Vacina de criança com comorbidade em SP tem baixa procura no 1º dia; médicos recomendam imunização

De 64 mil doses disponíveis, só 6.663 foram aplicadas; médica diz que desinformação atrapalha, mas destaca que imunizante é seguro e eficiente para proteger contra o coronavírus

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Por Leon Ferrari
Atualização:

O primeiro dia de vacinação contra o coronavírus em crianças de 5 a 11 anos com comorbidades e deficiência teve baixa procura na cidade de São Paulo. Na segunda-feira, 17, 6.663 doses pediátricas da Pfizer foram aplicadas, conforme a Secretaria Municipal de Saúde. A capital paulista, porém, havia recebido 64.090 unidades do imunizante. A Prefeitura reconhece que a imunização ficou abaixo do esperado. Médicos reforçam que o produto é seguro e eficaz contra o coronavírus. Embora não seja o grupo mais vulnerável à doença, crianças também têm risco de agravamento e a vacinação ajuda ainda a frear a transmissão. 

Desde segunda-feira, 17, São Paulo aplica a vacina da Pfizer contra o coronavírus em crianças de 5 a 11 anos Foto: FELIPE RAU/ ESTADÃO

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O balanço de doses aplicadas no primeiro dia equivale a cerca de 2,8% do total do público-alvo prioritário. Segundo a Prefeitura, há cerca de 236 mil de crianças com comorbidade. Nesta terça-feira, o Município recebeu novo lote do Ministério da Saúde, com 74.730 doses. O imunizante está disponível nas 469 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Assistências Médicas Ambulatoriais AMAs/UBSs Integradas, das 8h às 19h.  ​

“Oferecemos a oportunidade da população se vacinar, e a procura foi aquém do que tínhamos esperado”, disse Luiz Artur Vieira Caldeira, coordenador da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da capital.

Entre os fatores destacados pela Prefeitura estão o período de férias escolares; a característica do público-alvo, que, segundo Caldeira, comparece à vacinação de forma “paulatina”; a dificuldade de conseguir documentação que comprove deficiência ou comorbidade; dificuldade de transporte e locomoção; e a necessidade do acompanhamento de um responsável. Por isso, profissionais seguem indo até a casa das crianças de 5 a 11 anos do grupo de risco que estejam acamadas ou tenham dificuldade de locomoção.

Já na segunda-feira, a Prefeitura abriu cadastro para xepa da vacina, em que pais de crianças sem comorbidade podem entrar em um cadastro. Caso sobrem frascos de imunizante abertos no fim do dia, elas são convocadas pelo posto de saúde para receber a injeção, com o objetivo de evitar desperdício. Das doses aplicadas, segundo a pasta municipal, 730 eram remanescentes. 

Ainda não se fala em abrir a vacinação para outros públicos. A aplicação de doses em crianças sem comorbidade ou deficiência está prevista só para fevereiro. “É precoce pensar em abrir para o público geral, porque ele, na capital, é de mais de um milhão de crianças”, avalia Caldeira. 

Presidente da Comissão de Revisão de Calendários Vacinais da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi atribui a baixa procura, principalmente, à desinformação. “Realmente essas crianças (do grupo prioritário) deveriam estar bem orientadas pelos médicos que as acompanham. São crianças que têm atendimento especial. Acho surpreendente”, destaca.

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Para ela, os motivos que explicam o cenário ainda devem ser investigados a fundo, mas ela relembra estímulos à hesitação promovidos, principalmente, pelo governo Jair Bolsonaro. "Uma campanha de vacinação infantil em que se destaca a não obrigatoriedade, em que você cria uma pesquisa de opinião pública, e depois uma audiência onde você dá voz ao antivacinismo, vai precisar de um esforço muito grande para dar certo”, continua a pediatra. 

Para vencer o desafio da baixa procura, Mônica diz que os melhores caminhos são a informação qualificada e o diálogo com os pais que têm preocupações. “Não dá pra entrar numa guerra, numa briga. Vamos convencer orientando, explicando. É cansativo, mas é a melhor forma de reverter esse cenário, porque o brasileiro por histórico gosta de vacina e acredita em vacina.”  

Para o presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, por ser uma campanha destinada a um público muito específico, não era de se esperar “adesão tão grande assim”. “Quando você abre a vacinação e convoca uma população em geral, a adesão é outra. Estamos falando de um grupo só de alto risco. A vacinação será muito lenta neste começo, enquanto não liberarmos as portas para toda a população”, aponta.

Para serem vacinadas, as crianças devem estar acompanhadas por um responsável maior de 18 anos e apresentar documento de identificação (preferencialmente CPF); carteira de vacinação; comprovante da comorbidade (exames, receitas, relatório ou prescrição médica físicos ou digitais, contendo o CRM do médico e emitido há no máximo dois anos) ou da deficiência permanente (laudo médico, cartão de gratuidade no transporte público, documentos comprobatórios de atendimento em centros de reabilitação ou unidades especializadas ou documento oficial de identidade com a indicação da deficiência).  

Imunizante é seguro e usado em mais de 40 países

A vacinação contra a covid-19 começou no País nesta sexta-feira, 14, quase um mês após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dar aval ao imunizante da Pfizer. Contrário à vacinação, o governo Jair Bolsonaro colocou em xeque a segurança e a eficácia da vacina e convocou uma consulta pública sobre o assunto. O produto é recomendado por médicos e cientistas. A imunização contra covid de crianças já é realidade em mais de 40 países. 

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