Quem decide a alta é só o médico, diz presidente do Cremesp

Mario Jorge Tsuchiya comentou o caso do paciente que deixou o Hospital São Paulo por vontade própria. Para ele, a instituição deveria fazer um boletim de ocorrência relatando evasão

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Por Renata Cafardo
Atualização:

A alta é uma prerrogativa do médico e pacientes não podem decidir quando sairão do hospital. Essa é a opinião do presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), Mario Jorge Tsuchiya, ao comentar a saída de um paciente suspeito de coronavírus do Hospital São Paulo, na zona sul da capital, nesta quinta-feira. 

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Como o Estado revelou, o paciente voltou esta semana de uma viagem à Itália e apresentou sintomas de gripe. O primeiro exame para coronavírus deu negativo, mas ele foi colocado na área de isolamento da instituição e aguardava o resultado da contra-prova, um segundo teste feito pelo Instituto Adolfo Lutz

Foi quando o homem resolveu ir para a casa. "Quem determina a alta é o médico, enquanto ele estiver no hospital a responsabilidade é do hospital. Se não teve alta, algum motivo teve para ele ficar", diz Tsuchiya. Para ele, o Hospital São Paulo "teria a obrigação" de fazer um boletim de ocorrência relatando a evasão do paciente para se resguardar de ser responsabilizado depois. "Configura uma evasão de um local que ele deveria estar para própria segurança e para a segurança da sociedade", completa.

Mario Jorge Tsuchiya, presidente do Cremesp Foto: FELIPE RAU/ESTADAO

Ao comentar o caso em coletiva de impresa nesta sexta-feira, o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, disse que o Ministério da Saúde vai orientar os hospitais e unidades de saúde a irem atrás de pacientes suspeitos de infecção pelo novo coronavírus que abandonarem os exames.

O protocolo, segundo o secretário, será tentar identificar o destino do paciente e investigar onde esteve e com quem manteve contato. “O fato de ter dado negativo não significa que é coronavírus”, ressalvou Oliveira. “Não estamos vivendo uma epidemia, vamos com calma. Ele (paciente) ficará em isolamento respiratório (domiciliar) se necessário”, disse.

Um familiar do paciente que conversou com a reportagem afirmou que ele deixou o hospital porque foi "negligenciado" e chegou a fazer um boletim de ocorrência relatando o ocorrido. Ele teria ficado sem cobertores e sem comida. Também não teria sido informado corretamente dos procedimentos adotados. O paciente não quis dar entrevista e pediu para não ter seu nome publicado. Segundo este familiar, ele passa bem e está sendo assessorado por médicos particulares. 

Procurado, o Hospital São Paulo informou, em nota, que "houve cuidado e respeito ao paciente e foram seguidas as recomendações oficiais para a assistência ao paciente em risco de infecção pelo coronavirus". Não foi informado se a instituição registrou a saída do paciente. A nota do hospital diz ainda: "O paciente evoluiu com melhora do estado geral, afebril durante a internação. Os exames laboratoriais e radiografia de tórax foram normais. Permaneceu internado aguardando os resultados da pesquisa viral. Por questões pessoais, o paciente não aceitou ficar internado, e encontra-se em sua residência sob acompanhamento da Unidade de Vigilância Sanitária do Município."

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Na noite desta sexta-feira, o hospital também informou que está em contato constante com o paciente e que ele está em isolamento domiciliar "em função do referido paciente apresentar quadro clinico compatível com a recuperação em residência". 

Para o advogado Fabricio Angerami Poli, especialista na área de saúde, é de responsabilidade da instituição manter o paciente em observação para que não haja uma evasão. "Se ele saiu sem avisar o médico, difícil responsabilizá-lo, mas a institutição deve ter responsabilidade sobre o paciente, o médico não fica o tempo todo com ele. Em um caso como esse, o paciente deveria ter sido observado mais de perto."

Segundo ele, o caso é muito delicado e a legislação não deixa claro qual deveria ser a conduta do médico no caso da evasão. A medida provisória editada pelo governo Bolsonaro, e transformada em lei, este mês fala em  "realização compulsória" de exames, testes laboratoriais e tratamento médico. "A lei não deixa claro se deveria segurar o paciente nesse caso, mas na minha interpretação, ele deveria fica no hospital até o último resultado."

Em Paraty, a Justiça do Estado do Rio aceitou um pedido do município nesta sexta-feira para manter em internação hospitalar compulsória um casal de franceses com suspeita de ter contraído coronavírusEles queriam deixar a cidade, apesar de estarem em isolamento e esperando resultados de exames. 

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