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Variante Delta: o que o Brasil deve fazer para conter essa nova ameaça?

Especialistas destacam necessidade de reforçar medidas preventivas e acelerar a vacinação contra a covid-19; nova cepa do coronavírus já circula em São Paulo

Foto do author Leon Ferrari
Por Leon Ferrari
Atualização:

Registrada pela primeira vez na cidade de São Paulo na segunda-feira, 5, a variante Delta (B.1.617), detectada originalmente na Índia, tem renovado as preocupações sobre o futuro da pandemia no País. Isso ocorre diante do avanço da cepa observado em países da Europa, ainda que no Brasil sua disseminação seja incipiente - pelo menos conforme os dados oficiais. A estratégia para combater essa ameaça, dizem especialistas, envolve medidas já conhecidas, como distanciamento e máscaras, além de aceleração da vacinação e vigilância genômica. 

“Na medida em que essa transmissibilidade aumenta por essa cepa, a pandemia é reaquecida”, diz o infectologista Martoni Moura e Silva. Para conter o avanço da variante, na opinião dele, é preciso reforçar medidas preventivas e acelerar a vacinação contra a covid-19. Responsável pelo agravamento da pandemia na Índia, a Delta é considerada como “variante de preocupação” pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e, conforme a entidade, já circula em 98 países. 

Aumentar a cobertura vacinal do País contra a covid-19 é crucial, aponta especialista Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

Estudos apontam que a variante é mais transmissível do que a Alfa, descoberta pela 1ª vez no Reino Unido. Nos Estados Unidos, onde a vacinação ocorre a passos largos, a Delta já representa mais de 25% dos novos casos. Segundo o Financial Times, a cepa era responsável por mais de 90% das infecções no Reino Unido e em Portugal no fim de junho, além de avançar na Alemanha, França e Espanha. Esse cenário já freia os planos de reabertura das atividades econômicas em vários pontos da Europa. 

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Sandra Coccuzzo Sampaio Vessoni, diretora do Centro de Desenvolvimento Científico do Instituto Butantan, porém, acredita que a Delta deve encontrar dificuldades para se estabelecer no Brasil. “Os municípios estão com 70% a 100% de casos da variante P.1. (a Gama, originalmente identificada em Manaus). Mesmo achando uma variante importante, o fato de ter uma muito disseminada faz com que não seja fácil alcançar o mesmo 'hub'”, explicou em entrevista ao Estadão.

“Nos outros países onde a Delta se estabeleceu, não havia uma prevalência da variante Gama como no Brasil”, declara Eduardo Macário, superintendente de vigilância em Saúde de Santa Catarina. Ele também acredita que o avanço da cepa indiana no País é uma incógnita.

Veja algumas das medidas apontadas por especialistas:

Rastreio de casos 

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Em um primeiro momento, o infectologista Martoni Moura e Silva acredita ser preciso rastrear as possíveis infecções pela variante no País. “Precisamos isolar os diagnósticos e todos seus contatos." Para ele, um isolamento de dez dias é suficiente para evitar que o paciente contaminado transmita a cepa a outros.

Nesse sentido, também aponta que as barreiras sanitárias precisam ser ainda mais rigorosas. “Precisamos de agilidade das vigilâncias sanitárias dos aeroportos e das cidades onde casos de variantes foram detectadas”, afirma. O Estadão mostrou nesta quarta-feira que apenas um entre 18 dos maiores aeroportos do País possui uma barreira sanitária operante. O único com essa estrutura em funcionamento é o terminal de Congonhas, na zona sul de São Paulo. 

Testagem 

Outro ponto essencial para o controle da variante Delta, na visão de Silva, é detectar precocemente os infectados. “As pessoas precisam estar vigilantes e buscar espontaneamente pelos testes, para evitar contaminar as pessoas que amamos ou as com quem convivemos no trabalho, por exemplo", sugere. 

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No caso de aparecimento de sintomas, Eduardo Macário orienta o indivíduo a buscar imediatamente uma unidade de saúde, onde deve ser examinado e testado. Feito isso, é necessário manter-se isolado e comunicar as pessoas com quem teve contato nas últimas 48h sobre a possibilidade de estar contaminado.

A adoção de estratégias de testagem pelo poder público e por empresas é outra frente importante para monitorar o espalhamento do vírus. Países bem-sucedidos na contenção da pandemia, como a Nova Zelândia, apostaram nesse tipo de ação. No Brasil, entretanto, o governo federal falhou na implementação de programas de testagem e chegou a deixar cerca de 6,8 milhões de exames encalhados no estoque, como revelou o Estadão

Vigilância genômica 

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Diante da quantidade significativa de casos assintomáticos da covid-19, Macário acredita que conter uma variante só por meio de barreiras sanitárias pode encontrar dificuldades. “No momento em que estamos, de alta transmissibilidade, a melhor medida é investir em vigilância genômica”, aponta o epidemiologista. 

Como explica Silva, a vigilância genômica é o “sequenciamento genético de cepas infectantes”. Ao sequenciar o coronavírus, ambos os especialistas acreditam ser possível prever e conter o avanço de novas variantes no País. O Brasil, no entanto, não tem estrutura robusta de laboratórios que consiga fazer o sequenciamento em várias regiões e com a velocidade necessária. 

Vacinação 

Como explica Eduardo Macário, conter o avanço de uma variante não é uma tarefa fácil. Nesse sentido, destaca que aumentar a cobertura vacinal do País contra a covid-19 pode ser crucial. “Acelerar a vacinação significa evitar a necessidade de hospitalização de um paciente”, diz.

Silva concorda com ele e acrescenta a necessidade de discutir mais sobre a possibilidade de encurtamento do intervalo de aplicação entre as duas doses do imunizante contra a covid-19. 

No Brasil, as vacinas da AstraZeneca e da Pfizer têm intervalo entre doses de até três meses; a Coronavac, por sua vez, respeita período máximo de 28 dias. Em São Paulo, o governo estadual já cogita reduzir o período entre doses, conforme declarou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, na quarta-feira,, 7.  Pelo menos cinco Estados já resolveram adotar essa estratégia. 

Medidas de prevenção 

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Diante da dificuldade de decretar um lockdown nacional para frear o vírus, Silva e Macário reforçam a necessidade do uso adequado de máscaras, da manutenção do distanciamento social, da higienização frequente das mãos com álcool em gel 70º e de evitar deslocamentos não essenciais. As medidas devem ser adotadas mesmo entre aqueles que já estão com a imunização completa. 

Tendo em vista a alta transmissibilidade da Delta, o superintendente em vigilância sanitária de Santa Catarina afirma ser perigosa toda atividade que exija retirar a proteção facial, como ingerir alimentos em locais públicos, por exemplo. A máscara utilizada, no entanto, não pode ser qualquer uma. “É preciso usar uma proteção facial com filtragem adequada, não as de pano”, recomenda Silva. Na opinião dele, a peça ideal é a PFF2, também conhecida como N95. 

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