PUBLICIDADE

SP pede kit intubação para pacientes com covid em 24 h ao Ministério da Saúde

De acordo com a Secretaria de Saúde, os medicamentos utilizados por pacientes graves são suficientes apenas por 'alguns dias'

Foto do author Gonçalo Junior
Por Gonçalo Junior , Mateus Vargas e Brasília
Atualização:

O governo de São Paulo afirma ter enviado nove ofícios, o último deles na terça-feira, 13, ao Ministério da Saúde solicitando medicamentos do kit Intubação para pacientes graves de covid-19. O objetivo é repor estoques e evitar o desabastecimento de remédios essenciais para o tratamento da doença. Para evitar o colapso no atendimento, o prazo solicitado é de 24 horas. De acordo com o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, responsável pelas solicitações, os medicamentos são suficientes apenas por “alguns dias”.

Governo de São Paulo afirma que enviou nove ofícios ao Ministério da Saúde pedindo kits de intubação para pacientes graves de covid-19 Foto: Miguel Schincariol/AFP

PUBLICIDADE

“Em 40 dias, a Secretaria do Estado da Saúde mandou o quantitativo de nove ofícios para o Ministério da Saúde. Ontem foi o último ofício que nós mandamos porque nós precisamos do apoio do Governo Federal para a produção centralizada dos kits intubação”, afirmou o secretário Jean Gorinchteyn em entrevista coletiva nesta quarta-feira, na sede do Instituto Butantan. 

Em função da gravidade da situação, o secretário estabelece o prazo de 24 horas para a liberação dos medicamentos. A lista inclui quatro bloqueadores neuromusculares, três fármacos para sedação contínua e de um fármaco para analgesia. “Em face desse cenário, é imprescindível o envio de medicamentos para o Estado de São Paulo em até 24 horas, minimamente para suprir o abastecimento de 643 hospitais para os próximos dias”, diz trecho do documento enviado ao governo federal.

A solicitação consta em ofício assinado pelo secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, enviado ao Ministério nesta terça-feira (13), com cópia para a procuradora geral do estado, Maria Lia Porto Corona. 

Desde março, o Ministério da Saúde faz requisições administrativas que obrigam as fábricas a destinar o excedente de sua produção para o órgão, que faz a redistribuição das drogas para os estados, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Questionando sobre as responsabilidades das esferas federal e estadual, o governador João Doria (PSDB) classificou a medida do Ministério da Saúde como “confisco”.

“Não podemos aceitar a informação de que um joga para o outro. Quem fez o confisco, quem fez o sequestro de todos os fabricantes do Brasil foi o Ministério da Saúde. Então continuam os fabricantes sequestrados. Eles não podem vender nem para municípios nem para governos estaduais nem para instituições privadas. Ora, se houve esse sequestro, houve o confisco, cabe ao Ministério da Saúde, sim, a responsabilidade de distribuir insumos para todos os estados brasileiros e os municípios também. Não há embate, há irresponsabilidade do Ministério da Saúde”, criticou.

De acordo com a documentação encaminhada ao Ministério da Saúde, o governo estadual vem informando diariamente o consumo e o estoque dos medicamentos. "A situação de abastecimento dos medicamentos, principalmente daqueles que compõem as classes terapêuticas de bloqueadores neuromusculares e sedativos está gravíssima, isto é, na iminência do colapso, considerando os dados de estoque e consumo atualizado pelos hospitais nesses últimos dias", diz trecho do documento. "Logo, a partir dos próximos dias poderá ocorrer desabastecimento dos medicamentos dessas duas classes terapêuticas em vários hospitais com leitos desatinados à covid-19", conclui. 

Publicidade

A secretaria de Saúde informa ainda que as medicações são suficientes para "alguns dias" e que vem buscando alternativas. “Nós temos medicações na rede estadual de São Paulo que confortam para alguns dias, mas nós precisamos apoiar também os municípios. Criamos, através de chancelas junto à Associação Brasileira de Anestesiologia e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, alternativas para essas medicações. Não existe determinado produto, pode ser utilizado outro com a mesma eficácia e o mesmo fundamento clínico”, afirmou o secretário.

No documento, Gorinchteyn diz que o Ministério da Saúde manteve o estado de São Paulo sem fornecimento de medicamentos por 6 meses, que não esclarece qual o critério adotado para distribuição, e que a pasta “não atuou e não atua como coordenadora nacional do SUS, abandonando os demais entes federativos à própria sorte, criando um cenário de quase caos na disputa por medicamentos do ‘kit intubação’".

Também nesta terça-feira, a Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp) divulgou um alerta sobre o tema. Levantamento junto aos hospitais filantrópicos do Estado - cerca de 300 associados - mostra que o desabastecimento de anestésicos e medicamentos do ‘kit intubação’ é gravíssimo. Os mais de 160 hospitais que responderam à pesquisa apontam que os estoques de anestésicos, sedativos e relaxantes musculares têm, em média, de 3 a 5 dias de duração e que começam a ficar escassos também os antibióticos. "Mesmo os hospitais que apontam entre 8 e 10 dias de estoque a situação é delicada, pois são hospitais maiores que também recebem grande volume de novas internações a cada dia e, dependendo da região, o estoque cai bruscamente de um dia para o outro”, afirma o presidente da Fehosp, Edson Rogatti.

Compra internacional

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, 14, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, repetiu que o governo federal fará uma compra desses medicamentos por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Segundo o ministro, o lote deve chegar ao Brasil nos próximos dez dias e “fortalecer” o estoque regulador da Saúde. Além disso, Queiroga disse que o ministério fará um pregão internacional para a compra de medicamentos usados no processo de intubação de pacientes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.