OMS suspende temporariamente o uso de hidroxicloroquina em ensaio clínico internacional

Segundo a instituição, a decisão foi baseada em estudo publicado no The Lancet e será revisada nas próximas semanas; organização também afirma que o Brasil precisa de isolamento social mais rígido

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Por Mariana Hallal
Atualização:

O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, afirmou em coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira, 25, que o uso da hidroxicloroquina está suspenso no ensaio clínico Solidariedade (Solidarity). A decisão foi baseada em um estudo publicado no The Lancet e será revisada nas próximas semanas. Atualmente, 3,5 mil pacientes de 17 países foram inscritos na pesquisa global da entidade. Durante a coletiva, a organização também recomendou que o Brasil adote medidas de isolamento social mais rígidas.

Caixa do remédio sulfato de hidroxicloroquina, conhecido como Reuquinol. Foto: Márcio Pinheiro/SESA

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De acordo com Adhanom, o Grupo Executivo do estudo Solidariedade se reuniu no último sábado para tratar do assunto. No encontro, ficou decidido que o uso da hidroxicloroquina será suspenso até que se consiga fazer uma "análise abrangente e avaliação crítica de todas as evidências disponíveis globalmente". 

"A revisão irá considerar os dados coletados até o momento pelo estudo Solidarity e, em particular, os dados disponíveis randomizados e robustos, para avaliar adequadamente os possíveis benefícios e malefícios desse medicamento", afirmou.

Michael Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, garantiu que a suspensão não está ligada a nenhum problema com o ensaio clínico em si. “Estamos agindo com cautela”, afirmou.

Na contramão das recomendações internacionais, o Ministério da Saúde do Brasil liberou a prescrição do medicamento para pacientes em estágio inicial da covid-19. Com a mudança, médicos da rede pública de saúde estão autorizados a receitar a cloroquina associada ao antibiótico azitromicina logo aos primeiros sintomas da doença. A droga pode causar efeitos colaterais graves, como parada cardíaca.

Além da hidroxicloroquina, o estudo da OMS usa o remdesivir; uma combinação de dois medicamentos para o HIV, lopinavir e ritonavir; e a mesma combinação mais interferon-1A, um mensageiro do sistema imunológico que pode ajudar a paralisar vírus. Segundo a organização, os outros três medicamentos seguirão sendo testados normalmente.

Brasil deve adotar medidas mais rígidas de isolamento 

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Tedros Adhanom disse que a epidemia está se espalhando como um "incêndio florestal" no Brasil, assim como aconteceu na China e em alguns países da Europa. "O vírus se propaga rapidamente e, ao mesmo tempo, é assassino", afirmou. Ele disse que para vencer o coronavírus é preciso tomar atitudes mais rápidas do que a sua propagação. Para isso, chegou a mencionar o lockdown como uma alternativa para o país conseguir controlar a epidemia.

“Precisamos do tão falado lockdown, ou distanciamento social, para nos preparar e avançar mais rápido que o próprio vírus”, disse.

Michael Ryan reforçou a necessidade de o Brasil tomar medidas mais rígidas. Ele falou que sabe do impacto econômico causado por um isolamento total, mas disse que talvez não haja outra alternativa para o País. O objetivo dessas medidas rígidas, explicou, é permitir que o país tenha a capacidade de testar e identificar casos positivos e seus contatos. Assim, a pandemia poderia ser controlada. “Em muitos países, estão isolando todo mundo para conseguir fazer isso”, apontou.

“Se as medidas de isolamento não forem levadas a sério, a velocidade de transmissão do vírus será rápida", afirmou Adhanom.

O presidente Jair Bolsonaro já se manifestou contra o isolamento total da população em diversas ocasiões. Ele defende o isolamento vertical, uma alternativa que isola apenas as pessoas pertencentes ao grupo de risco da doença, e a reabertura total do comércio. Bolsonaro também já pediu o fim de medidas de quarentena e lockdown decretadas por diversos governadores e prefeitos que tentam conter localmente a epidemia.

Na semana passada, a OMS classificou a América do Sul como o novo epicentro da pandemia e alertou para a escalada no número de casos e mortes no Brasil.

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