484K e K417N/T. A E484K.  gera preocupação por já ter sido associada em outros estudos a um potencial de escapar de anticorpos. Isso precisa ser melhor estudado, mas, segundo especialistas, é mais provável que esse escape favoreça reinfecções, mas não atrapalhe a ação das vacinas contra a covid. 

A variante Delta foi detectada pela primeira vez na Índia em fevereiro de 2021 e foi classificada como "variantes de preocupação" pela OMS em 10 de maio. Especialistas americanos e britânicos agora acreditam que a cepa Delta é provavelmente mais transmissível. O governo britânico disse em junho que a cepa é "cerca de 40% mais transmissível" do que a variante Alfa, anteriormente dominante, que já era mais transmissível em comparação com a cepa original do vírus.

Quem foi vacinado deve continuar usando máscara? 

Sim. As pessoas devem continuar usando máscara facial e tomando todos os cuidados preventivos até que a transmissão no meio da sociedade tenha caído de forma que seja permitido o relaxamento das medidas de controle. "É importante lembrar que as vacinas devem ser aplicadas em duas doses, no intervalo de tempo indicado. Esperamos que a proteção ocorra após a segunda aplicação. No entanto, devemos estar cientes de que as vacinas foram desenhadas para diminuir a mortalidade, mas não sabemos ainda a eficácia delas para reduzir a transmissão. Então, não sabemos ainda se as pessoas que vão receber a Coronavac ou a vacina de Oxford não podem ter uma infecção pelo vírus e passá-lo para uma pessoa suscetível que ainda não tenha sido vacinada", afirma Lauro Ferreira Pinto Neto, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Santa Casa de Vitória.

Raquel Stucchi, infectologista, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da SBI, também concorda e orienta a população que já foi vacinada. "Quem foi vacinado, que já recebeu uma ou duas doses da imunização, deve continuar usando máscara corretamente e, se for de pano, que seja fabricada com tecido de trama mais fechada e ideal com três camadas", acrescenta. Segundo a especialista, nenhuma vacina tem 100% de proteção. "Posso ter sido vacinado e posso não ter tido resposta adequada à vacina. E em segundo lugar, porque só vamos conseguir diminuir a circulação do vírus quando tivermos 90% da população vacinada. Até que isso acontece, precisamos continuar usando máscara, mantendo o distanciamento social, não fomentando aglomerações e fazendo a higienização correta das mãos", aconselha a professora da Unicamp.

Sendo os idosos pessoas do grupo de risco é importante que todos se vacinem. Caso seja infectado, o idoso terá menos complicações estando imunizado?

Sim. "É importante a vacinação nos idosos, pois as alterações imunológicas associadas ao envelhecimento ou imunossenescência fazem aumentar o risco de infecções e com a vacinação oportunizamos que os mesmos produzam anticorpos neutralizantes contra o vírus Sars-Cov-2 fazendo com que não adoeçam ou pelo menos que evoluam sem gravidade e necessidade de hospitalização", afirma Lorena de Castro Diniz, especialista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

Parentes vacinados não trazem imunidade para idoso que convive junto com eles. Apenas a vacina ajuda a proteger a pessoa?

Segundo Lorena de Castro Diniz, especialista da ASBAI, os parentes vacinados trazem o que chamamos de estratégia cocoon ou de casulo. "Isto é imunidade indireta, pois diminuímos a chance de os contatos se infectarem e consequentemente transmitirem a doença para o familiar idoso", disse. No entanto, essa estratégia apenas é usada quando o idoso ou o paciente tem alguma contraindicação de ser vacinado diretamente. Em suma o ideal é que todos os idosos que possam sejam imunizados.

FONTES: Ministério da Saúde; Governo de São Paulo; Rede Todos pelas Vacinas; Natalia Pasternak, microbiologista da USP e presidente do Instituto Questão de Ciência; Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm);  Luiz Gustavo de Almeida, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Questão de Ciência; Eliana Bicudo, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI/DF);  Rosimeire Alves, doutora em Química Orgânica pela Universidade de Brasília (UnB); Ubiracir F. Lima, membro da Comissão Química Farmacêutica do Conselho Regional de Química/SP; Gerson Pianetti, professor titular na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e conselheiro do Conselho Federal de Farmácia (CFF); Lauro Ferreira Pinto Neto, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Santa Casa de Vitória; Raquel Stucchi, infectologista, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da SBI; e Lorena de Castro Diniz, especialista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).  /  COM REPORTAGEM DE BRUNO RIBEIRO, FABIANA CAMBRICOLI, GIOVANA GIRARDI, JOÃO PRATA, PABLO PEREIRA, PAULO FAVERO, RENATA OKUMURA E ROBERTA JANSEN

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