Verba adicional para a saúde na pandemia alcança R$ 54,5 bilhões

Valor representa 16,3% dos recursos liberados pelo governo, mas até agora só R$ 9,1 bilhões saíram dos cofres públicos

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Por José Fucs
5 min de leitura

Desde o início de fevereiro, quando dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) modelos E-190 VC2, da Embraer, decolaram de Brasília para resgatar um grupo de brasileiros retido em Wuhan, na China, os gastos do governo com a pandemia não pararam mais de crescer.

Segundo a Secretaria Especial da Fazenda, ligada ao Ministério da Economia, o governo já liberou até agora, em quatro meses, um total de R$ 334,4 bilhões – o equivalente a 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB), que representa a soma de todas as riquezas produzidas no País – para prevenção e combate ao coronavírus e para atenuar os efeitos sociais e econômicos da crise. A conta inclui o pacote de R$ 60 bilhões para auxílio a Estados e municípios aprovado pelo Congresso no início de maio e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro na semana passada.

Governo já liberou, em quatro meses, um total de R$ 334,4 bilhões, o equivalente a 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB), para prevenção e combate ao coronavírus e para atenuar os efeitos econômicos da crise Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

Mas quanto deste total foi aplicado diretamente em ações sanitárias e de saúde? Qual foi o gasto efetivo realizado até o momento pelo governo no enfrentamento da pandemia propriamente dita? Como os recursos estão sendo aplicados na área? 

Para responder a essas perguntas, o Estadão garimpou dados dispersos no balanço mais recente do Ministério da Economia, checou números com técnicos da Fazenda, ouviu vários ministérios e mergulhou nas Medidas Provisórias editadas em série para liberar os recursos necessários ao enfrentamento da peste. 

“Dinheiro novo”

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De acordo com o levantamento, o governo já liberou até agora o equivalente a R$ 54,5 bilhões (16,3% do total) para ações sanitárias e de saúde, contando os R$ 10 bilhões reservados à área no pacote de ajuda aos entes da Federação e mais R$ 5,6 bilhões dos quais o governo abriu mão, com as desonerações tributárias de medicamentos e produtos médicos e hospitalares promovidas pela equipe econômica. Deste total, a maior parte é de “dinheiro novo”, que “brotou” para o País fazer frente à pandemia (cerca de 2/3). O resto veio de remanejamentos de verbas já programadas no orçamento de 2020 (1/3).

Diante das mais de 25 mil mortes registradas oficialmente no País em decorrência do vírus, de quase meio milhão de pessoas infectadas e do drama vivido por suas famílias, qualquer quantia parece insuficiente. Mas, levando em conta as limitações do orçamento, se é que se pode falar nisso agora, quando mais de mil doentes estão morrendo por dia, o volume de recursos liberado pelo governo para a saúde equivale a quase duas vezes o gasto anual com o Bolsa-Família, de R$ 30 bilhões. Equivale, ainda, a cerca de 40% do orçamento original do Ministério da Saúde para todo o ano de 2020 (veja o gráfico). 

“Estamos acima da média (de gastos) praticada pelos países avançados (na pandemia)”, afirma o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues. “Não estamos numa concorrência de quem gasta mais. Mas precisamos considerar o estado social do Brasil, com um número muito alto de vulneráveis.”

Máquina pública

O dinheiro liberado se distribui por vários ministérios. O Ministério da Saúde, obviamente, recebeu o grosso dos recursos suplementares. Segundo o levantamento, foram R$ 36,8 bilhões até o momento, já com o repasse da verba de R$ 2,3 bilhões reservada ao censo, adiado para 2021. É uma fatia que representa 75,3% do total destinado a iniciativas sanitárias e de saúde na crise. A maior parcela – R$ 28,4 bilhões – foi para o Fundo Nacional de Saúde, cujos recursos são distribuídos a Estados e municípios, de acordo com o que consta nas Medidas Provisórias editadas pelo governo para liberação do dinheiro. 

Outros cinco ministérios também receberam verbas adicionais para empreender ações de sanitárias e de saúde na pandemia: Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Defesa, Educação, Justiça e Segurança Pública e Relações Exteriores. Até a Presidência da República levou um naco, de R$ 55 milhões, para realizar campanhas de utilidade pública e divulgar as medidas do governo contra o coronavírus. Os ministérios da Cidadania e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos também receberam verbas polpudas, mas voltadas a ações sociais e econômicas e não diretamente para aplicação na saúde.

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Agora, uma coisa é a liberação dos recursos. Outra, bem diferente, é a capacidade de execução da máquina pública. Além de os gastos serem efetuados ao longo do tempo, dado que as demandas não chegam de uma só vez, há uma dificuldade já conhecida para o governo fazer o dinheiro chegar na ponta – e, agora, mesmo com toda a urgência imposta pela pandemia, não é diferente. 

Segundo dados do Painel do Orçamento Federal, apenas R$ 11,9 bilhões (24,3%) foram empenhados até o momento do total de recursos destinados à área de saúde e sanitária pelos diferentes ministérios. Só R$ 9,1 bilhões (18,6%) foram despesas efetivamente pagas pela administração.

Burocracia de Brasília

De acordo com o levantamento, alguns ministérios, como o da Defesa, conseguiram fazer a “roda” girar, empenhando mais de 70% da verba que lhes coube. Outros, como o da Ciência e Tecnologia, empenharam apenas 14,5% do que receberam e ainda não fizeram nenhum pagamento efetivo, conforme os dados oficiais. 

“Estamos com 34 mil militares envolvidos na Operação Covid-19”, afirma o Almirante Carlos Chagas, porta-voz do Ministério da Defesa. “É a maior mobilização simultânea da tropa desde a Segunda Guerra Mundial. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) tinha 25.800 homens e a operação no Haiti, 37 mil, mas ao longo de 13 anos, com um máximo de mil homens ao mesmo tempo a cada semestre.”

Talvez, se os recursos não se perdessem na burocracia de Brasília e os demais ministérios tivessem a mesma capacidade de entrega demonstrada pela Defesa, a população e os milhares de doentes atingidos pelo vírus, com maior ou menor gravidade, em especial os mais pobres, sofressem menos com a pandemia.

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